Arquivo de Dezembro 2009

BOAS FESTAS!

Dezembro 18, 2009

Boas festas!

Menino Jesus do Senhor da Ladeira (Arganil, Portugal - séc. XVIII?)

A equipe dos Círulo Fernando Pessoa e dos blogs desejam a todos os leitores os melhores votos e Boas Festas, com o Natal Feliz e o ano de 2010 cheio de prosperidades.

João Alves das Neves
Fabíola Nese
Conrado Ruggieri

SONETO

Dezembro 18, 2009

Dos Céus à Terra desce a mor Beleza,

Une-se à nossa carne e fá-la nobre;

É sendo a Humanidade dantes pobre,

Hoje subida fica à mor alteza.

Busca o Senhor mais rico a mor pobreza;

Que, como ao mundo o Seu amor descobre,

De palhas vis o corpo tenro cobre,

E por elas o mesmo Céu despreza.

Como? Deus em pobreza à terra desce?

O que é mais pobre tanto Lhe contenta,

Que este somente rico Lhe parece.

Pobreza este Presépio representa;

Mas tanto por ser pobre já merece,

Que quanto mais o é, mais Lhe contenta.

Luís de Camões

Se eu pudesse sempre falar claro

Dezembro 18, 2009
Por Isabel Gouveia

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre a tristeza que reduz os campos a um emaranhado de silveiras, ou descartáveis despojos de florestas teimando em conservar árvores mortas, que morreram de pé com dignidade…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre a futilidade das vivendas desses grandes magnatas, que deslumbram com jardins assinados por autores, vanguarda de arquitectos-paisagistas, com as suas piscinas de águas moles, onde passam as tardes mais amenas ao ritmo de discursos amigáveis, fogo cruzado de ambição e inveja…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre a pseudociência de algumas entrevistas em que se arrotam frases apanhadas nas redes que, em crianças, já serviram a ilustríssimos entrevistados pra caçar as afoitas borboletas, adejantes, volteando em seu redor…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre os fantasmas de geniais poemas que vomitam metáforas sem norte, hermetismo-guindaste para a fama, ou o sucesso que persegue a Arte que ausculta as tendências do mercado…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre um povo com tanta ingenuidade que confia nos slogans da TV, que atende, tão solícito, a menina que explica ao telefone esta mecânica: solicita-se ao Banco algum dinheiro, viaja-se sem culpa pelo mundo, por rotas bem longínquas ou lendárias, e depois se verá como pagar…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre a esperteza que é também saloia, qual droga que alastrou e já domina, ataca o nobre cidadão que mente ao depor sobre amigo em tribunal, ataca muitas vezes altos funcionários e os mais altos dirigentes nacionais, que atingiram as rédeas do poder trepando pela via trapaceira do insulto e da denúncia caluniosa…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre o pendor influenciável das turbas que não sabem sequer de que é que tratam os comícios programados de antemão, nas praças das cidades ou das vilas, mas acompanham grandes comitivas de propaganda eleitoral diversa, com sua pirosice desbragada nos gestos e nas falas…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre tanta pobreza envergonhada que pretende iludir amigos e vizinhos com suas idas ao café da esquina, suas tardes passadas no café da esquina, em frente duma chávena pequena e dum folhado com creme endurecido, enregelado no balcão de vidro – mas nessa tal pobreza envergonhada inclui-se a carecida de carinho, a que procura fontes de calor nos cafés das esquinas, refrigerados pelo ar condicionado – ;

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre os velhos que vivem solitários ou são distribuídos pelos lares como trapos sem préstimo nenhum, que têm pesadelos, noite e dia: viagens para longe, em contentores despejados depois nesses aterros onde vão ter a sua morte lenta, ou, em alternativa, incinerados, desfeitos em adubo para plantas, matéria útil, neste mundo que evita desperdícios…

Finalmente, se eu pudesse sempre falar claro, sobre vidas tão pobres de alegria apesar de exibirem numa estante selectas fontes de dizeres sábios: se há pensamento positivo, há êxito…

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre o sentido (ou a falácia?) de tais livros sábios que pretendem mostrar aos infelizes, de suposta maneira racional, o fundamento lógico de haver pessoas bafejadas pela “sorte”…

Como se fosse fácil transformar a própria natureza, a faculdade (ou o defeito) de visionar o mundo tal como se apresenta, a faculdade (ou o defeito) de não deitar pra trás das costas a tristeza que recobre os campos, as luxuosas vidas dos magnatas, as barracas humildes, a trapaça de alguns comentadores jornalísticos, a ingenuidade que desculpa os Bancos que dizem realizar os sonhos impossíveis, a esperteza saloia que dá cargos importantes a gente sem valor e pretende humilhar gente séria que recusa o compadrio, a hipocrisia, o amiguismo

Se eu pudesse sempre falar claro, sobre a pobreza envergonhada, material ou psíquica, a velhice pesada e solitária, e se possível reduzida a pó que ainda possa servir para alimento dos campos desprovidos de verdura, na nossa ilustre e sofredora Pátria…

Se eu pudesse sempre falar claro, seria condenada a perecer nas fogueiras de nova Inquisição, ou protegida pelo Deus-menino, no próximo Natal que se avizinha?!…Trará dois mil e dez a redenção?

