Archive for the ‘História’ category

ANTÓNIO FERRO – OS PRIMEIROS ANOS: 1895 / 1916

Janeiro 28, 2015

por Mafalda Ferro

António Ferro, 1896

António Ferro, 1896

Filho de António Joaquim Ferro, natural do concelho de Beja, freguesia de Baleizão e de Maria Helena Tavares Afonso Ferro, natural de Tavira, António Ferro nasce no dia 17 de Agosto de 1895, em Lisboa, o terceiro filho da família.

Criança calma e reservada, bem integrada e sem problemas escolares, António Ferro começa desde pequeno a acompanhar o pai a comícios republicanos. Será talvez desde então que começa a interessar-se pelo percurso de personalidades que ocupam cargos políticos e de poder e, também, a consciencializar-se da força da Palavra.

António Ferro, retratado por autor não identificado.

António Ferro, retratado por autor não identificado.

Ainda muito novo, frequentava uma barbearia situada em frente de sua casa que, segundo ele, “era um verdadeiro centro político republicano: Passava aí a maior parte dos meus dias, não perdendo uma palavra do que ouvia – entre republicanos exaltados, apóstolos sinceros, verdadeiros fanáticos, homens que falavam da República, como se a República tivesse forma humana”.

Foi nessa mesma barbearia que conheceu, entre outros, João de Meneses, Alexandre Braga, Fernandes Costa, Heliodoro Salgado, Afonso Costa e, ainda, António José de Almeida com quem mantinha uma original relação: “Gostava de conversar comigo e gostava de me ouvir”.

Achava graça àquele rapazinho que papagueava os seus discursos, o “menino-prodígio” que repetia, conscienciosamente, para quem o queria ouvir, os seus argumentos e as suas frases (…)”. Por essa altura, António Ferro convence-o a escrever um depoimento para o seu jornalinho escolar, o “República”. Foi, segundo deixou escrito, um dos dias mais felizes da sua vida: “E com o meu lápis de colegial, numa folha de papel que eu lhe estendi, timidamente, António José de Almeida, futuro director da «República», futuro presidente da «República», escreveu um artigo de fundo (um grande período chegava para encher uma coluna), para a minha Republicazinha, para a minha Andorra”. 

É essa a primeira “grande entrevista” de António Ferro.

A partir de 1910, ainda estudante na Escola Francesa, e mais tarde, como aluno do Liceu Camões, colabora em comissões de festas liceais onde diz, ou se dizem, versos seus e onde, também esporadicamente, representa peças teatrais.

António Ferro com amigos do liceu. No verso: Ao Amigo Ferro offerece Américo Nascimento como recordação das festas carnavalescas do Lyceu Camões de 1912.

António Ferro com amigos do liceu. No verso: Ao Amigo Ferro offerece Américo Nascimento como recordação das festas carnavalescas do Lyceu Camões de 1912.

Programa “Grandioso Sarau dramático e dançante”, Colégio Francês, 23.04.1910

Programa “Grandioso Sarau dramático e dançante”, Colégio Francês, 23.04.1910

Em 1911, aluno do Liceu Camões, conhece Mário de Sá-Carneiro que abandona o liceu no mesmo ano da sua entrada. O poeta confia-lhe dois dos seus primeiros poemas, Quadras para a Desconhecida e A Um Suicida, ambos dedicados a Tomás Cabreira Júnior, com quem escrevera a peça Amizade e que se suicidara com um tiro, nas escadas do liceu aos 16 anos de idade.
Em 1912, em colaboração com Augusto Cunha, seu grande amigo do liceu e futuro cunhado, publicaMissal de Trovas, livro constituído por quadras ao gosto popular dedicadas a Augusto Gil e a Fausto Guedes Teixeira, que, em edição de 1914, foram acompanhadas de apreciações de Fernando Pessoa, João de Barros, Mário de Sá-Carneiro, Afonso Lopes Vieira e Augusto Gil, entre outros.
Entre 1913 e 1918, frequenta o curso de Direito na Universidade de Lisboa até ao quinto ano. No seu processo académico, uma entrada de 20 de Março de 1918 refere a sua inscrição “nas cadeiras e cursos que constituem o quinto ano da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa”.

António Ferro demonstra desde muito cedo o espírito e a energia que o caracterizarão durante toda a vida. Convive com Mário Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Alfredo Guisado e Almada Negreiros, entre outros, e recebe-os frequentemente em casa dos pais para discutir livros e ideias até altas horas da noite.

Fernando Pessoa escreve no seu diário (30.03.1913): “Das 2 e ¼ às 4 e ½ em casa de António Ferro a ouvir-lhe três peças. – Leu duas. – Depois, para a Baixa com ele”.

Revista "Orpheu"

Revista “Orpheu”

Revista "Orpheu" pag 01.

Revista “Orpheu” pag 01.

Em Março de 1915, António Ferro edita os dois números da revista Orpheu, por ser o único que não tinha ainda atingido a maioridade e, segundo Alfredo Guisado, “se surgisse qualquer complicação, a sua responsabilidade não teria consequências”. (Em Autores, Novembro de 1960.).

O primeiro número é dirigido por Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho e o segundo, por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. São fundadores, além dos supracitados, Almada Negreiros, José Pacheco, Armando Côrtes-Rodrigues (Violante de Cisneiros), Raul Leal (Henoch), Alfredo Guisado e Eduardo Guimarães.
Ainda nesses anos, estabelece relações de amizade e corresponde-se com amigos como Augusto de Castro, Augusto de Santa-Rita e João de Barros.
António Quadros, em artigo no Diário de Notícias (14.11.1957), lembra uma frase do pai “Em pleno centro de Lisboa, no Rossio, surgiu há pouco tempo remodelado o velho restaurante “Irmãos Unidos”, onde o grupo costumava reunir-se, pois o poeta Alfredo Guisado era filho do proprietário”.


Novembro de 1912  

António Ferro, 1912, no seu quarto da rua dos Anjos em Lisboa.

António Ferro, 1912, no seu quarto da rua dos Anjos em Lisboa.

