Arquivo de Janeiro 2014

LUA

Janeiro 31, 2014

Por  Rita de Cássia Alves

Ai de mim

Magnânima lua

Embaixo das nuvens

Sob a lança das tempestades

Ai de mim

Lua dos vendavais

E sua espádua de prata

Punhais

Ai de mim

Lua cheia imensa

Sorrindo para o escárnio

Do meu tempo

Ai de mim

Espeleográfica lua

Em meus sonhos

Transversais

Lua que apunhala

E cega

Arranhando meus olhos

De tanta beleza

A importância do jejum

Janeiro 28, 2014

por Felipe Aquino

Essa prática deve ser acompanhada de mudança de vida

Essa prática deve ser acompanhada de mudança de vida

A Igreja chama o jejum, a esmola e a oração de “remédios contra o pecado”; pois cada uma dessas atividades, a seu modo, nos ajudam a vencer o maior mal deste mundo, o pecado. A oração nos fortalece em Deus; a esmola (obras de caridade) “cobre uma multidão de pecados”; e o jejum fortalece o nosso espírito contra as tentações da carne e do espírito e nos liberta e abre para os valores superiores da alma.
“Ordenai um jejum” (cf. Jl. 1, 14). São as palavras que ouvimos na primeira leitura da Quarta-feira de Cinzas, quando começa a Quaresma. O jejum no tempo quaresmal é também a expressão da nossa solidariedade com Cristo, preso, torturado, flagelado, coroado de espinhos, condenado à morte, crucificado e morto.

Ao jejuar devemos concentrar-nos não só na prática da abstenção do alimento ou das bebidas, mas no significado mais profundo desta prática. O alimento e as bebidas são indispensáveis para o homem viver, disso se serve e deve servir-se, mas não lhe é lícito abusar, seja da forma que for. O jejum tem como finalidade nos levar a um equilíbrio necessário e ao desprendimento daquilo que podemos chamar de “atitude consumística”, característica da nossa civilização.

O homem orientado para os bens materiais, muitas vezes, abusa deles. Hoje, busca-se, acima de tudo, a satisfação dos sentidos, a excitação que disso deriva, o prazer momentâneo e a multiplicidade cada vez maior de sensações. E isso acaba gerando um vazio no coração do homem moderno; pois sem Deus ele não pode se satisfazer. O barulho do mundo e o prazer das criaturas não conseguem preencher o seu coração.

A criança hoje (e também muitos adultos) vive de sensações, procura sensações sempre novas… E torna-se assim, sem se dar conta, escrava desta paixão atual; a vontade fica presa ao hábito, a que não sabe se opor.

O jejum nos ajuda a aprender a renunciar a alguma coisa. Ele nos faz capazes de dizer “não” a nós mesmos, e nos abre aos valores mais nobres de nossa alma: a espiritualidade, a reflexão, a vontade consciente. Essa prática nos coloca de pé e de cabeça para cima. Há muitos que caminham de cabeça para baixo; isso acontece quando o corpo comanda o espírito e o esmaga. É o prazer do corpo que o comanda e não a vontade do espírito.

É preciso entender que a renúncia às sensações, aos estímulos, aos prazeres e ainda ao alimento ou às bebidas, não é um fim em si mesmo, mas apenas um “meio” que deve apenas preparar o caminho para conquistas mais profundas. A renúncia do alimento deve servir para criar em nós condições para podermos viver os valores superiores. Por isso o jejum não pode ser algo triste, enfadonho, mas uma atividade feliz que nos liberta.

Os Padres da Igreja davam grande valor ao jejum. Diz, por exemplo, São Pedro Crisólogo (†451): “O jejum é paz do corpo, força dos espíritos e vigor das almas” e ainda: “O jejum é o leme da vida humana e governa todo o navio do nosso corpo” (Sermão VII: sobre o jejum, 3.1).

Santo Ambrósio (†397) diz: “A tua carne está-te sujeita (…): Não sigas as solicitações ilícitas, mas refreia-as algum tanto, mesmo no que diz respeito às coisas lícitas. De fato, quem não se abstém de nenhuma das coisas lícitas, está também perto das ilícitas» (Sermão sobre a utilidade do jejum, III. V. VII). Até escritores que não pertencem ao Cristianismo declaram a mesma verdade. Esta é de alcance universal. Faz parte da sabedoria universal da vida.