Acolchoados no Algodão de Deus

Dezembro 18, 2009
A Fonte e a Reflexão

Acolchoados no Algodão de Deus

Teodoro A. Mendes (Tamen)

Deus empregou quatro mil anos para preparar o povo eleito. Cumulou-o de atenções. Enviou-lhe, a intervalos, os profetas, com a incumbência de manter acesa a espera. E quando o Cristo veio, a primeira adoração solene e oficial foi-lhe prestada por gente estranha àquele povo, por gentios. Que não aconteça a mesma coisa connosco.

Mimados demais pela graça, acolchoados no algodão de Deus, poderá acontecer que um dia chegue um qualquer, oriundo de raias longínquas e nos peça informações a respeito daquele Menino. E nós, tenhamos de confessar, com vergonha, que jamais o encontramos de verdade, que naquela estrebaria jamais pusemos os pés.

A. Pronzato

in, Evangelhos que Incomodam

Os Evangelhos que Incomodam é um daqueles livros raros e inquietantes que não deixam indiferentes os leitores. O trecho que se transcreve ipsis-verbis pertence ao cap. As Surpresas de uma Viagem onde o autor divaga sobre os Magos, que representam no nosso imaginário uma página cheia de poesia, de acordo com o senso comum, mas que dissecada como é, pelo autor do livro, nos deixa reflexões pertinentes e algumas surpresas.

Reflectindo, temos que a primeira das surpresas que nos é apresentada é o caminho.

Temos a ideia que a estrela iluminou sempre todos os passos dos Magos, num íntimo desejo que um qualquer dos nossos próprios caminhos seja sempre uma luz, se possível, feérica. Mas não. Todos os caminhos têm luzes e sombras. Aconteceu isso com os Magos. Nas dobras dos montes, naturalmente, tiveram sombras, mas não desistiram. Viveram plenamente a própria aventura, até chegarem ao seu destino.

E nós? – Quantas vezes desistimos, se o caminho se entorta?

Diz o autor que aquilo que é nossa tentação é ter um caminho seguro. Directo, perfeito, uma espécie de auto-estrada do espírito. Se possível, até, com placas de sinalização bem visíveis.

Eis uma reflexão que não podemos deixar de fazer, sem esquecer que os Magos eram gentios – e não tiveram medo de certos percalços –  e nós, ou somos cristãos ou andamos á procura de o ser. Pensemos nisto.

Na continuação, vem a segunda das surpresas são os profissionais da lei.

Ao chegarem a Jerusalém, os Magos depararam-se com o rei Herodes, com seus sacerdotes e outros peritos da Lei, os escribas.  Nenhum deles sabia do Menino e, no entanto, eram homens informados.

A estrela, porém, brilhava no céu. Estava informada. Era um sinal, ao invés de nós – obras primas da Criação – que nos recusamos, embora nos digamos cristãos a ser sinais do Menino, ocultando, até, por omissão, quantas vezes,  aquela Luz que não cessa de brilhar.

Somos, procedendo desse modo, parecidos com os velhos profissionais da Lei da corte de  Herodes, dando como eles deram, respostas cheias de doutrina, mas pouco esclarecedoras.

Algo que nos deve inquietar, se vivemos acolchoados no algodão de Deus. Muita doutrina e pouca acção.

A terceira reflexão e última surpresa é uma pergunta sobre os presentes dos Magos: bastam aqueles presentes?

Vindos de onde vieram e pelo que representaram foram dádivas importantes.

Apesar disso, diz o autor que houve uma desproporção dos presentes em relação ao destinatário.

E nós, que respondemos? – Aquele Menino, afinal, era Rei, e dos seus nada recebeu que não fosse aquele casebre de animais e, até, por vergonha nossa, de empréstimo. Por uma noite.

Cabe esta pergunta: – À sua Mensagem de Amor, se faltamos naquela noite com uma prenda retumbante e condizente com O Filho de Deus, como nos temos redimido? Demos de barato a moeda que pomos aos Domingos na caixa das oferendas e pensemos no que nos falta dar de amor pelos mais pequemos, não sendo, necessariamente – os de menor tamanho –  mas os que num dado momento precisam de nós. Aquele Menino Jesus, disse, um dia, que se olhássemos pelos mais pequenos era como se olhássemos para Ele.

Será que as nossas prendas têm estado sempre de acordo com o destinatário, que sendo no mundo que passa o mais pobre, é uma imagem de Jesus? – Ele mesmo o disse, não nos esqueçamos.

Ou vamos continuar, contentes  com a moeda que damos e a viver felizes, acolchoados no algodão de Deus?

Contentes, mas sem sabermos dar resposta – se nos perguntarem – por aquele Menino que nasceu para dar cumprimento à falta de amor que havia… e continua a haver neste mundo!

Do educar para esperançar de Agostinho da Silva: uma pedagogia para o século XXI

Dezembro 18, 2009

Etimologicamente, a palavra educar origina-se do latim ec-ducere que significa eduzir. No alemão, corresponde à palavra erziehen, formada por ziehen, que significa puxar, arrancar; e pelo prefixo er que denota um movimento completo para fora. Logo, educar é trazer para fora, é extrair de uma pessoa algo que a torne transformada. É, de certo, também, uma ação interativa e dialética realizada entre as pessoas que atuam em sociedade e nela estão imersas. Bem assim, educação é o processo que renova uma pessoa, extraindo-lhe ou libertando-lhe potencialidades criadoras. É, conforme Agostinho da Silva, “[…] a anagonia, o caminho para cima, […]”[2]

Todavia, as forças contra-educativas obstaculizam a emancipação do poder criativo em crianças, jovens e adultos. O professor Agostinho da Silva disso esteve sempre cônscio e evidenciou em sua práxis pedagógica — já inserida nos Cadernos de Informação Cultural (fascículos que circulavam em Portugal nos idos anos de 1940) — que, por um lado, cada um de nós tem de ser sujeito do processo educativo e, por outro, educar não é se encher isoladamente de conhecimento.