Dia 25

Paris

Meu caro amigo.

Quando já supunha que você se desfizera em poesia ou em amor, veio-me a sua carta dar de tal um alegre desmentido – se é que seria triste sorte um corpo humano converter-se todo em estrofes geniais ou em beijos apaixonados.(…)

Escreva longamente dando mtas novidades. Bem vê como eu sou pronto em responder. Recebi a sua carta às 9h. da manhã e escrevo-lhe esta às 9 ½!…

O liceu como vai? O Bettencourt ainda é professor? Senão diga quem é o seu mestre de latim e português.
Enfim, diga mtas coisas como nesta carta, fale de gente conhecida, de teatros, de novas literárias ets., etc.

Um grande abraço e obrigado

  1. de Sá-Carneiro

50, Rue des Écoles

Grand Hotel du Globe

[Carta de Mário Sá-Carneiro para António Ferro]


Se nos lembrássemos sempre como éramos aos vinte anos, não nos atreveríamos a olhar, sequer, para quem tem vinte anos.

António Ferro
2 de Janeiro de 1953

 Bibliografia consultada

– “Retrato de uma Família: Fernanda de Castro, António Ferro, António Quadros” de Mafalda Ferro e Rita Ferro.

– “Subsídios Genealógicos para o estudo das famílias Galhardo e Bandeira de Mello”, volume I, de Ernesto Ferreira Jordão.

Domitila – D. Pedro deu a Domitila o título de Marquesa de Santos

Julho 7, 2014

Por Raquel Naveira

Partindo do Páteo do Colégio dos jesuítas, desço a antiga rua do Carmo, onde se localiza o rosado solar da Marquesa de Santos.

O piso assoalhado range um pouco sob meus pés. Em cada cômodo, pinturas, pedaços expostos da parede de taipa de pilão e pau-a-pique. Alguns canapés, o piano, a penteadeira e a pequenina cama da Marquesa, de madeira entalhada e florões, desnuda e sem dossel.

A um canto, o quadro retratando Domitila, essa personagem fascinante. O vestido é de seda cor de pérola, com uma faixa trespassada, um broche em forma de medalhão perto do decote. Os cabelos dispostos em cachos negros de cada lado do rosto um pouco duro, de olhos escuros e enviesados. Quais os segredos dessa mulher? Que mistério há nesse sorriso de lábios finos? Que gestos teriam esboçado essas mãos agora pousadas sobre o colo de marfim?

Uma mulher que viveu setenta anos. Uma trajetória de amores, viagens e peripécias. Vários ciclos numa só existência. Casou-se a primeira vez com um oficial do Corpo dos Dragões, o alferes Felício, homem violento, que a espancava. Com ele teve três filhos: Francisca, Felício e João, morto com poucos meses. A separação do casal foi trágica, depois dele a ter esfaqueado numa crise de ciúmes.

Alguns dias antes da proclamação da independência do Brasil, Domitila é apresentada a D. Pedro I. Apaixonam-se, tornam-se amantes, trocam cartas ardentes. Titila e Demonão, assim se chamavam na intimidade.

Fogoso, impulsivo, sensual, D. Pedro teve outros casos paralelos, mas Domitila foi a concubina mais importante, aquela que ele levou para uma mansão perto da Quinta da Boa Vista. Domitila torna-se dama camarista da sofrida imperatriz D. Leopoldina, que, sabendo de seu papel num casamento dinástico, jamais perdeu a compostura diante das infidelidades do marido, granjeando a admiração e o espanto do povo.

D. Pedro deu a Domitila o título de Marquesa de Santos, afrontando os irmãos Andradas, nascidos em Santos.

O imperador e a marquesa tiveram cinco filhos: um menino natimorto, Isabel Maria, Pedro, Maria Isabel e Maria Isabel II. Sobreviveram Isabel Maria e Maria Isabel II.

Intrigas, perseguições, demissões, prestígio abalado, tráfico de influências. O clima era negro, após a morte de D. Leopoldina. D. Pedro contrata segundas núpcias com a princesa Amélia, noiva de sangue nobre. Domitila é banida da Corte, voltando para São Paulo.

Nessa fase, conhece o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar. Casa-se com ele e tem seis filhos: Rafael Tobias, João Tobias, Antônio Francisco, Brasílico, Gertrudes e Heitor. Torna-se o centro da sociedade paulistana. O Palacete do Carmo é palco de bailes de máscaras, saraus literários, reuniões sobre ensino, artes e política.

Com a maturidade, Domitila revela-se uma dama devota, caridosa, protegendo os miseráveis, famintos e doentes.

De repente, eu a vi, velha, sentada no soalho de tábua, rindo, enquanto preparava escondido um cigarro de palha. Foi só uma imagem, uma presença, logo fixei novamente o olhar enviesado do retrato.

O que admiro nessa mulher? A resiliência, essa capacidade de lidar com problemas, de superar obstáculos, de resistir às pressões, sem entrar em surto, sempre com esse olhar duro que a todos encara. Maravilhosa a sua vontade de vencer, de jogar, de acreditar que tudo podia mudar para melhor, de investir na esperança, de alcançar e seduzir pessoas. Domitila procurou sempre soluções.

Lembrei  de uma canção de Edith Piaf, “Non, je ne regrette rien”, que diz assim: “Não, não lamento nada, nem o bem que me fizeram, nem o mal, tudo para mim é igual.// Não, nada de nada, não lamento nada, porque minha vida, minhas alegrias, hoje tudo isso começa com você.”

Domitila me olha do retrato com ar desafiante. Como ela, não sinto mais receio, nem medo do fracasso. Há beleza em recomeçar do zero.

Faleceu PÉRY LAMARTINE!

Maio 19, 2014

Por Silvino Potêncio

Está mais pobre a Literatura Norte Rio Grandense!…e lá se foi o Meu Querido e Dilecto Amigo Pery Lamartine, Escritor Imortal da Academia de Letras, Aviador Amador, um seguidor fiel das ideias de Saint Exupéry.

(Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry nascido em Lyon no ano de 1900 e falecido algures no Mar Mediterrânico em 31 de Julho de 1944).

– Nós nos conhecemos em Natal logo no início dos anos 80 do Século XX quando aterramos aqui, neste que era (ainda é! ) considerado o aeroporto Trampolim da Vitória aérea dos Aliados na segunda Guerra Mundial.

– Pery Lamartine foi Secretário da Sociedade Luso Brasileira de Natal quando este, agora saudoso, Amigo nos passou os arquivos (básicamente um Livro de Atas das reuniões da comunidade Lusitana e uma Lista dos Portugueses que residiam por aqui naquela época, que se chamava Sociedade Luso Brasileira de Natal, Fundada no ano de 1950 pelo então Consul Honorário de Natal, Senhor Manuel Augusto Alves Afonso, outro admirador da Lusobrasilidade (tive fotos deste Patrício que mostrava ele, enquanto Cônsul Honorário de Portugal em Natal, junto a Gago Coutinho e Sacadura Cabral, os verdadeiros primeiros Aviadores a completar a travessia do Atlântico Sul).

 – A partir daí nós começámos então a ficar mais  perto da cultura literária do RN, quer fosse diretamente no IHG (Instituto Histórico e Geográfico) que, por sinal, era localizado nas proximidades do nosso escritório, que frequentámos por mais de 25 anos, até ao falecimento de outro Ilustre Artífice da Língua de Camões em Terras Potiguares, o Professor Enélio Lima Petrovich.

– Mais tarde fomos incentivados a Fundar uma nova Instituição que representasse a Comunidade Lusitana, e daí nasceu o CPN – CLUBE PORTUGUÊS DE NATAL do qual fui Presidente Fundador, por vários anos.

Hipérides Lamartine tinha adoração por Portugal,  que visitava com frequência pois era também dono de uma Agencia de Viagens e foi através desta amizade que, direta e indiretamente, nós entrámos em contato  com os vários outros órgãos da informação local daquele tempo, nomeadamente a TVU e Jornais de Natal, Tribuna do Norte, a Répública…

Ao aproximar-se a data de 10 de Junho de 1981, em conversa com Pery Lamartine, eu lhe propus escrevermos algo a respeito da efeméride do DIA DA RAÇA LUSITANA, e ele me apresentou ao então Magnífico Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Doutor Diógenes da Cunha Lima, que é hoje Presidente da Academia de Letras do Rio Grande do Norte, e lá fomos os dois conversar sobre Camões em frente das camaras da TVU (Televisão Universitária de Natal)… foi uma entrevista longa mas absolutamente inolvidável e  profunda sobre a obra de Camões já que o Dr. Diógenes é um especialista, talvez o titular da maior Biblioteca Pessoal Particular da obra do Poeta por aqui.

Com o advento do ano 2000, completaram-se 500 anos da descoberta do Brasil, e nós fomos nomeados Membro da Comissão das Comemorações Oficiais Do Descobrimento do Brasil.

Por tal motivo, e como já não tínhamos o apoio das Entidades Oficiais e nem o CPN tinha instalações (nunca teve aliás) para expor algo a respeito, uma vez mais Pery nos aconselhou a mostrar o material alusivo aos 500 anos do Brasil no espaço público da Bienal do Livro – realizada no Midway Mall, onde nos encontrámos com o meio acadêmico e literário pela mão deste Excelso Amigo junto com o Professor Enélio Petrovich, nesta e em outras vezes. Como prova da sua dedicação à Cultura Lusófona, ele nos ofereceu o espaço do IHGRN para ali expor e guardar até,… se necessário fosse, essa mesma exposição.

– Não nos atrevemos a dissertar aqui sobre a obra do infausto Amigo ora falecido, sob pena de errarmos… e tal avaliação se tornaria omissa não pela falta de profundidade da nossa relação pessoal, mas sim pela pouca convivência que tivemos, nestes últimos anos motivada pelo nosso isolamento de certa forma forçado!…

– Nos basta então só deixar registrada aqui a nossa dor,a nossa saudade, sobretudo a nossa mais sentida homenagem com um epíteto que nos parece ser justo e apropriado!…” Lá se vai mais um Guerreiro da Lusofonia”… e assim o apelidamos pelo ténue conhecimento que temos pela nobre contribuição que ele deu à Cultura Lusófona.

Vale registrar também que o Aviador Pery Lamartine no seu/dele e nosso IHGRN que, temos certeza, mais considerava ser essa a sua “rota de voo” para a Literatura como um todo!… mais do que até a própria  Família,  agora enlutada, ele nos deixou a sua marca pessoal. – Por tudo isso, manifestamos a nossa solidariedade, de pronto, com um abraço de amizade aos seus descendentes, Amigos e Familiares,  na certeza de que Deus Pai Nosso Senhor o guarda já na sua Santa Paz Eterna…Adeus Amigo Pery Lamartine!…  e até sempre!…

Emigrante Transmontano em Natal (Brasil)

Retorno à polis

Maio 14, 2014

por Renato Nalini

Retorno à polisA polis grega é considerada o modelo de convívio ideal. Número razoável de cidadãos igualmente providos de condições de influenciar a gestão do interesse comum. Nenhum excesso. Apenas o suficiente para uma vida civilizada.

Aos poucos, a cidade se tornou pequena para abrigar todos os desejosos de usufruir da convivência a facilitação do subsistir. Repartição de tarefas, especialização, reciprocidade, solidariedade e fraternidade. Sonhos utópicos, mas que alimentaram gerações.

Sobrevieram as Nações, cujo invólucro afetivo concebeu a Pátria. Família amplificada, conjunto de cidadãos unidos pela consciência do passado comum, de um presente amorável e de irrecusável desejo de permanecer em comunhão.

Só que a Nação já não poderia acolher todos os cidadãos para decidir, na ágora, os destinos da polis. Os destinos nacionais passaram a depender da representação. Se as pessoas nem sempre são talentosas para gerir a coisa pública, ao menos têm condições de escolher aqueles que por elas o façam.

