Archive for the ‘Música’ category

Fado no Clube Português

Setembro 30, 2014
Logo Clube Portugues2

No próximo dia 4 de outubro, a partir das 15 horas, o projeto “Domingo no Clube” apresenta a fadista Adélia Pedrosa acompanhada pelo guitarrista Humberto Fernandes e o viola Bonfim.

Imperdível! Convide seus amigos e familiares.

Entrada franca.

Serviço:

Data: Sábado, 4 de outubro

Horário: a partir das 15 horas

Local: Clube Português

Rua Turiassú, 59 – Perdizes

Domingo no Clube: 5º aniversário do programa “Solo Tango” – Rádio Trianon AM

Julho 30, 2014

Solo-Tango convite 3 de agosto

Artistas Negros da Música Popular e do Rádio

Março 6, 2014
Foto_capa

Capa do Livro

Em seu novo livro, Thais Matarazzo resgata as memórias dos cantores negros da música popular, do carnaval de rua e do rádio, esquecidos na poeira do tempo.

Enriquece, com esta obra, a memória da música popular brasileira. A autora, com um toque de leveza e originalidade no seu texto, traz a luz interessantes momentos das trajetórias artísticas de Henricão, Vassourinha, Risadinha e Chocolate. Todos nascidos em São Paulo e que ganharam o Brasil através das ondas mágicas do rádio.

O livro também contempla as figuras pioneiras do carnaval e do samba da Pauliceia: Dionízio Barbosa, Dª. Sinhá, Argentino Celso Wanderley e Elpídio de Faria. Todos membros de pequenas associações carnavalescas surgidas entre as décadas de 1910 a 1930. Com destaque para o Grupo Carnavalesco Barra Funda, mais conhecido como “Camisa Verde”, que completa seu centenário em 2014.

São, sem qualquer discussão, figuras das mais impressionantes da música popular brasileira em todos os tempos. São personalidades, como outros tantos que, com sacrifício e heroísmo, lutaram por incrementar a nossa exaltada canção popular.

Esses cantores/compositores deixaram significativo acervo a ser resgatado, que necessita de valorização e preservação, para que a memória possa ter papel importante de destaque na literatura e outros estudos, para informação e conhecimento das futuras gerações.

O prefácio é assinado pelo radialista e jornalista Jorge Luiz, Rádio Globo AM-R; participações especiais do pesquisador musical e blogueiro Luiz Amorim e de Marcello Laranja, presidente do Clube do Choro de Santos.

O livro tem edição da “Arte e Expressão”, com 304 páginas, ilustrado, papel off-set 90gr/m², preço de capa sugerido R$ 30,00.

Sobre a autora

Nasceu na capital paulista. Jornalista, escritora, palestrante e pesquisadora cultural. Colunista doJornal Movimento e Mundo Lusíada Online. Integra a equipe do programa Solo Tango, da Rádio Trianon 740 AM/SP, comandado por Walter Manna. Trabalha noDepartamento Cultural do Clube Português de S. Paulo. Desenvolve extensas pesquisas sobre a história do rádio e da música popular brasileira. É autora dos livros IreneCoelho, uma brasileira de coração português (2011), A Música Popular no Rádio Paulista, 1928- 1960 (2013), A Dinastia do Rádio (2013) – parceria com Valdir Comegno, Fado no Brasil: Artistas& Memórias (2013) – lançado em Portugal, e Artistas Negros da Música Popular e do Rádio (2014).

Contatos

thmatarazzo@gmail.com ou bondedasaudade@gmail.com

Telefones: (11) 3663-5953 (comercial)

Serviço

Lançamento em São Paulo – SP

Data: 15 de março de 2014 (sábado)

Horário: 15h30 às 18h30

Local: Casa de Portugal

Av. da Liberdade, 602 – 1º andar

Tel: (11) 3273-5555

Lançamento no Rio de Janeiro – RJ

Data: 5 de abril de 2014 (sábado)