Assim posto, a educação é ontologicamente política; sem mudança ela não existe. E políticos somos todos nós porque vivemos em sociedade; estamos na polis. A finalidade de todo ato educativo é a transformação que, por sua vez, não ocorre sem embate pelo poder, sem o ato de modificar o mundo para quem, com quem e contra quem. Igualmente, todo ato educativo deve, sobretudo, indagar com que intensidade e alcance deve haver tal mudança, seja ela no nível histórico, social ou individual.

Agostinho da Silva isso fez na medida em que ajudava a fundar inúmeras instituições de nível superior, promovendo o desenvolvimento de centros de estudos, de investigação, bem como missões e projetos culturais, centros de ensino e pesquisa, de assessoria econômica e política, de divulgação das realidades e problemas mundiais, tais como os Centros Brasileiros de Estudos Portugueses (CBEP), em Brasília, e o Centro de Estudos Afro-Oriental (CEAO), na Bahia, nos quais deixou registrada sua feição de educador nato.

Desse modo, o professor Agostinho da Silva esteve promovendo uma educação que produzisse conhecimento frutífero, inovador que dá feição nova à realidade, à sociedade. Fez com que nos lembrássemos dos inúmeros conhecimentos elaborados pelo homem ao longo dos séculos em filosofia, literatura, lingüística, artes, ciências e tecnologia que outrora transformaram o mundo e hoje produzem saberes (no sentido mais amplo da expressão) de alta qualidade e continuarão a dar um contributo de grande valor ao patrimônio comum da cultura humana para que lancemos

[…] mão de todos os meios técnicos já hoje ao nosso dispor para que ninguém por fome ou desespero emigre ou morra, para que a ninguém falte a informação que lhe permita colaborar nesse trabalho e fruir de toda a beleza do universo à nossa volta, para que ninguém, pelo receio das sanções, possa deixar de exprimir seu inteiro pensamento; […].[3]

E, hoje, sem dúvida, afirmaria Agostinho da Silva que “[…] com os meios técnicos que temos ao nosso dispor, só há pobreza nas cabeças, não no mundo […]”[4]. Entretanto, são nessas prerrogativas que, paradoxalmente, aparecem os conflitos de interesses inerentes ao fato de que conhecimento implica a aquisição, a manutenção e a reinvenção do poder. Então, o mestre luso-afro-brasileiro pensou e realizou um ato educativo que irrompesse as forças criadoras latentes que não são apenas inatas; ao contrário, podem ser desenvolvidas no ser humano em qualquer fase de sua vida.

O Agostinho da Silva educador incitou o pensar autêntico e original nos indivíduos porque acreditava que em todos nós há uma força criativa e criadora da qual “[…] poderemos construir obra semelhante e devolver-nos a tal grandeza divina de que por tanto tempo temos andado divorciados; […]”[5], que nos torna, em simultâneo, poetas e poemas de nossos afazeres cotidianos e fazeres espirituais (entenda-se intellectum). Em outros termos, a pedagogia agostiniana compreendeu “[…] que é cada homem um fenómeno em si, único na vida, com sua própria mensagem que jamais renascerá igual e de que nos convém a todos meditar a lição e aprender até nos erros que cometa […]”[6]. Assim perspectivou em suas “conversas vadias” conversadas (vale o pleonasmo), especialmente nos países de língua portuguesa onde plantou idéias geniais, um homem novo que melhor pudesse aventurar-se nos saberes humanistas.

Especificamente no Brasil, entre outras ações de cunho cultural e absolutamente educativas, Agostinho da Silva ajudou na formação de várias Universidades deixando evidente que em cada uma delas a pesquisa deveria ser livre, “[…] livre a transmissão do que se descobre e livre a objecção a qualquer espécie de doutrina, […]”[7].

Na Universidade de Brasília, à época de sua fundação em 1961, implantou o Centro Brasileiro de Estudos Portugueses (CBEP) e pro-jetou uma Faculdade de Teologia, espaço no qual todas as pessoas indistintamente que lá adentrassem estariam disponíveis a pensar conhecimento novo e fértil que firmasse e afirmasse nossa particular brasilidade de pensar português.

O pensar português pertence a nossa mais profunda raiz cultural, às tradições liberais oriundas da Idade Média portuguesa,

[…] não dos séculos em que Portugal foi […] subjugado pelo capitalismo […], pelo absolutismo real baseado no direito cesarista e pela intolerância religiosa que principia, com D. João II, pela perseguição dos judeus e firmemente se estabelece com os inquisidores a partir do reinado de D. João III.[8]

Nosso pensar é português porque é um pensamento pensado nos contos, nas cantigas, nos ditados populares; e é um pensamento vivido dentro de uma economia coletivista, baseada nas organizações republicanas, democráticas e populares, notadamente presente no culto medieval do Espírito Santo; o pensar português

[…] vai da base em que assenta uma liberdade metafísica para aquelas em que assenta a liberdade prática: a economia de abundância ao alcance de todos, a educação da curiosidade a todos aberta e em todos satisfeita, a abolição de toda grade, de toda cadeia em que hoje os homens se prendem e debatem.[9]

Naquela Universidade de Brasília, onde se esperaria a execução da chamada educação formal ou sistemática, estaria garantida a pesquisa e a criatividade, bem como, reflexões quanto à concepção de ser humano que devemos ter para intervirmos positiva e construtivamente no fenômeno educativo. Ou seja, com a Faculdade de Teologia lá instalada, Agostinho da Silva tentou humanizar o conhecimento e, por conseguinte, o poder.