O fenômeno representativo se mostrou falível. Já que o representante responde por um ente abstrato – a Nação – e não ao povo, nem sempre este é atendido em suas aspirações.

Isso explica, de certa forma, o fracasso da política. A descrença do povo no seu representante. A generalização contaminadora de todo político. O representado não se sente vinculado àquele que elegeu e colocou em condição de influenciar a vida nacional.

Indaga-se o eleitor: para que serve a União? Na verdade, moro na cidade. É aqui que desenvolvo minha vocação, aqui alimento minha família, aqui conheço meus vizinhos e meus conterrâneos. É o porto seguro onde ancoro a minha embarcação vital.

Será que não é hora de revigorar a polis? Por que o município, que tem as maiores responsabilidades e atende à plenitude dos anseios de seus moradores, não tem por si o reconhecimento de sua verdadeira importância? Por que a sangria tributária que o “impostômetro” da Associação Comercial bem retrata, não contempla esta célula federativa que é pouco respeitada por nosso Federalismo assimétrico?

É hora de prestigiar a cidade, de fortalecer o município, de torná-lo capaz de responder aos anseios dos munícipes, que não moram na União, nem no Estado. Moram em suas cidades e querem que elas sejam respeitadas.

AS MENTIRAS “VERDADEIRAS”

Abril 28, 2014

por  Ives Gandra da Silva Martins

“Comparado ao carniceiro profissional

do Caribe, os militares brasileiros parecem

escoteiros destreinados apartando um conflito

de subúrbio” in “O homem mais lúcido do Brasil –

as melhores frases de Roberto Campos”, p. 53,

organização Aristóteles Drummond, Ed.

Resistência Cultural, 2014.

Na memória dos 50 anos do Movimento de 1964, que derrubou o governo Jango, em sido ele criticado pelos que fizeram guerrilha, muitos deles treinados na sangrenta ditadura de Cuba e que objetivavam implantar um regime semelhante no Brasil, ao mesmo tempo que se vangloriam como sendo os únicos e verdadeiros democratas nacionais. Assim é que a própria Comissão da Verdade se negou a examinar os crimes dos que pegaram em armas – muitos deles terroristas, autores de atentados a shoppings e de homicídio de inocentes cidadãos -, procurando centrar-se exclusivamente nos praticados pelo governo militar, principalmente nas prisões onde houve tortura.

Com a autoridade de quem teve um pedido de confisco de seus bens e abertura de um inquérito policial militar (IPM), nos termos do Ato Institucional n.º 5, em 13/2/1969, pertenceu à época à Anistia Internacional, combatendo a tortura perpetrada pelo governo, foi conselheiro da OAB-SP, opondo-se ao regime, e presidiu o Instituto dos Advogados de São Paulo na redemocratização, quero enumerar algumas “mentiras verdadeiras” dos adeptos de Fidel Castro recém-convertidos à democracia.

A primeira é a de que foram os militares que quiseram a derrubada do governo. Na verdade, foi o povo que saiu às ruas, com o apoio da esmagadora maioria dos jornais, como se pode ver pelas fotografias do dia 19 de março de 1964 na Praça da Sé, diante das sinalizações do governo de que pretendia instalar o comunismo no Brasil. Depois do fatídico 13 de março, em que Jango incitou os sargentos a se rebelarem contra a hierarquia militar, até mesmo nomeando um oficial-general de três estrelas para comandar uma das Armas, os militares apenas atenderam ao clamor popular para derrubá-lo.

A segunda mentira é a de que a repressão militar levou à morte de milhares de opositores. Entre combatentes da guerrilha, mortes nas prisões ou desaparecimentos, foram 429 os opositores que perderam a vida, conforme Fernão Lara Mesquita mostrou em recente artigo publicado no Estado. Por sua vez, os guerrilheiros, entre inocentes mortos em atentados terroristas e soldados em combate, mataram 119 pessoas.

Comparados com os paredóns de Fidel Castro, que sem julgamento fuzilou milhares de cubanos, os militares foram, no máximo, aprendizes desajeitados.

A terceira mentira é a de que o movimento militar prejudicou idealistas, que só queriam o bem do Brasil. Em comissão pelos próprios opositores do governo de então organizada, foram indenizadas 40.300 pessoas com a fantástica importância de R$ 3,4 bilhões.

Eu poderia ter requerido indenização, pois o pedido do confisco de meus bens e a abertura de um IPM contra mim prejudicaram, por anos, minha carreira profissional. Mas não o fiz, pois minha oposição, à época, ao regime não era para fazer, mais tarde, um bom negócio, com ressarcimentos milionários.

A quarta mentira é a de que os democratas recém-convertidos queriam uma plena democracia para o Brasil. A atitude de “admiração cívica” da presidente Dilma Rousseff ao visitar o mais sangrento ditador das Américas, Fidel Castro, em fotografia estampada em todos os jornais, assim como o inequívoco apoio ao aprendiz de ditador que é Nicolás Maduro, além de aceitar o neoescravagismo cubano, recebendo médicos da ilha – tratados, no Brasil, como prisioneiros do regime, sobre ganharem muito menos do que seus colegas que integram o programa Mais Médicos -, parecem sinalizar exatamente o contrário. Apesar de viverem sob as regras da democracia brasileira, há algo de um saudosismo guerrilheiro e uma nostalgia que revela a atração inequívoca por regimes que ferem os ideais democráticos.

E para não me alongar mais neste artigo, a quinta mentira é a de que o Brasil regrediu naquele período. Nada é menos verdadeiro. Durante o regime militar os ministros da área econômica eram muito mais competentes que os atuais, tendo inserido o Brasil no caminho das grandes potências. Tanto que, ao final, o Brasil estava entre as dez maiores economias do mundo. Hoje, com o crescimento da inflação, a redução do PIB, o estouro das contas públicas, o desaparecimento do superávit primário do início do século, os déficits do balanço de pagamentos e a destruição dos superávits da balança comercial, além do aparelhamento da máquina pública por não concursados – amigos do rei -, o País vai perdendo o que conquistara com o brilhante Plano Real, do presidente Fernando Henrique Cardoso.