O Mahatma Gandhi dizia:

“O jejum é a oração mais dolorosa e também a mais sincera”. “Cada jejum é a oração intensa, purificação do pensamento, impulso da alma para a vida divina, a fim de nela se perder”. “O jejum é para a alma o que os olhos são para o corpo”. (Toschi, Tomas – Gandhi mensagem para hoje, Editora mundo 3, pag. 97, SP, 1977).

O jejum confere à oração maior eficácia. Por ele o homem descobre, de fato, que é mais “senhor de si mesmo” e que se tornou interiormente livre. E se dá conta de que a conversão e o encontro com Deus, por meio da oração, frutificam nele.
Assim, essa atividade não é algo que sobrou de uma prática religiosa dos séculos passados, mas é também indispensável ao homem de hoje, aos cristãos do nosso tempo.
A Bíblia recomenda muito o jejum, tanto o Antigo como o Novo Testamento; Jesus o realizou por quarenta dias no deserto antes de enfrentar o demônio e começar a vida pública; e muito o recomendou. “Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum” (Mt 17,20).

“Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos” (Tb 12,8).

O nosso jejum deve ser acompanhado de mudança de vida, de conversão, de arrependimento dos pecados e volta para Deus. O profeta Isaías chamava a atenção do povo para isso:

“De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários”. Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz. O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo” (Is 58,3-6).

Cada um de nós tem a própria individualidade; por isso, cada um deve realizar a forma de jejum que mais lhe seja adequada. Este livro prático do monsenhor Jonas Abib, sobre o jejum, ajudará você a buscar a forma correta de viver esta prática espiritual tão importante.

 

Senhora do Adro

Janeiro 27, 2014

“Estava eu nestas meditações, começou um rouxinol a mais linda e desgarrada cantiga que há muito tempo me lembra de ouvir.”

 Almeida Garrett

(Viagens na Minha Terra)

 Maria do Adro

(a Camilo Castelo Branco)

por Raquel Naveira

Sou Maria do Adro,

O adro da igreja

Ajardinado,

Por onde se anda

E se beija.

 

Maria do Adro,

Camilo,

Aquela a quem deste um amor de perdição;

Foi a queda de um anjo,

Quando me tomaste em teus braços

Para senti-lo.

Eu tremia, lembra?

Quanta esperança e desalento!

Só me restará depois o convento

E a ti, o exílio;

_“É a paixão”, sussurravas

Entre meus mamilos.

 

No fim da paixão,

No vácuo,

No vazio,

Que suporte espiritual

Será capaz de assisti-lo?

 

 

O Escritor Baiano Cyro de Mattos Lança “Um Grapiúna em Frankfurt”

Janeiro 27, 2014

Capa do Livro Cyro MattosO escritor Cyro de Mattos está lançando o livro “Um Grapiúna em Frankfurt e outras crônicas” (Dobra Literatura).  A obra conta com 50 crônicas, algumas inéditas e outras publicadas semanalmente no “Diário da Bahia”, do sul da Bahia. Este é o quarto livro de crônicas do escritor, que possui obras em diversos gêneros. O livro tem capa do desenhista baiano Sante Scaldaferri e prefácio do poeta paulista Álvaro Alves de Faria.

Segundo Alves de Faria, “o poeta deixou que passasse à sua frente esse tempo que ainda vive no que guarda da sua criação da Beleza, buscando lá atrás as cenas que ainda existem, porque fazem a história de cada dia. Por isso tudo, este livro é obra rara no vale de lágrimas destes tempos brasileiros que só invertem os valores e isso inclui também a literatura, que deveria ser a identidade de um povo”.

Cyro de Mattos tem 75 anos de idade e estreou na literatura ainda em 1966. Para este ano de 2014, tem previsto os lançamentos de livros infantis, um romance juvenil e um romance para adultos. A Editora da Universidade da Bahia deve ainda publicar a segunda edição do “Cancioneiro do Cacau”, livro que rendeu prêmios literários ao escritor inclusive no exterior.