Este educador tinha claro em seu pensamento e nas várias atividades que desenvolveu a necessidade de um sistema econômico e de políticas governamentais que fomentassem (e não atrapalhassem) a realização da educação. Aliás, uma educação que tivesse em sua base a construção cidadã e o cultivo do espírito livre haja vista que […] nenhum homem verdadeiramente o é enquanto submetido à miséria, à ignorância e ao medo, […]”[10].

Infelizmente, a realidade histórica brasileira (com escravidão, ditadura, pobreza, preconceito e exclusão social, violência e corrupção) impede a emersão de forças criadoras já envolvidas na e pela contra-educação. O problema de nossa educação consiste, indubitavelmente, na questão de como superar a contra-educação que, em termos ontológicos, é tudo aquilo que oblitera o ser humano de ser mais do que já é e cujo fim não é a transformação.

Claro está que para abolir a contra-educação é necessário que condições econômicas

[…] permitam que o menino que vai à escola não faça falta para o orçamento da família, esteja na aula sem fome e tenha, além disso, comido o suficiente antes dos três anos para que o seu cérebro não tenha sido irreparavelmente atingido; […] permitam que não haja cinqüenta alunos a cargo de um professor e quantas vezes alunos de classes diferentes e que os referidos professores não ganhem tão miseravelmente que apenas sobrevivam e se encontrem cortados de tudo quanto é cultura, […]; condições econômicas que possam sustentar escolas de formação, a nível universitário, com suas classes de experiência, suas bibliotecas circulares e seus salários de aluno.[11]

Nessa perspectiva, devemos acreditar que há duas vertentes com as quais podemos ler o pensamento pedagógico de Agostinho da Silva a fim de apreender o sentido da educação para a transformação imperativa no século XXI. A primeira apontaria para a sua tentativa de superar todos os obstáculos contra-educativos existentes em nossa cultura, em nossa sociedade e em cada um de nós, tanto no âmbito temporal quanto no espacial. A outra analisaria o seu pensamento, tentando encontrar a originalidade do novo caminho proposto por ele. Assim, podemos seguir nessa direção, levando em conta as delimitações desse artigo, com o intuito de, na medida do possível, abordar o núcleo de seu pensamento pedagógico e diríamos mais precisamente, anagógico.

Sabemos que na economia capitalista poucas pessoas beneficiam-se da riqueza do país, enquanto muitos passam ao largo de usufruí-la. De um lado, há uma elite que goza o deleite dos bens materiais e o acesso a instituições de ensino que oferecem conhecimentos científico, filosófico, artístico e cultural gerados pela Humanidade; e, de outro, inúmeros indivíduos que, quando muito, freqüentam escolas cuja pouca qualidade material ou estrutural, em geral, não é das melhores, mas, em contrapartida ainda encontram uma intensa rede de profissionais competentes e qualificados que tentam enfrentar a contra-educação.

A contra-educação já era uma constante nas escolas brasileiras dos anos 50 do século XX e mantida essencialmente invariável no tempo. As forças contra-educativas que atuavam (e ainda atuam) no sistema de ensino formal no Brasil devem ser superadas e substituídas por outro tipo de ambiente educacional que incite e induza o aparecimento de pessoas criativas nos vários segmentos; ambiente no qual alunos e professores possam ser sujeitos do processo de estudar e cujo conteúdo disciplinar seja profundamente compreendido por eles.

Em torno da pedagogia de Agostinho da Silva, afirmamos que a nossa escola ainda está mal preparada, sem equipamentos, sem adequado material didático (pois o livro didático sustenta o poder do dominador), sem condições higiênicas adequadas e com precárias verbas. Ademais, nossa escola é sem vitalidade o que impede a inserção do aluno, jovem ou velho, e do educador no processo de democratização e de desenvolvimento do País.

Urge uma escola onde se possa auscultar, seguindo os pensamentos de Agostinho da Silva, “[…] os mistérios divinos, de onde se aprende a ser Homem na relação com o Mundo.”[12]. Em outros termos, diríamos da precisão da construção de uma escola onde, realmente, se estudaria e se trabalharia (entenda-se trabalho como jogo, homo ludens); nela não se diluiriam disciplinas de estudo e uma disciplina de estudar como ocorre, por exemplo, na graduação. Neste nível, ensina-se o que foi feito, ao passo que na pós-graduação pesquisa-se o novo. Esse dilema entre ensino e pesquisa empobrece o nosso sistema educacional visto que ainda muitos professores que dão aula na graduação formam formadores somente para transmitir saberes alheios.