O ministro Torquato Jardim, em palestra em seminário na OAB-SP, que coordenei, sobre Reforma Política (2/4), ofereceu dados alarmantes. O presidente Barack Obama, numa economia quase oito vezes maior que a do Brasil, tem apenas 200 cargos comissionados. A presidente Dilma tem 22 mil!

Tais breves anotações – mas já longas para um artigo – objetivam mostrar que, em matéria de propaganda, Goebbels, titular de comunicação de Hitler, tinha razão. Uma mentira dita com o tom de verdade, pela força da propaganda que o poder oferece, passa a ser uma “verdade incontestável”.

Espero que os historiadores futuros contem a realidade do período, a qual não pode ser contada fielmente por “não historiadores” que se intitulam mentores da “verdade”, ou por comissões com esse estranho nome criadas.

Heróis de Abril

Abril 24, 2014

pro Euclides Cavaco

 Cravo

Deixem-me cantar Abril
E evocar tal heroísmo
Militar junto ao civil
Que derrubou o fascismo.
Prestar aos bravos meu preito
Dizer-lhes Valeu a pena
Os cravos e o tema eleito
Grandola Vila Morena !…

Deixem-me clamar victória
Às nossas Forças Armadas
Pelo seu triunfo e glória
Com o povo de mãos dadas.
Que a hístória jamais olvide
Os militares de excelência
Que incutiram fim à pide
E à maldita prepotência…

Deixem-me exaltar os bravos
Do nosso Portugal novo
Da Revolução dos Cravos
Que trouxe justiça ao povo.
Dando a Abril o sentido
Com coragem e vontade
De abrir com o povo unido
As portas da liberdade !…

CABRAL

Abril 23, 2014

Por Raquel Naveira

Ilustração de Liliane Lililane Gobbo

Ilustração de Liliane Lililane Gobbo

Cabral,
Navegador,
Bom soldado,
Cristão,
Leal,
Chefe ideal
Da esquadra de Portugal.

Partiram as treze naus,
Semanas e semanas no oceano,
Com medo de dragões,
Serpentes aladas
Que brotavam dos sonhos maus.

As caravelas ligeiras
Singravam os mares,
Uma sumira;
De repente, algas marinhas,
Aves nos ares,
De terra à vista, o sinal.

Um tripulante traz a notícia:
Há homens pardos e nus,
Beiços furados com ossos brancos
Como fuso de algodão,
Mas são mansos,
Podem descer afinal.

Trocas de presentes,
Danças,
Flautas,
Chocalhos,
Tambores;
Um localiza o Cruzeiro do Sul,
Outro escreve uma carta,
Outro caça papagaios,
É bela a ilha de Cabral!

A cruz,
Símbolo de fé e posse
É o novo padrão,
Todos oram,
Fazem gestos,
Cantam estranha canção.

Regressa Cabral
Entre tempestades,
Ataques muçulmanos,
Sete naus tragadas,
Destroços humanos
Numa refrega infernal.

Lisboa festeja a frota,
Especiarias,
Porcelanas,
Sedas,
Secretas rotas
É tudo que importa
Para o trono,
Dono de meio mundo,
O rei de Portugal.

Morreu esquecido,
Injustiçado e senil,
Quem era mesmo Cabral?
Que terra selvagem era aquela
De toras de pau-brasil?

Faça você mesmo seu Balanço Existencial

Dezembro 10, 2013

Por Saulo Krichanã Rodrigues

Em 2013 se está comemorando o Ano da Contabilidade.

Vai daí, em vários jornais e revistas, uma série de anúncios institucionais tem relevado o papel desses profissionais e a sua importância no apoio e desenvolvimento de atividades e iniciativas de toda a ordem.

Pessoalmente, sou admirador desses profissionais. E que, aliás, têm como patrono um matemático e religioso italiano – Frei Luca Bartolomeo de Pacioli – que teve Leonardo Da Vinci como um de seus alunos (e que ilustrou uma de suas obras).

E foi, precisamente, em apenas um capítulo de sua primeira obra, editada em 1494 – dois anos após a Descoberta da América –, e voltada a desvendar os segredos e os princípios da proporcionalidade, da matemática, da geometria e da álgebra, que Frei Luca lançou as bases do que viria a se constituir na Moderna Contabilidade, tal como hoje a conhecemos.

Pelo que passou a partir de então a ser conhecido como “Método Veneziano” ou o “Método das Partidas Dobradas”, todas as empresas, organizações e até mesmo os indivíduos tomados como pessoas fisicas, passaram a registrar e a obter o resultado de suas transações financeiras através de diversas variáveis chamadas “contas”.

Cada uma dessas “contas”, por sua vez, passou a refletir um aspecto em particular do negócio ou da atividade que se estava querendo registrar e acompanhar. E a cada uma delas passou-se a atribuir um determinado valor monetário.

Assim, cada transação financeira passou a ser caracterizada e registrada sob a forma de “entradas” em pelo menos duas contas, nas quais ao total de débitos deve sempre corresponder um valor igual e equivalente de créditos.

Assim, para formar Patrimônio, através da compra de algum bem – uma casa, por exemplo – regstram-se duas “contas”: uma “conta caixa” que receberá uma “entrada” de dinheiro suficiente de recursos para comprar a casa (crédito) e uma saída quando a casa for paga (débito); e uma “conta Patrimônio” que receberá de “entrada” um aporte do valor da casa (crédito) e uma saída que corresponde ao valor de patrimônio que passa a ser devido a quem comprou a casa (débito)

É como se dissessemos que tudo que é criado numa empresa será sempre representado em seu ATIVO. Mas, ao mesmo tempo, o valor desse ATIVO é devido a quem formou esses ativos com recursos próprios (PATRIMÔNIO) ou de TERCEIROS (EMPRÉSTIMOS), o que corresponde por outro lado, ao PASSIVO das transações que se deseja representar na Contabilidade do negócio ou atividade em questão.