 

 

 

A COERÊNCIA DA PRESIDENTE

Janeiro 24, 2014

por Ives Gandra da Silva Martins

Numa real democracia, o respeito às opiniões divergentes é um direito fundamental, pois, no dizer de John Rawls,  “teorias não abrangentes” podem conviver, apesar de suas diferenças, o que não ocorre com as “teorias abrangentes”, próprias das ditaduras, em que se impõe uma única visão política a ser seguida por todos. Não no seu mais conhecido livro (Uma teoria da Justiça), mas na obra “Direito e Democracia”, desenvolveu o tema de que todas as teorias impositivas que não permitem diálogo conformam ideologias totalitárias e não são democráticas.

Respeito, como eleitor e cidadão, as posições da presidente, que, em sua juventude, foi guerrilheira na companhia de muitos outros, alguns treinados em Cuba, e mesmo terroristas, pois lançaram bombas em “shoppings”, matando inocentes. Um de seus amigos mais íntimos e meu amigo, apesar de nossas inconciliáveis divergências, –José Dirceu– declarou, certa vez, que se sentia mais cubano que brasileiro.

O seu apoio permanente à ditadura cubana é, portanto, coerente com seu passado de lutas políticas, como o fez com relação às semiditaduras da Venezuela e da Bolívia.

O caso de Cuba, todavia, tem conotações extremamente preocupantes, na medida em que o governo brasileiro financia, através da Campanha de “Mais Médicos” – que poderia também ser intitulada de “Mais Médicos Cubanos”- uma ditadura longeva, que se alicerçou num rio de sangue, quando Fidel Castro assassinou, sem julgamento e sem defesa, em seus “paredons”, milhares de cidadãos da Ilha, para instalar a sua ditadura. Chegou a ser chamado por estudantes da Faculdade de Direito da USP de “Fidel Paredon Castro”. Até hoje, seus habitantes não têm direito a circular livremente pelo país e, quando conseguem autorização para viajar ao exterior, seus familiares permanecem como “reféns”, para garantia de seu retorno. E a pretendida abertura econômica para comprar carros comuns por 250 mil dólares é risível para um povo que ganha –mesmo profissionais habilitados—  em média de 20 a 50 dólares por mês. É o país mais atrasado, economicamente, das Américas.

O Estado de S. Paulo, à página 3 do dia 11/01/2014, noticiou que o referido programa prevê a “importação” de 10.000 médicos de Cuba –contra pouco mais de 500 de outros países–, os quais ganharão menos que os demais estrangeiros, pois o governo brasileiro paga seu salários diretamente à Cuba, que lhes devolve “alguns tostões”, apropriando-se do resto.

Impressiona-me que o Ministério Público do Trabalho não tenha tomado, junto aos Tribunais Superiores, medida para equiparar o pagamento, no Brasil, destes cidadãos cubanos, que atuam rigorosamente da mesma forma que seus colegas de outros países, ganhando incomensuravelmente menos.

Causa-me também espanto que uma pequena ilha possa enviar médicos em profusão. Talvez, ai esteja a razão para que o  governo brasileiro não aceite o revalida para tais profissionais, deixando fundadas suspeitas, de que teme sua  reprovação, por não serem tão competentes quanto os médicos brasileiros obrigados a se submeterem a esse exame para a avaliação de sua competência.

O que mais me preocupa, todavia, é que, enquanto, para meros efeitos eleitorais, o governo brande a bandeira de “Mais Médicos cubanos” financiadores da ditadura do Caribe, o SUS não é reatualizado há mais de 15 anos. Os médicos brasileiros que atendem a população, sob esse sistema, recebem uma miséria como pagamento de consultas e de operações cirúrgicas, assim como os hospitais conveniados. A não atualização dos valores pagos pelo SUS, em nível de inflação, por tão longo período, tem descompensado as finanças de inúmeras instituições hospitalares privadas vinculadas a seu atendimento.