Os professores-formadores passam a ser responsáveis pela educação de meninos e de meninas nos níveis fundamental e médio e, muitas vezes, ignoram que se deve ensinar para a pesquisa, para o pensar. Quando se ensina pesquisando e se pesquisa ensinando, não existe nenhuma dicotomia entre a transmissão de conhecimento já elaborado e aquele em fase de gestação. Seguramente, Agostinho da Silva estava convicto de que o pensar criativo e criador provoca a emersão de idéias novas e fecundas no ser humano e é esse momento de júbilo existencial que é inerente a físicos, poetas, matemáticos, escritores e artistas.

Logo, concebemos que a educação pleiteada por Agostinho da Silva é como uma centelha sem a qual não há nenhuma transformação da realidade. Apenas na produção de conhecimento inovador, original, livre das amarras do espírito competitivo e individualista é possível intervir no mundo. E esse é um ato essencialmente político, transformador, porque temos de decidir para quem e contra quem esse mundo deverá ser mudado e examinar a quem interessa a contra-educação, quem se aproveita economicamente dos métodos contra-educativos ainda presentes na sociedade brasileira.

Já que do ponto de vista econômico um país que não investe maciçamente em educação está fadado a se manter em um estágio de subdesenvolvimento, de país terceiro-mundista, a pedagogia de Agostinho da Silva, mesmo dentro de um sistema capitalista, pode aproveitar-se das contradições intrínsecas à sociedade para alavancar a finalidade do conceito de educação: educar para a transformação; educar para esperançar o novo.

Apesar da dominação da contra-educação, já confundida com o conceito de educar dito acima, Agostinho da Silva há muito fincou os pilares básicos de uma pedagogia de esperança. Portanto, não é inoportuno aproximar o seu pensar e o seu fazer pedagógico com o de Heráclito de Éfeso (Fragmento 18): “Se não esperar o inesperado não se descobrirá, sendo indescobrível e inacessível.” Para melhor entender, lê-se Gerd Bornheim, em Os filósofos pré-socráticos: “Se não tiveres esperança, não encontrarás o inesperado, pois não é encontradiço e não é inacessível.”

Isto posto, foi a partir das leituras de Textos Pedagógicos I (1999) e Textos Pedagógicos II (2000), de Agostinho da Silva, que nos questionamos qual papel pode exercer a educação (formal ou não) na transformação de nossa realidade que privilegia poucos e afugenta muitos. Deles concluímos que, de fato, deve ser a criança o centro das atenções e intenções de uma educação para a liberdade, para a fraternidade; e a alfabetização não apenas de crianças, mas também de jovens e de adultos, deve — ao conscientizá-los da urgente renovação mundial em princípios e valores humanistas em uma esfera de criatividade irmanada à grande obra da criação do mundo — retirá-los de sua situação de excluídos e de oprimidos.

Essa tomada de consciência esclarece a todos se o objetivo é, por meio da educação, procurar ter o que a classe dirigente possui ou se é gerar outro modo de vida que encontre substância na confirmação da existência de outras sociedades organizadas segundo outros princípios que não os da sociedade atual. Estamos a acenar o que Agostinho da Silva vislumbrou na Festa do (Divino) Espírito Santo: a possibilidade de se viver de acordo com padrões divergentes dos que hoje estão em vigor. Um modo de vida no qual o fato de o essencial para a felicidade do povo é ter liberdade de decisão e não a forçada obediência a uma entidade administrativa opressiva e soberana. É esse o principal alvo crítico do pensar pedagógico ativo de Agostinho da Silva, dado por muitos por utópico porque foge às características de modernidade.

Todavia, Agostinho da Silva, quando enfatiza o Espírito Santo em textos de cunho pedagógico e a sua configuração festiva na qual se coroa Imperador uma criança em textos diversos, nos insere efetivamente (e isso se relaciona também a certa ação pedagógica) em uma experiência Una, singular o bastante para reavivar, (re)assimilar nosso passado com a Terra da Luz Oculta[13], a Lusitânia; o Porto do Graal, Portugal. Paradoxalmente, a nossa modernidade é não sermos modernos e no âmbito da mentalidade burguesa eurocêntrica-americana mantemo-nos na tensão entre a história que vem de fora e as condições locais que a ela nem sempre se ajustam.

Agostinho da Silva, que foi um estimulador de mudanças, abalou certezas, propondo alternativas e provocando a imaginação alheia quanto a se fazer ações que se processassem “[…] não segundo critérios económicos ou tecnográficos, mas sob guia de metafísica ou religião, donas reais do proceder […].”[14] que estariam contra todas as condições que mantêm o povo física e intelectualmente miserável; contra todo tipo de segregação de classes ou de raças.

A Festa do (Divino) Espírito Santo, que se coaduna com o pensamento e ação pedagógicas de Agostinho da Silva, não nos remete só para o eixo religioso, prendendo-nos à esfera do sagrado tão olvido no mundo contemporâneo ou situando-nos dentro dos quadros da mitologia cristã, mas, destaca um acontecimento possível, que já presentifica a futura-Idade, excêntrica, porém, terrena, na medida em que presencializa  prontamente o lugar da alteridade e da reflexão dinâmica sobre a diferença em relação ao que existe.