Pode-se dizer de outra forma, que os recursos ou os meios que utilzaremos para a constituição de um negócio – sejam eles os nossos prórios recursos ou os recursos que buscaremos com terceiros –, serão representados por um conjunto de contas.

E que, por outro lado, que os usos ou as destinações e o emprego desses recursos no negocio que estanos criando serão representados por outro conjunto de contas.

Podemos repreentar esse conjunto de contas em duas colunas que irão representar um “balanço” entre o conjunto de contas que irão ser mobilizadas nos negócios (as CONTAS PASSIVAS ou as “fontes de recursos” que serão captadas para criar o negócio), e as contas que irão representar a aplicaçã dos recursos captados para iniciar o negócio (as CONTAS ATIVAS ou os “usos de recursos” que estarão sendo utilizadas para fazer o negócio se movimentar).

Mas o objetivo desse artigo não é, de fato, o ensino da contabilidade: até porque não tenho o conhecimento necessário para tanto.

Mas, tão somente de um lado chamar a atenção para o fato de que muitas vezes falamos (como fazemos) Contabilidade sem saber que a estamos exercendo ou exercitando.

Quando dizemos ao final do mês – ou com a inflação do tomate e do chuchu em alta, antes mesmo do final do mês – que “a conta de salário está devedora” estamos a rigor atestando que a conta de entrada de salário (crédito) não está sendo suficiente para lastrear e prover todas as demais contas que compõem o balanço mensal (ou seja, as contas a “débito” do supermercado, do pagamento de mensalidades escolares, dos transportes, do cineminha e outras mais estão ficando com falta de provimento).

Ou seja, tudo leva a crer que vamos ter que sacrificar o cineminha ou andar a pé se não quizermos acabar com o salário antes de acabar o mês. Ou então, usar o limite do cheque espacial (sic) ou do cartão de crédito, até que o vil SERASA nosso da cada dia nos traga de volta à sempre antipática realidade que OU estamos gastando mais do que podemos OU estamos precisando reforçar as preces e visitas à imagem de Santa Edwiges.

E como estamos quase já ao final do ano (que acaba como Nostradamus queria, a todo dia 20 de dezembro de cada ano, para recomeçar com a chegada das contas do IPTU, IPVA e com a rematrícula no feriado do dia 1º de janeio, o Dia Mundial da (falta) de Paz, para quem não tinha encontrado ainda os carnês que haviam ficado debaixo da árvore de Natal), na verdade o que gostaria de sugerir a cada um de nós é que tentássemos enxergar um Balanço diferente neste final de ano.

Mesmo que, pela pressão das “contas a pagar” (sic), este ano em certos momentos pareça ser o último ano de nossas vidas!!!

Não sei se por ter visto em um dos anúncios institucionais sobre o ano da Contabilidade o grande contador Antoninho Trevisan – que tanto admiro como profissional – ou por ter cismado que jamais um quase santo, como deviam ser os religiosos antigos (e tal como o Papa atual parece ser) iria inventar alguma coisa como a Contabilidade se não houvesse por traz dela também alguma mensagem maior, é que resolvi fazer um “Balanço Existencial” partindo dos mesmos princípios do monge fransciscano que se tornou Frei, nascido em Sansepolcro que é uma comuna italiana da região da Toscana, província de Arezzo, de grandes e inesquecíveis vinhos.

Tente Você também, paciente e benevolente leitor: com base nos poucos rudimentos contábeis aqui oferecidos – e tomando por base um BALANÇO SUGERIDO que vai ao fim de mais um de nossos torturantes artigos, recorte as palavras e os conceitos que lhes sao existencialmente mais caros e importantes. E cole em cartolina ou papel cartão, como se fossem aquelas fichas de jogos para brincar em família.

E monte o seu próprio Balanço Existencial.

Aporte, por exemplo, no lado das Contas de Passivo (as contas que dão os meios para a realização dos negócios, lembra?) os seus recursos próprios, E que poderiam se constituir no seu Patrimônio e seu Capital Pessoal, tais como o Amor, a Amizade, a Compreensão (pode também ser a Tolerância), ao lado de outras contas importantes e mesmo primordiais como o seu Caráter, Princípios e Crenças.

Como ninguém consegue ser autosuficiente (pelo menos o tempo todo), não se envergonhe de captar (ainda do lado dos meios ou das fontes para fazer o seu Balanço Existencial), outros Recursos de Terceiros não menos importantes, tais como o Conhecimento e a Sabedoria e demais Ensinamentos Diversos; os Exemplos a Seguir e a Evitar (notadamente estes); a Paciência, e tantos mais que a sua alma e coração estiverem demandando.

Mobilizados os reursos do lado das fontes (ou dos meios para se realizar seu Balanço Existencial), vamos fazer o negócio existir e andar.

Vamos, pois, do lado do ATIVO (ou dos “usos” dos recursos próprios e de terceiros amealhados) imobilizar em FAMILIA 1 e FAMILIA 2 (não se trata de poligamia explícita, não): mas da família que o originou e a familia que Você constituiu (ou quer constituir).

Se Você usou e cultivou bem os insumos do Amor e da Amizade deverá ter uma rotunda e corpulenta “Conta a Receber” de Curto, Médio e Longo Prazo, na forma de recebíveis eternos de Solidariedade, Companheirismo, Gratidão, Cumplicidade (benigna) e daí por diante.

O seu dia a dia estará representado no que se chama de CONTAS DE RESULTADO, eis que as contas ATIVAS e PASSIVAS do Balanço só são apuradas uma vez por ano: mas, convenhamos, pela composição das mesmas não dá para fazer como se fazia antes quando o médico pedia exames para certamente cortar nossas estripulias com açucar e doces e ficavamos em jejum de glicose algumas semanas antes né?

Assim, o bem ou o mal que fazemos (e recebemos) assim como as bobagens ativas e passivas (sic), são imputadas a nós diária e sistematicamente. Ao final do exercício (ou o final de ano), podemos ser credores ou devedores dessas contas.