De tudo, todavia, o que me parece mais absurdo é que o financiamento à ditadura cubana, calculado pelo jornal “O Estado”, supera 500 milhões de dólares, estando a fortalecer um regime que há muito deveria ter sido combatido por todos os países da América, para que lá se implantasse a democracia. Tal amor à ditadura caribenha demonstra a monumental hipocrisia dos ataques ao Paraguai e a Honduras, por terem, constitucional e democraticamente, afastado presidentes incompetentes ou violadores da ordem jurídica dominante. Assim é que o artigo 225 da Constituição paraguaia permite o “impeachment” por mau desempenho, como nos governos parlamentares, e o artigo 239 da Constituição hondurenha determina a cassação do presidente que pretender defender a reeleição. É que a forma como foram afastados estava prevista no texto constitucional aprovado, nestas nações, democraticamente.

Como presidente do País, a presidente Dilma merece respeito. Dela divirjo, entretanto, desde a sua luta guerrilheira, que atrasou a redemocratização do Brasil, obtida, por nós, advogados, com a melhor das armas, que é a “palavra”. E considero que seu permanente fascínio pelas ditaduras ou semiditaduras, como as de Cuba, Venezuela e Bolívia, é perigoso para o Brasil, principalmente quando leva à adoção de medidas como a “operação de mais médicos cubanos”, pois fora de nossas tradições democráticas.

Valeria a pena a presidente refletir se tais medidas, de nítido objetivo eleitoreiro, não poderão se transformar, ao longo da campanha, em arma contra o próprio governo, mormente se os candidatos de oposição se dedicarem a explorar o fato de que, o que se objetiva mesmo é financiar este regime totalitário. A campanha “Mais Médicos” poderá se transformar no mote “Mais dinheiro para a ditadura cubana”, pondo em evidência não o interesse público do povo brasileiro, mas a coerência da presidente com seu passado guerrilheiro, gerando dúvidas sobre seu apreço aos ideais democráticos.

As PPP e a crise do Sistema Prisional

Janeiro 22, 2014

Por Saulo Krichanã Rodrigues

A revelação do cenário macabro das execuções no Presídio de Pedrinhas, no Maranhão, expôs a todos o que os presídios transformados em depósitos de presos já não conseguiam mais represar: morte de pelo menos dois presos ao dia; controle externo do ambiente prisional por parte do crime organizado; possível extensão deste esquema de terror e de poder paralelo para submissão e subordinação de todas as células que fazem gravitam em torno do sistema prisional, envolvendo desde as famílias dos presos até aqueles que são responsáveis pela guarda das celas e dos presídios, passando pelo poder judiciário e pelo sistema de segurança pública.

Sem contar a robusta rede de interesses econômicos e financeiros formada para sustentar, dentro e fora das prisões, as atividades das várias facções que rivalizam e disputam o controle e primazia deste perverso sistema que nasceu das sombras tanto da omissão de politicas públicas de justiça e segurança quanto de um ranço cultural acostumado a jogar para baixo do tapete quaisquer questões sociais que envolvam questões de igualdade e inclusão.

Desta vez, seja pela rudeza dos fatos, seja pelo calendário de eventos que colocam o país sob os holofotes do mundo ou, ainda, pelos ditames do cronograma eleitoral que já está a pulsar mais fortemente, os detalhes dantescos se multiplicaram nos sites da imprensa estrangeira e pelas entranhas das redes sociais. Demandou, também, pedidos de explicações da ONU e da OEA. Só não parece ter comovido – talvez pela inercia – o planalto central e os palácios localizados nas planícies estaduais.

Para muitos, a herança maldita cevada por irrelevâncias de verbas, justifica a segunda maior população carcerária do mundo (500 mil presos), amontoada em pouco mais de 300 mil vagas, sem contar outros 300 mil “presos virtuais” que não cumprem suas penas porque inexistem vagas para o chamado regime semiaberto ou outros 60 mil que não encontram mais lugar disponível na carceragem das já entulhadas delegacias de polícia.

Na sua dimensão apenas econômica – talvez a de menor importância relativa, vis a vis à dimensão humana e de justiça social que esta questão encerra – o desafio não é de todo intransponível.

 Requer, por óbvio, decisão política e compromisso que transcende partidos ou opções ideológicas.

