Archive for the ‘Ciências’ category

A Igreja é contra a teoria da evolução?

Abril 29, 2014

por Felipe Aquino

Evolução-Criação-300x128A Igreja não é contra a teoria da evolução, desde que seja entendido que esta evolução foi querida por Deus, programada e executada por Ele. A Igreja também não abre mão de que a alma humana, imortal e racional, é criada diretamente por Deus e colocada na pessoa no instante da sua concepção, quando o óvulo feminino é fecundado pelo sêmen masculino. Dentro dessa ótica, a Igreja aceita a teoria do início do mundo a partir do Big Bang, a grande explosão que teria dado inicio ao universo hoje conhecido. Mas o que é o Big Bang?

No início do século os astrônomos começaram a mapear o Universo, e descobriram que as galáxias pareciam estar se afastando da Terra com velocidades cada vez maiores, de modo que quanto mais longe estivessem tanto maior era a sua “velocidade de fuga”. Era como se os grupos de galáxias fossem partes de uma explosão acontecida a bilhões de anos. Daí nasceu a teoria do Big-Bang (grande explosão), segundo a qual o Universo começou a partir dos fragmentos desta gigantesca explosão.

A partir das velocidades relativas, observadas nas galáxias mais distantes, a época da explosão foi calculada em aproximadamente 15 bilhões de anos. Uma matéria ultra-comprimida teria explodido numa nuvem de energia e partículas elementares, aquecidas a uma temperatura inimaginável de bilhões de graus Celcius. Dentro desta esfera havia apenas fótons e nêutrons comprimidos de modo tal que um litro dessa matéria pesaria bilhões de toneladas e tinha a temperatura de 1015 (= 1 seguido de 15 zeros) graus C. Essa esfera teria explodido, jogando no vazio a matéria com a velocidade da luz.

Apenas um centésimo de segundo após essa grande explosão, a temperatura descera a 300 bilhões de graus C; os fótons e os nêutrons se condensaram em elétrons e núcleos, dando origem a uma massa de hidrogênio incandescente, que aos poucos foi se condensando em galáxias de estrelas. No interior das estrelas, a cerca de 20 milhões de graus, esse hidrogênio foi se transformando em hélio, num processo de combustão que liberava enormes quantidades de energia. Em seguida, num complexo processo de evolução química, esse hélio se converteu em outros elementos (oxigênio, carbono, nitrogênio, ferro…), que se encontram nas estrelas.

Alguns bilhões de anos após a explosão inicial, originaram-se as estrelas, os planetas, os asteróides e os satélites que constituem o nosso sistema solar e o universo inteiro. Sabe-se hoje que o espaço é perpassado por um campo de radiações, que têm a temperatura de 2,7 graus absolutos (270 graus centígrados abaixo de zero). Essas radiações são o resíduo da radiação muito mais intensa e quente que devia perpassar o universo nas suas fases iniciais de existência. Por efeito do processo de expansão devido ao big-bang inicial, a radiação eletro-magnética originária teve que diminuir a sua temperatura até chegar hoje, 15 bilhões de anos depois, a uma temperatura próxima do zero absoluto.

A presença dessa radiação, que perpassa o universo e que é prevista pela teoria do big-bang, poderia ser a prova mais convincente desta teoria, que ainda não é aceita por todos os astrônomos e físicos. Um pequeno grupo acredita que o Universo é eterno, isto é, não teve começo e nem terá fim. É a teoria do estado constante. A fé não aceita esta teoria, pois a eternidade do Universo faria dele um Absoluto, um Deus. Só Deus é eterno; só Deus não teve começo e não terá fim. O eterno é perfeito; não evolui, como o Universo evolui, teve início e terá fim.

Para os físicos modernos, a melhor explicação da origem do universo está na teoria do Big Bang, que tem sido estudada exaustivamente; e a Igreja não a desaprova, desde que se considere o que foi dito acima.

O TRIBUNAL EUROPEU E OS EMBRIÕES HUMANOS

Dezembro 4, 2012

Por Ives Gandra da Silva Martins

O Tribunal de Justiça Europeu, em 18 de outubro de 2011 (Grande Secção), declarou a impossibilidade de ser patenteada a utilização de embriões humanos, não só para fins industriais e comerciais, mas também para a investigação científica, dando, entretanto, espaço para fins terapêuticos ou de diagnóstico, na medida em que seja útil para o próprio embrião.

A decisão seguiu a determinação prevista no artigo 6º, nº 2, alínea “c” da Diretiva da Comunidade Européia de nº 98/44. A definição do que seja embrião humano foi dada pelo próprio acórdão “constituem embrião humano todo o óvulo humano desde a fase da fecundação”.