O seu resultado é “jogado” contra a conta de Patrimônio e Capital Pessoal: se for negativa, reduz nossa capacidade de gerar um Balanço Existencial positivo ao longo do tempo. Se fora positiva, agregamos valor ao valor de nossos negócios (e, portanto, as nossas ações e Patrimônio Líquido, sobem que nem a as ações da PETROBRAS com os reajustes reais da gasolina, na Bolsa de Valores Existencial, a IBOVESPAEXIST).

Se tiver noções maiores de Contabilidade Empresarial, pode, por exemplo, achar o CAPITAL DE GIRO PRÓPRIO no seu BALANÇO EXISTENCIAL, apurando o resultado da identidade ATIVO CIRCULANTE – PASSIVO CIRCULANTE: se as contas do ativo execederam as do passivo, Você está “causando”, cara!

Se for negativa… é melhor pensar em trilhar o caminho de Santigo de Compostella o quanto antes…

E aí?

Preparado para montar o seu BALANÇO EXISTENCIAL? Ou está com medo?

É, meu caro, “não está facil pra ninguém” montar um bom Balanço Existencial!

Vá em frente! Faça o seu!

Ou crie as bases para fazer um “balançozinho” um pouco melhor para os próximos anos: que dê para mostrar aos seus camaradas nas redes sociais!

Tal como por certo pensava, na origem, o nosso Frei Luca di Bartolomeo de Pacioli.

Feliz 2014!

Documentário sobre José Bonifácio é apresentado na Bibloteca Mario de Andrade em São Paulo

Setembro 27, 2013

Por Eulália Moreno

Os 250 anos do “Patriarca da Independência”, José Bonifácio de Andrade e Silva são comemorados no Brasil com a exibição do documentário de 52 minutos dirigido por Francisco Manso e produzido pela Rádio e Televisão de Portugal ( RTP ) com o apoio do Parque Biológico de Gaia e da Ciência Viva e a colaboração do Centro de Ecologia Aplicada Professor Baeta Neves. Em São Paulo e Santos as exibições gratuitas contam com o apoio e organização do Consulado Geral e Consulado Honorário de Portugal em São Paulo e Santos, respectivamente.

No dia 24, o documentário estreou no SESC da cidade de Santos e contou com a presença do director Francisco Manso e a mediação nos debates que se seguiram á exibição de José Augusto do Rosário , gestor do Consulado Honorário de Portugal em Santos. ( foto de Carlos Oliveira).

Em 25 de setembro o documentário foi exibido no SESC Pinheiros seguindo-se um ” bate papo” com o director e com o roteirista Francisco Castro Rego. Hoje, dia 26, na Universidade Mackenzie, às 14h00 e ás 19h00 na Bibliotea Mario de Andrade ocorrem as exibições sempre com entrada gratuita.

Um pouco sobre José Bonifácio

A vida de José Bonifácio de Andrada e Silva marca e documenta ela própria a história da Ciência e da Política no início do século XIX. O relato da sua trajetória de aprendizagem científica é feito pelo próprio, como Secretário Perpétuo da Academia Real das Ciências de Lisboa, numa representação ficcionada da preparação do seu discurso histórico de Junho de 1819, que antecedeu o seu regresso ao Brasil.

José Bonifácio relembra os tempos em que, voltando do Brasil, chega à Universidade de Coimbra e se matricula nos cursos de Direito, de Filosofia e de Matemática.

A pesca das baleias que observou durante a sua juventude na armação de Bertioga, perto de Santos, é o tema escolhido para um estudo de admissão à Academia de Ciências de Lisboa.

A partir de 1790, já em Paris, numa época em que fervilhavam os ideais da Revolução, José Bonifácio aprofundou os seus conhecimentos de Química e Mineralogia. A história leva os espectadores em seguida a Freiberg, cidade alemã com grande tradição mineira, onde José Bonifácio foi colega de estudos do célebre naturalista alemão Humboldt.

As imagens das ferrarias do Alge associam-se aos trabalhos de José Bonifácio após o seu regresso a Portugal, em 1802, como Intendente Geral das Minas e Metais do Reino e recordam que foram os artilheiros das ferrarias que foram por ele chamados como chefe do Corpo Acadêmico Militar para combater em Coimbra a invasão francesa de 1808.

Depois da fuga da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro o documentário continua na Academia das Ciências, já depois das invasões francesas, com José Bonifácio a desenvolver os seus trabalhos científicos. Os trabalhos sobre as dunas da costa de Lavos documentam a importância da arborização de que José Bonifácio foi pioneiro e as paisagens de Trás-os-Montes ilustram os seus estudos sobre as possibilidades de exploração de minas.

Em 1820, já no Brasil, José Bonifácio continua as suas explorações mineralógicas numa viagem de Santos a São Paulo. Como Vice-Presidente do Governo de S. Paulo, defende a civilização dos índios e a emancipação gradual dos escravos e contestava a decisão das Cortes de que as Províncias do Brasil dependessem de Lisboa e que ordenavam a D. Pedro que regressasse a Portugal.

D. Pedro, influenciado por José Bonifácio, proferiu então a célebre frase “Independência ou Morte”. A influência de opositores a José Bonifácio, em particular pela sua posição contra a escravatura, e também de Domitila, amante de D. Pedro, fez com que José Bonifácio fosse deportado para Bordéus em 1823.

A morte da Imperatriz Leopoldina, o novo casamento de D. Pedro e o afastamento de Domitila permitiram o regresso de José Bonifácio ao Brasil. D. Pedro, agradecido antes de partir para Portugal em 1831 para recuperar o trono ao seu irmão D. Miguel, nomeia José Bonifácio tutor dos seus filhos.

As imagens da ilha de Paquetá, na baía de Guanabara, onde José Bonifácio se fixou e onde passou os últimos anos de vida até à sua morte em 1838, e do Panteão dos Andradas, em Santos, fecham a narrativa da sua vida. Ficam para a história a defesa da Natureza, mas também a defesa dos índios, dos escravos, dos brasileiros e dos portugueses sendo, talvez, o primeiro estadista de dimensão universal a compreender que a defesa dos recursos naturais é a mesma defesa dos direitos do homem, e que Natureza e Humanidade são um todo único.

