0s 150 anos da Beneficência Portuguesa de São Paulo
João Alves das Neves (*)
Fundada por 168 portugueses, a Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência é hoje o maior centro hospitalar privado do Brasil – mantém os hospitais de São Joaquim, fundado em 1876, e o de São José, inaugurado em 2008.
A instituição atende em mais de 50 áreas médicas, tendo criado um Centro de Pesquisa com 37 núcleos nas áreas de cardiologia, urologia, clínica médica , pneumologia, infectologia, nefrologia, vascular, hepatologia e oncologia. Instalou um dos maiores bancos de sangue do pais (coletou 30 mil bolsas de sangue em 2008). Faz diariamente cerca de 40 cirurgias cardíacas. E tem um ícone da modernidade – o hospital São José com 111 leitos (70 para internações), 7 salas de cirurgia, 14 UTIs e 6 semi-intensivas, MED Imagem e um Centro de Diagnósticos – tudo isto foi realizado sem subsídios… O reconhecimento pelo alto nível médico-hospitalar explica a aprovação pelo Ministério da Educação e Cultura, em 1988, dos cursos regulares de Pós-Graduação (Latu Senso) : hoje, são 8 cursos, que já formaram 500 profissionais. Entretanto, o Programa de Residência Medica já diplomou 73 especialistas (de 2001 a 2008) nos domínios da anestesiologia, radiologia, diagnóstico por imagem e otorrinolaringologia, podendo afirmar-se que a “Beneficência”, não sendo uma escola, é um verdadeiro “Hospital de Ensino”.
Num estudo que publicou sobre “O papel da Beneficência Portuguesa e o problema da saúde no Brasil” salientou o engenheiro Antônio Ermírio de Moraes (Presidente desde 1971 até 2008) que a entidade continua “a tradição inaugurada com o significativo amparo que prestou às populações de Santos e Campinas, quando da epidemia da febre amarela de 1889, ocasião em que avultou a figura de Abílio Soares”. Porém, a melhor homenagem que o Dr. António merece do Brasil está justificada nas suas próprias palavras: “Tenho orgulho em sermos um dos poucos hospitais que atendem a todas as classes sociais, incluindo o atendimento a 60% de pacientes pelo Sistema Único de Saúde. Anualmente são mais de 300 mil pessoas beneficiadas com o nosso trabalho que, ao longo de décadas, vem contribuindo para uma vida mais saudável de milhões de paulistanos e brasileiros.”
Falam também por ele os números bem expressivos: nos 6 edifícios da “Beneficência” (área construída de 143 mil metros quadrados), trabalham 6.000 pessoas – entre 1.500 do especialistas do corpo clínico, que dispõe de 64 salas cirúrgicas. São realizadas 20 mil intervenções (incluindo 8 mil cardíacas) e 3.589 transplantes (em 7 áreas). Quanto ao número exato de leitos disponíveis é de 1.920 (com 223 de UTI).
Tamanha ação explica os 4 milhões de exames, em 2008, nos mais diversos setores. E testemunha igualmente as 30 mil cirurgias por ano. Professores de Medicina dão o seu contributo à entidade, que, graças à colaboração dos médicos e de profissionais (técnicos e auxiliares de enfermagem), cumprem a tarefa 4.000 ambicionada pelos 168 portugueses que há 150 anos lançaram as bases de uma associação que ampliou o projeto das Santas Casas de Misericórdia, iniciado pela Rainha D. Leonor, em 1498 (são agora quase 400 em Portugal e 500 no Brasil): o sonho ampliou-se com as “Beneficências” e os seus hospitais brasileiros de espírito lusíada. Como referiu o Presidente Antônio Ermírio de Moraes “a tradição” não morreu.
Decorridos 150 anos, a “Beneficência Portuguesa” cresceu com a cidade de São Paulo. A instituição ultrapassou a fronteira médico-hospitalar, tornou-se patrimônio cultural do Brasil, conforme disse o historiador Pedro Calmon, na conferência que proferiu
( 9-9-1961), no Salão Nobre “Padre Manuel da Nóbrega”: “O que observamos no salão fulgurante da Beneficência Portuguesa é a ilustração dos grandes momentos da história comum, que nos dá a sensação estética de estarmos, não no interior de um imenso estabelecimento hospitalar, mas dentro de um livro de horas, ilustrado e velho livro iluminado com as grandes cenas e os personagens insignes da nossa tradição, – convivendo com as sombras veneráveis dos homens que fizeram o Brasil”. (**).
Lembramos as palavras do historiador brasileiro para homenagear o Dr. Atônio Ermírio de Moraes (***), que tão bem conhece os 33 vitrais do Salão Nobre da “Beneficência”, que documentam exemplarmente a História comum de Portugal e do Brasil.
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(*) Jornalista, escritor e professor de comunicação social, o autor deste artigo foi diretor da Real e Benemérita Associação Portuguesa de São Paulo durante mais de 30 anos e é membro do Conselho Consultivo da entidade luso-paulista. (**) Na fachada principal da entidade há mais 4 belíssimos vitrais e outros 6 iluminam a moderna capela. (***) O atual Presidente da Diretoria é o dr. Rubens Ermírio de Moraes