Podemos crer que não mais precisamos nos apressar para cumprir, com atraso, as etapas já vencidas pelo mundo desenvolvido, porque aquela festa tem em si mesma a mais racionalizada das representações cujo propósito é político-social, consolidando o que conceptualizou D. Afonso V em os Painéis de S. Vicente tão intimamente relacionado com o mito de “D. Sebastião, por já estar morto o rei anterior e morto o pai, poderia romper a dinastia fatal, reconstruir a nação [portuguesa] ao seu amplo espírito de acolher judeus e mouros, isto é o diferente e até o oposto, atender ao Brasil e não ao Oriente como único futuro, […]”[15]

Ademais, o que importa aqui ressaltar é que o nome D. Sebastião “[…] era o nome do colectivo para o futuro, um futuro que não fosse de miséria nem de ignorância nem de opressão de espírito; o que vale no sebastianismo não é o ponto de partida, mas a força da marcha e a meta de chegada; que são, e oxalá o sejam sempre, mérito do povo e não dos reis.”[16], tal como a encenação do Espírito Santo em festa.

Bem assim, a pedagogia de Agostinho da Silva aproxima-se da Festa do (Divino) Espírito Santo e, por extensão ao sebastianismo, porque faz acontecer ações políticas e econômicas concretas que favorecem o engajamento de indivíduos na luta por reformas sociais; viabiliza uma ação cultural, no sentido mesmo antropológico, com vistas em permitir o aparecimento de sujeitos críticos comprometidos com uma nova sociedade, edificada sob uma missão sócio-pedagógica ecumênica.

Vale dizer que essa missão é erigida e revelada pelo laço que nos une como potencialidades criadoras: a língua portuguesa. Para além de se constituir em nosso território cultural, a língua portuguesa é a que nos permite uma entrada triunfal na História, com autonomia e independência.

Então, aprendamos o

Português como língua futura, não de passado; não de relatos, mas de projectos; não de saudades, mas de esperanças. É sob este ponto de vista universal que têm de ser apreciados e resolvidos os problemas com que se defrontam os povos de língua portuguesa – e, na sua esfera individual, mais poderosa do que nenhuma, cada um dos homens que a falam, os quais, quase sempre, não a lêem nem a escrevem.[17]

Todas as nações de língua portuguesa são, na perspectiva agostiniana, “religiosamente, de constituição ecumênica e que nenhuma crença ou sistema de crenças pode usufruir, no que se refere ao geral, de qualquer preponderância sancionada.”[18] Eis o fundamento de um educar para esperançar de Agostinho da Silva, uma via pedagógica possível para o século XXI.  

[1] Professora-Coordenadora da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação da Secretaria de Estado do Governo do Distrito Federal e Doutoranda em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília.

[2] SILVA, Agostinho da. Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira II. Lisboa: Âncora Editora, 2001, p. 291.

[3] SILVA, Agostinho da. Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira II. Lisboa: Âncora. Editora, 2001, p. 14 – 15.

[4] Ibid., p. 184.

[5] Ibid., p. 14.

[6] Ibid., p. 14.

[7] SILVA, Agostinho da. Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira II. Lisboa: Âncora Editora, 2001, p. 19.

[8] Ibid., p. 206.

[9] Ibid., 223-224.

[10] SILVA, Agostinho da. Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira II. Lisboa: Âncora. Editora, 2001, p. 14.

[11] Ibid., p. 184.

[12] PINHO, Romana Valente. O essencial sobre Agostinho da Silva. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 37.

[13] SILVA, José Luís Conceição. Os Painéis de D. Afonso V e o Futuro do Brasil. Brasília: Edição do Autor, 1997.

[14] SILVA, Agostinho da. Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira II. Lisboa: Âncora Editora, 2001, p. 62.

[15] SILVA, Agostinho da. Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira II. Lisboa: Âncora. Editora, 2001, p. 62.

[16] Ibid,. p. 63.

[17] Ibid., p. 51.

[18] Ibid., p. 226.

Homenagem ao professor Leodegário

Dezembro 18, 2009

Texto retirado do blog da Revista Nova Águia (www.novaaguia.blogspot.com)

Homenagem ao professor Leodegário

Adelto Gonçalves*

I

Realizado de 17 a 21 de setembro de 2007, no Rio de Janeiro, o Congresso Internacional de Língua Portuguesa, Filosofia e Literaturas de Língua Portuguesa homenageou o 63º aniversário de fundação da Academia Brasileira de Filologia (Abrafil) e o 80º aniversário de Leodegário A. de Azevedo Filho, professor emérito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), fundador e presidente atual da Abrafil.

Com o apoio da Faculdade CCAA, saiu à luz um grosso volume de quase 500 páginas reunindo as conferências, resumos de comunicações livres e textos especiais apresentados durante a semana de realização do Congresso, que contou com a participação não só de renomados filólogos e acadêmicos brasileiros e portugueses como de estudiosos de vários países, como Inglaterra, Espanha, Suíça e Japão.

Encarregado por seu pares, o professor Antônio Martins de Araújo, presidente da Comissão Executiva do Congresso, destacou a carreira do professor Leodegário, titular cadeira de Literatura Portuguesa, aposentado, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e professor emérito da Uerj, além de intelectual com vasta obra em que se destaca a hercúlea missão que assumiu de estabelecer a verdade textual da lírica de Luís de Camões. Já datam dos anos 70 seus Ensaios de Lingüística e Filologia, ponto de partida para seus estudos camonianos: O cânone lírico de Camões e A lírica de Camões e o Problema dos manuscritos.

Nos últimos tempos, o professor tem publicado e oferecido a sua legião de amigos uma série de plaquetes sobre o tema, além de liderar uma equipe de estudiosos que vem publicando a edição crítica da Lírica de Camões, planejada inicialmente pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda (IN-CM), de Lisboa, para ser editada em oito volumes distribuídos em doze tomos. Como destacou o professor Araújo, cerca de dois terços do plano editorial da obra já se encontram editados.