História da Festa de Corpus Christi

Junho 3, 2013

por Felipe Aquino

No final do século XIII surgiu em Lieja, Bélgica, um Movimento Eucarístico cujo centro foi a Abadia de Cornillon fundada em 1124 pelo Bispo Albero de Lieja. Este movimento deu origem a vários costumes eucarísticos, como por exemplo, a exposição e bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante a elevação na Missa e a festa do Corpus Christi.

Santa Juliana de Mont Cornillon, priora da Abadia, foi escolhida, por Deus para criar esta Festa. A santa desde jovem teve uma grande veneração ao Santíssimo Sacramento. Esperava que algum dia tivesse uma festa especial ao Sacramento da Eucaristia. Este desejo, conforme a tradição foi intensificado por uma visão que teve da Igreja sob a aparência de lua cheia com uma mancha negra, que significava a ausência dessa solenidade.

Juliana comunicou esta imagem a Dom Roberto de Thorete, bispo de Lieja, também ao douto Dominico Hugh, mais tarde cardeal legado dos Países Baixos e Jacques Pantaleón, mais tarde o Papa Urbano IV. A festa mundial de Corpus Christi foi decretada em 1264, 6 anos após a morte de irmã Juliana em 1258, com 66 anos. Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada em 1599 pelo Papa Clemente VIII.

Dom Roberto não viveu para ver a realização de sua ordem, já que morreu em 16 de outubro de 1246, mas a festa foi celebrada pela primeira vez no ano seguinte, na quinta-feira após à festa da Santíssima Trindade. Mais tarde um bispo alemão conheceu os costumes e o levou por toda atual Alemanha.

Milagre de Bolsena

Certa vez, quando o padre Pedro de Praga, celebrou uma Missa na cripta de Santa Cristina, em Bolsena, Itália, aconteceu um milagre eucarístico: da hóstia consagrada começaram a cair gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Alguns dizem que isto ocorreu porque o padre teria duvidado da presença real de Cristo na Eucaristia.

O Papa Urbano IV (1262-1264), que residia em Orvieto, cidade próxima de Bolsena, onde vivia S. Tomás de Aquino, informado do milagre, então, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto. Isso foi feito em procissão. Quando o Papa encontrou os fiéis caminhando na entrada de Orvieto, teria então pronunciado diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi”.

Ainda hoje se conservam, em Orvieto, os corporais onde se apóia o cálice e a patena durante a Missa e também se pode ver a pedra do altar em Bolsena, manchada de sangue.

Instituição da Festa

O Santo Padre movido pelo prodígio, e pelo pedido de vários bispos, fez com que se estendesse a festa do Corpus Christi a toda a Igreja por meio da bula “Transiturus” de 8 setembro do mesmo ano, fixando-a para a quinta-feira depois da oitava de Pentecostes.

O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa morreu logo em seguida (2 de outubro de 1264), um pouco depois da publicação do decreto, prejudicando a difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e, no Concílio Geral de Viena (1311) ordenou mais uma vez a adoção desta festa.

Em 1317 é promulgada uma recopilação de leis, por João XXII, e assim a festa é estendida a toda a Igreja. Na diocese de Colônia na Alemanha, a festa de Corpus Christi é celebrada antes de 1270.

Procissão

Na paróquia de Saint Martin em Liège, em 1230, quando começou as homenagens ao Santíssimo Sacramento a procissão eucarística acontecia só dentro da igreja. Em 1247, aconteceu a primeira procissão eucarística pelas ruas de Liège, já como festa da diocese. Depois se tornou festa nacional na Bélgica.

Nenhum dos decretos fala da procissão com o Santíssimo como um aspecto da celebração. Porém estas procissões foram dotadas de indulgências pelos Papas Martinho V e Eugênio IV, e se fizeram bastante comuns a partir do século XIV.

Finalmente, o Concílio de Trento declara que muito piedosa e religiosamente foi introduzido na Igreja de Deus o costume, que todos os anos, o santíssimo seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos.

Todo católico deve participar dessa Procissão por ser a mais importante de todas que acontecem durante o ano, pois é a única onde o próprio Senhor sai às ruas para abençoar as pessoas, as famílias e a cidade.

Tapetes, arte e religiosidade

Em muitos lugares criou-se o belo costume de enfeitar as casas com oratórios e flores e as ruas com tapetes ornamentados, tudo em honra do Senhor que vem visitar o seu povo.

No dia dedicado ao Corpo de Deus (Corpus Christi), várias cidades brasileiras, organizam procissões, que percorrem as ruas enfeitadas com tapetes. A confecção de tapetes de rua é uma magnífica manifestação de arte popular.

Utilizando diversos tipos de materiais, como serragem colorida, borra de café, farinha, areia e alguns pequenos acessórios, como tampinhas de garrafas, flores e folhas, as pessoas montam, com grande arte, um tapete pelas ruas, formando desenhos relacionados ao Santíssimo.

Por este tapete passa a procissão, o sacerdote vai á frente carregando o ostensório e em seguida pelas pessoas que participam da festa. Tudo isto tem muito sentido e deve ser preservado.

Devoção no Brasil

A tradição de fazer o tapete com folhas e flores vem dos imigrantes açorianos. Essa tradição praticamente desapareceu em Portugal continental, onde teve origem, mas foi mantida nos Açores e nos lugares em que chegaram seus imigrantes, como por exemplo Florianópolis-SC.

As procissões portuguesas eram esplendorosas: tropas, fidalgos, cavaleiros, andores, danças e cantos. A imagem de São Jorge, padroeiro de Portugal, seguia a procissão montada em um cavalo, rodeada de oficiais de gala.

O barroco enriqueceu esta festa com todas as suas características de pompa. Em todo o Brasil esta festa adquiriu contornos do barroco português. Corpus Christi é celebrado desde a época colonial com uma abundância de cores. A tradição de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais.

Fonte: http://cleofas.com.br/historia-da-festa-de-corpus-christi/