Termina, o acórdão do Tribunal, com as seguintes determinações:

“2) A exclusão da patenteabilidade relativa à utilização de embriões humanos para fins industriais ou comerciais, prevista no artigo 6º, nº 2, alínea c), da Directiva 98/44, abrange também a utilização para fins de investigação científica, só podendo ser objecto de uma patente a utilização para fins terapêuticos ou de diagnóstico aplicável ao embrião humano e que lhe seja útil.

3) O artigo 6º, n.° 2, alínea e), da Directiva 98/44 exclui a patenteabilidade de uma invenção, quando a informação técnica objecto do pedido de patente implicar a prévia destruição de embriões humanos ou a sua utilização como matéria prima, independentemente da fase em que estas ocorrem e mesmo que a descrição da informação técnica solicitada não mencione a utilização de embriões humanos”.

Do referido acórdão, é de se concluir que a comunidade européia, por seu Tribunal Maior –não Cortes de derivação ou de poder delegado- reunido em Grande Secção, afastou a tese de que o embrião humano não seria um ser humano, pois admitiu a vida desde a concepção, ao não admitir patentes envolvendo a negociação e destruição de vidas humanas, na sua forma embrionária, não só para fins de industrialização e comércio pelos grandes laboratórios, mas também para investigação científica.

No mesmo acórdão, deixou claro que a destruição dos embriões ou sua utilização como matéria-prima, também não podem servir de base para sua patenteabilidade, visto que apenas as investigações que beneficiem os próprios embriões, ou seja, para sua preservação, são admitidas.

O acórdão – de pouca repercussão entre os defensores dos que se utilizam células embrionárias (embriões humanos)para pesquisas e que o Supremo Tribunal Federal permitiu fossem realizadas no Brasil, quando admitiu a constitucionalidade por inteiro da lei de biosegurança – parece, decididamente, sinalizar que, ao falar em células embrionárias, entende aquela Corte Suprema da União Européia estar falando em seres humanos na sua forma embrionária, algo que –creio que desde 2003– a Academia de Ciências do Vaticano, com seus 29 prêmios Nobel entre os 80 acadêmicos, já tinha definido, em sessão exclusivamente dedicada a caracterizar o início da vida humana.

A intenção deste artigo não é polemizar, mas demonstrar que a melhor solução, respeitando a dignidade da vida humana, é buscar soluções terapêuticas, a partir das células adultas reprogramadas, conforme as experiências de Yamanaka – que acaba de ganhar o prêmio Nobel deste ano – sem quaisquer riscos de destruição de seres humanos, na sua forma embrionária, e com resultados terapêuticos cada vez maiores e melhores, os quais começaram a ser alcançados desde os tempos em que as experiências se faziam exclusivamente com as células adultas, ainda quando não reprogramadas.

Células Tronco Adultas

Novembro 5, 2012

Por Ives Gandra da Silva Martins

Em  29/05/2008, com grande cobertura da imprensa, houve o início do julgamento da constitucionalidade da lei sobre a utilização de células embrionárias para experiências científicas (Lei nº 11.105/2005), por força da Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria Geral da República (ADI 3510), que entendia ser inconstitucional a destruição de seres humanos em sua forma embrionária.

Representando a CNBB, mostrei, da tribuna do Pretório Excelso, que tais experiências —há um fantástico insucesso nestes 15 anos de pesquisas em todo o mundo— seriam desnecessárias, pois três meses antes, o médico japonês Shinya Yamanaka conseguira, reprogramando as células tronco adultas, ou seja, do próprio organismo humano, obter os mesmos efeitos pluripotentes, que se alegava possuírem as células embrionárias, o que seria indispensável para o sucesso das experiências, na verdade, sucessivamente mal sucedidas. Dizia-se, à época, que as células tronco adultas teriam efeitos apenas multipotentes, curando algumas doenças e não todas, como curariam as células embrionárias, quando fossem solucionados os problemas de rejeição e formação de teratomas.

Mostrei, na ocasião, que a Academia de Ciências do Vaticano —que possuía, então, 29 Prêmios Nobel, no quadro de seus 80 acadêmicos – discutira a matéria,  concluindo que o zigoto (primeira célula) é um ser humano, com todos os sinais que constituirão a sua integralidade, quando adulto. Mostrei, inclusive, que, nos Estados Unidos, já ocorria a adoção de células embrionárias por casais sem filhos e que, na Alemanha, as experiências com células embrionárias não podiam ser feitas com material proveniente de mulheres alemãs, mas apenas com óvulos de mulheres de outros países.

Por fim, para não alongar este artigo, cercado por uma legião de cadeirantes, mostrei-lhes que as experiências com células embrionárias geravam tumores e rejeição, nas experiências realizadas com animais, algo que, com as experiências de reprogramação celular de Thompson e Yamanaka, não acontecia, por serem células do próprio organismo.