Estas 870 mil pessoas (0,5% da população brasileira), antes de passarem para esta vil condição de reclusos reais, virtuais ou potenciais, já custaram ao país (apenas em gastos básicos de saúde e educação, com parâmetros da OMS e do FUNDEB) por volta de R$ 48 bilhões em 12 anos de vida pré-produtiva.  Em outros 12 anos de vida produtiva, teriam gerado R$ 72 bilhões de renda, gerando ao país um “ganho” ou “ressarcimento” das politicas públicas e de saúde, por volta de R$ 24 bilhões.

Um investimento em presídio, via a modalidade de concessão administrativa das Parcerias Público Privadas (PPP), para 300 presos custa por volta de R$ 30,0 milhões. E custa R$ 4 mil reais ao mês para amortizar o CAPEX e o OPEX da unidade prisional (na proporção de 1:3). A taxa interna de retorno real do projeto é da ordem de 8,5% real ao ano.

Para se criar as 600 mil vagas em prisões seriam necessários recursos da ordem de R$ 30 bilhões.

Se com a ressocialização, cada egresso estivesse preparado para acessar o mercado de trabalho e recebesse uma renda mensal equivalente a R$ 2 mil reais, após 12 anos terão gerado R$ 36,7 bilhões de renda pelo seu trabalho.

 Os Estados que possuem maior necessidade de investimentos nessas áreas, todavia, são exatamente aquele que não dispõem de recursos para cobrir o custo mensal para custeio de vagas ou para constituir os Fundos Garantidores demandados nas operações de PPP.

Claro está, portanto, que a questão prisional – até pela escala de horrores que atingiu e pela repercussão supranacional a que ascendeu – transcende prioridades locais ou regionais.

E se constitui em mais uma das muitas chagas nacionais, que só pode ser superada pelo consórcio entre os três níveis de governo e o setor privado interessado em empreender ações de investimento para construir, operar, manter e ressocializar unidades prisionais que sejam capazes de, simplesmente (sic), atender e cumprir a Lei de Execuções Penais (LEP) reduzindo a alta reincidência (entre 70% a 80%) existente no sistema prisional.

Buscando transformar presos em, novamente, cidadãos.

Oficina Temática Inês de Castro 2014 – Origami do Amor

Janeiro 22, 2014

oficina fevereiro_2014

O Depto Cultural do Clube Português, apresenta na programação de fevereiro o projeto cultural “Cartas para Inês de Castro” da Organização Neo Humanitarismo Universalista, ONH-U, cuja finalidade almeja compartilhar a defesa dos Direitos das Mulheres com a difusão da emocionante história de Inês de Castro, por intermédio da realização da Oficina Temática Inês de Castro.

O projeto oferece uma oportunidade às mulheres brasileiras, entrar em contato com a literatura portuguesa através de um episódio medieval qual há séculos comove o mundo: a história de amor de Pedro & Inês.

A programação conta com a oficina “Origami do Amor”, com Júlia Mikita e Alexandra Pawlak e “A Última Noite de Inês de Castro”, monólogo com Jam Pawlak.

Inscrições abertas de 21/1 até 7/2, das 10h às 16h no telefone 3663-5953 ou biblioteca@clubeportuguessp.com.br 
Serviço:

Data: 9 de fevereiro de 2014

Horário: das 15h às 18h

Local: Rua Turiassú, 59 – Perdizes

3663-5953

biblioteca@clubeportuguessp.com.br

Entre mitos e lamúrias

Janeiro 21, 2014

por Nilto Maciel

Imagem texto Nilto MacielEntreguei a Cleto Milani quatro livros: Cila (Cabedelo: Edição do Autor, 2013), de Ronaldo Monte; La otra oscuridad/A outra obscuridade (Mossoró: Sarau das Letras, 2013), de Luis Raúl Calvo;Vento da tarde/ Viento de la tarde (Mossoró: Sarau das Letras, 2013), de Rizolete Fernandes; e Os ossos da baleia (Vitória: SECULT, 2013), de Jorge Elias Neto. Após a leitura, trocaríamos umas ideias. Talvez a tanto não chegássemos, tão atarefado ando com meu rebanho de letras. Então se aprontasse para redigir uma resenha ou crônica. Ele sorriu. Precisa muito de incentivos desse tipo. Como se pudesse dizer ao mundo: Vejam, também sou crítico e cronista.