Sua última grande missão foi a publicação de uma edição fac-similada de Os Lusíadas, pela editora Francisco Alves, do Rio de Janeiro, exemplar do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) que pertenceu à biblioteca particular do imperador Pedro II. É um trabalho que constitui uma contribuição inestimável para uma futura edição crítica ou uma edição diplomático-interpretativa que, como se sabe, ainda não se fez de modo satisfatório, ainda que já tenham sido publicadas tanto em Portugal como no Brasil edições que foram e continuam sendo muito úteis para o estudo da obra camoniana.

Nem por isso o professor Leodegário deixa de continuar a oferecer aos seus amigos e admiradores suas famosas plaquetes – as últimas, Camões: um soneto do corpus possibile – o dia em que eu nasci moura e pereça (Rio de Janeiro, H.P.ComuniCação Editora, 2009, 2ª ed.) e Fernando Pessoa, seus heterônimos e a emergência do novo (2009), texto que ofereceu àqueles que tiveram a oportunidade de participar da cerimônia em que recebeu o Diploma de Doutor Honoris Causa conferido pela Universidade Fernando Pessoa, do Porto, no dia 13 de junho de 2008, data de nascimento do poeta português.

II

Entre as 41 conferências que fazem parte do livro-homenagem, aquela que abre a edição, “A moderna escola camoniana brasileira”, da professora Marina Machado Rodrigues, da Uerj, destaca exatamente esse trabalho da equipe criada pelo professor Leodegário para lidar com um dos mais complexos problemas da Língua Portuguesa. Como se sabe, a Camões se chegou a atribuir mais de 600 composições até o final do século XIX. Depois, concluiu-se que teria composto minimamente 133 textos líricos.

Como observa a professora Marina, os equívocos em relação à autoria camoniana têm início ainda no século XVI, já que Camões publicou em vida, além do poema épico Os Lusíadas, de 1572, somente três textos líricos: a ode ao Conde do Redondo, “Aquele único exemplo”, em homenagem a Garcia d´Orta, nos Colóquios dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, deste último (1563); o soneto “Vós nimphas da Gangética espessura” e a elegia “Depois que Magalhães teve tecida”, ambos dedicados a D.Leonis Pereira, embora os tercetos fossem em homenagem a Pêro Magalhães Gândavo, autor de História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil (1576), onde foram publicados os dois últimos. Todas as outras composições, assinala a professora, ficaram dispersas em “cancioneiros de mão” e foram recolhidas mais tarde pela tradição impressa, o que favoreceu a inclusão de textos apócrifos.

Foi Emmanuel Pereira Filho quem, em 1967, escreveu o ensaio “Aspectos da Lírica de Camões”, publicado nas Atas do I Simpósio de Língua e Literatura Portuguesa, com uma proposta concreta para a revisão dos muitos equívocos que marcaram a edição impressa das obras de Camões. Foi com ele que nasceu a Escola Camoniana Brasileira, assim batizada por Antonio Houaiss, para destacar uma metodologia que se diferenciava das demais.

Com a morte prematura de Emmanuel Pereira Filho, o professor Leodegário assumiu a tarefa de se chegar próximo tanto quanto possível do original perdido, recusando critérios subjetivos e partindo de seguros métodos ecdóticos. É claro que, como ressalta a professora Marina, à falta de um autógrafo do poeta, lidamos sempre com hipóteses. E sempre haverá quem possa contestar este ou aquele critério ou definição.

III

Seja como for, como observa no ensaio “Posições teóricas de crítica textual de Leodegário A. de Azevedo Filho na edição de Sonetos de Luís de Camões em 2004”, o professor José Pereira da Silva, da Uerj e da Abrafil, o método adotado pelo professor Leodegário procura desenvolver um corpus com incerteza autoral mínima, criando assim “a primeira e mais importante dimensão da lírica de Camões”.

Afirma Pereira, com justiça, que o professor aplica critérios de crítica textual bastante rigorosos, que levam a um pequeno elenco de obras. “Busca estabelecer um conjunto de poemas líricos de Camões que materialize o conceito de corpus minimum – entendido este como o menor elenco de obras que apresenta um mínimo de incerteza autoral por atender, sem redundância, ao máximo rigor possível da crítica textual para determinação do autor”, diz. E acrescenta: “Consegue colecionar os poemas sobre os quais as dúvidas de autoria tornaram-se insignificantes mesmo para os mais céticos”.

Dessa maneira, lembra Pereira, com a perseverante dedicação do professor Leodegário, mais 31 sonetos puderam ser incluídos nesse corpus minimum (estabelecido por Emmanuel Pereira Filho), chegando ao total de 65 textos dos quais dificilmente se poderá negar a autoria de Camões. E que estão na edição de Sonetos de Luís de Camões: Corpus minimum. Textos estabelecidos por Leodegário A. de Azevedo Filho, a partir de manuscritos quinhentistas (Rio de Janeiro, Francisco Alves, 2004).

Agora, ficamos no aguardo da conclusão dos trabalhos da edição completa de Camões pela IN-CM, que deverá trazer a confirmação de todos os poemas líricos que resultaram da pena do maior poeta da Língua Portuguesa. “Senão de todos, ao menos daqueles para os quais esta possibilidade exista”, como observa Pereira.