O certo é que por seis votos a cinco o Supremo Tribunal Federal optou pelas experiências com a destruição de seres humanos na sua forma embrionária, provocando inversão maior de recursos públicos nas experiências mal sucedidas, apesar das questões éticas envolvidas, e menor, nos bem sucedidos experimentos com células adultas.

Felizmente, a Academia Sueca, ao outorgar o Prêmio Nobel a Yamanaka, sinalizou o que realmente se pode esperar das experiências com as células adultas reprogramadas para efeitos pluripotentes, que não geram rejeição, teratomas ou problemas éticos de qualquer natureza. O prêmio à Yamanaka demonstra nitidamente que as experiências com as células embrionárias não sensibilizaram os acadêmicos suecos.

O tempo é sempre o senhor da verdade.

Armando Rocha-Trindade. Pioneiro do Ensino à distância em Portugal

Junho 10, 2009

In Memoriam” 

Armando Rocha-Trindade

Armando Rocha-Trindade

É com grande pesar que a Universidade Aberta (UAb) comunica o falecimento do Prof. Doutor Armando Rocha Trindade (1937-2009), fundador da UAB e seu primeiro reitor, que partiu ao princípio da tarde do dia 28 de Maio de 2009, deixando mais pobre o ensino superior e o País.

Nascido em Lisboa, a 28 de Maio de 1937, Armando Rocha Trindade licenciou-se em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico (IST), em 1961; doutorou-se em Física, em 1970, pela Faculdade de Ciências da Universidade Paris, tendo-se tornado Professor Extraordinário e Agregado em Física no IST, em 1974 e, em 1980, Professor Catedrático do Grupo de Disciplinas de Física do mesmo Instituto.

Figura que desde sempre se destacou pelo seu interesse pelo Ensino, e pela procura de soluções originais e inovadoras para os problemas educativos do País, Rocha Trindade desempenhou os cargos de Director-Geral do Ensino Superior (1975-1976); de Presidente da Comissão Científico-Pedagógica do Ano Propedêutico (1978-1981); de Presidente do Instituto Português de Ensino a Distância (1980-1988) e de Presidente do Instituto de Tecnologia Educativa (1987-1988).

Dedicou grande parte da década de 80 a actividades relacionadas com a concepção, o projecto e a criação de uma universidade de Ensino a Distância em Portugal, sempre com o objectivo de contribuir para a melhoria dos índices de formação superior de vastas camadas da população portuguesa, apostando em metodologias e instituições que pudessem proporcionar formação contínua e formação superior a adultos, já plenamente inseridos na vida activa.

Na sequência desse seu labor fundou a Universidade Aberta, em 1988, e dela foi Reitor em dois mandatos consecutivos (1989-1994 e 1994-1998), tendo também impulsionado a criação da Universidade Aberta Internacional da Ásia, constituída há 15 anos, em Macau.

Participou igualmente na fundação de algumas das principais redes europeias de educação a distância (como a EDEN – European Distance and E-Learning Network e a EADTU-European Association of Distance Teaching Universities), tendo exercido o cargo de Presidente do ICDE-International Council for Open and Distance Education (1995-1999); de membro do Conselho Executivo da EADTU (1987-1997) e de vice-presidente da EDEN (1990-1998).

Foi ainda membro do High Level Expert Group on the Societal Consequences of the Information Society, da Comissão Europeia (1995-1997), tendo desenvolvido, como perito, numerosos estudos para outros organismos internacionais e governos nacionais.

Armando Rocha Trindade produziu uma centena e meia de contribuições científicas e pedagógicas sobre Educação de Adultos e Educação a Distância, obra que se encontra disseminada em artigos, conferências e livros publicados em Portugal e no estrangeiro.

Foi sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, membro convidado do Senado da Universidade do Minho, Assessor para assuntos de Ciência e Tecnologia do Instituto de Defesa Nacional e delegado português junto do Projecto DELTA.

Titular de várias condecorações francesas, das quais se destacam a Ordre des Palmes Académiques (Comendador) e a Ordre national du Mérite(Oficial), foi analogamente Doctor Honoris Causa (Humane Letters) da State University of New York (1997), e da Open University do Reino Unido (1998), Professor Catedrático Honorário da University of External Studies da Federação Russa (1996) e Honorary Advisor da Shanghai Television University, da República Popular da China (1998).

Do mesmo modo, em 2002 foi distinguido com o prémio Robert de Kieffer International Award da Association for Educational Communication and Technology.

O Salão Nobre da Universidade Aberta exibe o seu retrato, brilhantemente pintado por Maluda, em 1994.

No âmbito da celebração do vigésimo aniversário da UAb (2 de Dezembro de 2008 a 2 de Dezembro de 2009), a Universidade Aberta homenageia ainda o seu reitor inaugural com a atribuição do Prémio Armando Rocha Trindade, destinado à melhor dissertação de mestrado sobre Educação a Distância.