No sábado passado, ele apareceu. Estacionou o carro diante do portão de minha choupana e, durante cinco minutos, nos dedicamos à maluquice do trânsito de veículos, ao calor e à seca, aos assaltantes e seus asseclas da polícia, etc. O escrevinhador de resenhas espalhou os quatro volumes sobre a mesinha. Pegou o primeiro: Cila, de Ronaldo Monte. E se perdeu em parolagem sem fim. Anotei algumas frases:

“Cila, ninfa da mitologia grega, recriada por um alquimista brasileiro em pleno século XXI. E daí? Todo bardo da genealogia dos imortais, pelo menos uma vez na vida, teve esse gesto (inspiração) de recontar trecho da ‘vida’ de algum deus, alguma ninfa ou divindade superior. Ontem muito; hoje menos. De onde teria vindo o estímulo propício à elaboração do cântico consagrado a Cila? ‘Caminhava na praia entre o mar e a falésia quando avistei sobre as pedras um vulto que me pareceu de uma mulher’. Está dada a explicação? Se caminhou mesmo, se sonhou, se imaginou, não importa. Interessa-nos apenas a realidade do afresco, sua existência. Fez-se e está aí exposto ao deleite dos leitores”.

Dez minutos depois, Cleto se ergueu do sofá e passeou pela sala. Deu duas voltas, a bufar e mirar o imensurável das ideias. Ainda azedo, voltou ao assento. Agarrou Os ossos da baleia, de Jorge Elias Neto. Consegui anotar apenas isto: “Os temas frequentados pelo menestrel são os mais variados, desde a moça a sonhar até a tragédia de Realengo (a da carnificina praticada por um louco numa escola). Jorge não se omite ou não tem medo. O feiticeiro (seja do verso ou do traço na tela, do risco, do bordado ou da nota musical) ou mágico, medroso ou incapaz de se afastar das pilastras dos templos e das instituições, não será verdadeiro ou autêntico, nem quando se servir da muleta da metáfora”. 

Chegada a minha vez de espairecer, dirigi-me até a porta e ergui a cabeça na direção do último andar do prédio recentemente construído ao lado da casa onde vivo. O devasso morador do Benfica falava de Vento da tarde: “A poesia de Rizolete neste novo impresso parece mais compacta ou mais enxuta, se for possível uma poesia molhada, gorda, rotunda. Nem chega a ser poesia, se assim for. Os primeiros versos (‘Remissão’) têm essa quase densidade (será possível ou imaginável a quase densidade?). Vejamos: ‘Ah, esses negros olhos do querer / esse sorriso / que acende n’alma / o sonho e anima / o ofício de viver!’ São três as estrofes nesse diapasão, nesse narrar da entrega amorosa. A seleta está em duas línguas, a nossa e a de Cervantes”. 

Enquanto um gato percorria a extensão do muro, no rumo do quintal, o visitante se pôs a comentar La otra oscuridad: “Não são raras as incursões de Luis Raúl Calvo pelo território da arte maior, não apenas literária (Victor Hugo e Shakespeare), em alusões claras, mas também da pintura, de Van Gogh a Goya, em estudado ou voluntarioso adentrar na seara dos mais admirados criadores: ‘Siempre fue así y ella lo intuye / desde el calvario de Otelo y Desdémona’. Essa intertextualidade ou esse difícil exercício imposto ao leitor inexperiente, conduzido entre ramagens, é, na verdade, um passeio pela mais polida trilha da poesia”.  

Quando cuidei, comentava de novo a obra de Ronaldo: “Se composições poéticas não podem ser parafraseadas ou ditas em outras palavras, como se explica o feito desse vate? A ideia (o mito) é antiga, vem da Grécia. Ronaldo não está preocupado com teorias; espera por respostas às suas indagações elementares e ônticas. Sonha com visitar o templo dos deuses elementares e seu mistério. Por isso, ‘Como veio aportar nesta praia, / ao pé desta falésia sobre as pedras / que se juntam em leito / onde sonho e tempo parecem morrer?’” 