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CONGRESSO INTERNACIONAL DE LÍNGUA PORTUGUESA, FILOSOFIA E LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA COMEMORATIVO DO 63º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO DA ABRAFIL E DO 80º ANIVERSÁRIO DO PROFESSOR EMÉRITO DA UERJ, LEODEGÁRIO A. DE AZEVEDO FILHO, organizado por Leodegário A.de Azevedo Filho, Ilka Azevedo e Marcia Moraes. Rio de Janeiro: CCAA Editora, 2008, 496 págs.
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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage: o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Publicada por Renato Epifânio em 14:09:00

Etiquetas: Homenagens

Desaparecido

Dezembro 18, 2009

Desaparecido

DOMINGOS ANTONIO BATISTA DIAS DE ALMEIDA

Quem sabe dele?

Maria Rosa Batista Dias Saraiva Cardoso.

Residente em Vila Real, Portugal. Procura

Seu sobrinho DOMINGOS ANTONIO BATISTA

DIAS DE ALMEIDA, de 44 anos de idade, natural

Nlteroi, filho de  Maria Helena Dias Batista de

Almeida e Antonio de Almeida, já falecidos.

Últimas noticias: o Toni (assim era tratado)

Era casado, tinha 2 filhos e residia em Niterói.

Para alguma informação, por favor contactar:

e-mail: jorgecardoso@ vodafone.pt

Outras informações podem ser obtidas através do e-mail: jneves@fesesp.org.pt

Reflexões sobre Honduras

Dezembro 18, 2009
Por Ives Gandra Martins

(Jornal do Brasil – 12/10/2009)

A crise hondurenha tornou manifesto que a OEA é muito mais uma organização com clara vinculação ideológica ao populismo do que uma organização de Estados Americanos voltada à preservação da democracia. O estrangulamento da economia hondurenha, por terem seus líderes apenas cumprido sua Constituição ao depor um presidente golpista, demonstrou que a intervenção, com caráter exclusivamente ideológico, conforma a orientação daquele organismo, que conseguiu manipular de tal maneira “os politicamente corretos” ao ponto de se ter a impressão de que pretendiam apenas preservar a democracia em Honduras. Esta já estava preservada pelo cumprimento da Lei Maior. Em seu artigo 239, declara que quem pretender introduzir a reeleição pelo simples fato de formular tal intenção será deposto do cargo em que estiver e que, se for o presidente da República, será substituído pelo vice-presidente, ou não havendo vice eleito , pelo Parlamento, o substituto (art. 242).

Mais do que isto , determina que as Forças Armadas (art. 272) devem preservar a Constituição Hondurenha e, no caso do presidente Zelaya, a pedido tanto do Parlamento quanto do Poder Judiciário, depuseram-no por ter convocado plebiscito para introduzir a reeleição, cuja proibição é cláusula pétrea.

Como se percebe, a democracia hondurenha impõe a alternância de poder, que os líderes vocacionados para o autoritarismo não desejam, como ocorre com Chávez, Mugabe, Morales, Kadafi, Côrrea e todos os ditadores africanos.

Como acentuou Dalmo Dallari, em artigo para a Folha no dia 03/10/2009, a deposição de Zelaya foi absolutamente constitucional, porque descumpriu a Constituição Hondurenha e a pena, nestes casos, é a deposição.

A OEA denominou o governo constitucional de golpista e o presidente golpista, de democrático, insuflada pelo semi-ditador Chávez. Seu secretário-geral soltou esta pérola ideológica : “A Constituição hondurenha é uma das piores Constituições do mundo”! E Chávez armadilhou o Presidente Lula com a ida do histriônico mandatário, colocando-o na Embaixada Brasileira, que passou a ser uma nação intervencionista, pois permitiu que sua embaixada se transformasse em escritório promotor da tentativa de guerra civil no país, o que felizmente não ocorreu.

A pressão internacional, liderada ideologicamente por semi-ditadores latinoamericanos, enfraqueceu Honduras, que, sob intervenção econômica e política, foi cedendo, ao ponto de ser obrigada a negociar seus próprios fundamentos constitucionais e democráticos.

A lição que tiro do episódio é de que ou a OEA carece de constitucionalistas, o que seria lamentável, ou agiu , exclusivamente , por motivos ideológicos –e não democráticos- sufocando o segundo mais pobre país das Américas e , desrespeitando , claramente , seu estatuto maior. Pior foi o papel do Brasil , cuja Constituição proíbe a intervenção e respeita a autodeterminação dos povos, que transformou sua Embaixada em palanque político de Presidente golpista.

Está-se chegando a um acordo para preservação das eleições democráticas de 29 de novembro, cujo processo eleitoral em Honduras segue sem máculas ou arranhões e, se Honduras conseguir sobreviver, o próprio presidente Lula, que envolveu a diplomacia brasileira na pior de suas aventuras, poderá ser redimido. Meu neto , Guilherme , define o Presidente Lula como o Agente 86 da política, ou seja, aquele agente do “Controle” que, mesmo errando, acerta sempre. E Lula, com o capital da vitória sobre Chicago, Tóquio e Madri nas Olimpíadas de 2016 , forjou sua imagem na história, que dificilmente será superada nos próximos tempos. Que errou, todavia, errou , ao desrespeitar a Constituição hondurenha e abrigar um presidente canastrão no seio da Embaixada brasileira.