Meu amigo passou a’Os ossos da baleia: “Em Jorge o canto se constrói num ritmo alucinante, em frases curtas, diretas ou certeiras, mesmo quando envereda pelas mais sombrias ou escorregadias metáforas. Ele não se preocupa em preencher espaços no papel (pode até nem anotar nada em cadernos). Hinos traceja como quem lapida seres mitológicos. Quem sabe, escreve de olhos fechados e, só depois, reproduz no papel os rabiscos imaginados. Em linguagem comum, de prosa, ‘Portal dos anjos’ seria assim: ‘Anjos, dou-lhes de presente a minha sanidade. Sei o que me custará rolar a cabeça no acaso… Anjos de poeta não implodem, esvaem-se na cabeceira da cama do menino, retornam para a dimensão do sonho que se teve e se dispersou com a razão. Retribuo com o poema a vigília e peço que devolvam a Paulo o Patibulum e a culpa’. Esse, sim, não tem piedade de si mesmo nem medo de afrontar os deuses, os patíbulos, sejam eles de antigamente, sejam de hoje”.  

Senti vontade, mais uma vez, de me movimentar, e me pus de pé. Meu comensal se irritou: “Sente-se e anote”. Obedeci. E anotei isto: “Rizolete veleja bem pelo lirismo mais subjetivo: queixumes de mulher (‘quando anunciaste que te ias’, como nos esquecidos boleros e canções) ou lamúrias humanas de qualquer tipo (‘ao fim do dia / cinza e ouro / para receber / da noite / a travessia / sempre açoite / sempre festim / de taça única / e múltiplos brindes / à agonia / de só ser’.)” 

Ainda imobilizado, ouvi outro comentário à tecelaria verbal de Luis Raúl Calvo: “Também praticante do verso livre, Luis percorre, com liberdade, o território físico de sua Buenos Aires, com seus personagens, ou consigo mesmo, desde a infância, o pretérito mais remoto, em sonhos e aventuras. Às vezes, se perde na própria narração e faz crônica do cotidiano, dos acontecimentos banais (como em ‘Crimen pasional en la Calle Tres Arroyos’)”. 

Convidei meu conterrâneo a lanchar. Bastava de poesia naquela tarde. Chamei Alice: “Se não lhe for incômoda a pergunta, temos suco de maçã?” Vi um leve sorriso em seus olhos (pois nunca me leva a sério): “Temos torta de banana e damasco e suco de mamão com laranja”. Arrastei o vovô pelo braço: “Pois nos sirva, que este ancião está a morrer de sede e fome”.

TOURO: NUMA LIÇÃO DE AMOR

Janeiro 17, 2014

Por Clariesse Barata Sanches

OS ANIMAIS  SÃO MELHORES DO                   QUE AS PESSOAS

Os animais são melhores do que as pessoas.

-Que tens, meu Amigo? Estás arrependido

De pores as farpas em cima de mim?

Pois eu te perdoo-o e aguento o dorido,

Não quero que chores, tu não és ruim…

A torpe é quem manda tu seres assim

Sentados ali e fazendo alarido

Para me ferires bastante e afim

De ficar exausto e, até, desvalido.

As farpas que tenho me doem no lombo.

Pois sinto-as cá dentro como eu desse um tombo,

Mas custa-me ver-te e aí sem vigor!…

A malta gostou de te ver a farpar,

Mas eu quero olhar-te, contente a brilhar,

Por esta lição que nos deste de Amor?

CULTO AO FADO

Janeiro 16, 2014

por Euclides Cavaco

Imagem texto Euclides CavacoEsta fé que me domina
Em acreditar no fado
É como uma doutrina
Para mim algo sagrado.

Quem tem o fado na alma
Ao dar-lhe o amor seu
O seu coração acalma
E ganha um lugar no céu.

Quem canta está a rezar
O fado com devoção
Em qualquer lado a cantar
Faz do fado sua oração.

Quero soltar as amarras
E confessar um pecado
Só bem junto das guitarras
Verás presto culto ao fado.