Horário: 14 horas

Local: Livraria Folha Seca

Rua do Ouvidor, 37

Centro – Rio de Janeiro

Tel: (21) 25077175

Arte e inutilidade

Fevereiro 24, 2014

Por Nilto Maciel

Impaciente, corri três vezes até o portão. Na quarta, quando ia encostar a venta no alumínio e vasculhar a rua, avistei aquela carinha linda do lado de fora. Para não demonstrar ansiedade, deixei-a acionar a campainha duas vezes. E, então, como se acabasse de me aproximar do portão, gritei: Já vai. Quem é? Sou eu. Eu quem? Janete. Meti a chave na fechadura, puxei a folha com chave e tudo e abri os braços. Desculpasse o suor: acabara de chegar do shopping. Ela me deu abraço muito sutil e entramos na casa, a mentir pelos poros.

Depois de cinco minutos nessa lengalenga, iniciamos a aula. Peguei Ar de arestas (São Paulo: Escrituras, 2013), de Iacyr Anderson Freitas, e me pus a tagarelar: Tenho acompanhado a trajetória literária (ou editorial) de Iacyr, desde os vagidos iniciais. Não me lembro do primeiro contato. Terá sido em 1982, ano de publicação de Verso e palavra? Recentemente (dezembro de 2010) referi-me a ele no artigo “A obra poética de Iacyr AndersonFreitas”. A mocinha examinava minha euforia: O senhor tem demonstrado admiração por ele. Concordo com suas palavras.

Pedi silêncio e me entreguei à parolagem: Em Ar de arestasverifiquei umas singularidades (não fosse o impresso agradável aos olhos e ao tato, pela capa dura, pelas fotografias de Ozias Filho, pelo tipo do papel e pelo formato menos comum): o poema (ou são vários?) é constituído apenas de quartetos, em rimas alternadas, quase todas dos tipos “ricas”, “agudas” e “graves”. O metro é sempre o de sete sílabas, a chamada redondilha maior. Janete Clair me fez calar: Será mesmo importante referir-se a isso? Possivelmente não. Entretanto, sempre é tempo de lembrar certas normas aos jovens. O senhor vê em Iacyr pura imitação de Drummond? Não, talvez nem se aproximem um do outro. Vejo mais semelhanças com João Cabral.

Reli alguns cantos em voz alta. Impus breve pausa e ela se aproveitou disso: Ele se refere às arestas da poesia? Pediu o objeto e se pôs a ler: ‘Surpreende-se a serpente / em cada naco de frase. / Ora, vagando, urgente, / ora fixa em sua base’. Li estas linhas e fiquei com a pulga atrás da orelha. A serpente seria o quê? Até me lembrei de Jorge de Lima.

Pego de surpresa pela astúcia (pode-se falar em inteligência?) da menina, tentei parecer mestre: Tudo é possível captar nos livros. Solicitei o volume e lecionei: Como na pintura abstrata. Na verdade, pressenti antes de tudo a dor humana cantada e chorada: ‘um vazio de nascença’, ‘ter por dentro essa falta’, ‘em si mesmo soterrado’.

Senti necessidade de passear ao redor de mim mesmo. Ao voltar ao sofá, ela disparou: É de alto nível? Não titubeei: Sim, de alto nível, embora o leitor menos experiente também possa alcançar o seu significado. Janete queria me irritar mesmo: Então o analfabeto não pode ler boa poesia? Ou a frase informal não tem qualidade? Deixe de preconceito, professor. Quase tive ataque apoplético: Acalme-se, jovem. Nunca me senti próximo do entendimento segundo o qual poesia de alto nível seja aquela entendida apenas pelos homens letrados ou intelectuais. Na verdade, nem pintura nem música carecem de entendimento. Basta senti-las. Porém, não restam dúvidas: há uma arte cerebral e outra dos sentidos. Às vezes, se confundem, são a mesma coisa. Música clássica é assim.

Minha secretária apareceu. Entendi ter chegado a hora de dar trabalho à garganta. Vamos tomar suco, Janete? À mesa, dedicamo-nos apenas a trivialidades: doce de mamão, chuva por vir, calor de trinta graus. E comemos e bebemos feito dois irmãos.

De novo acomodado no sofá, agarrei Bazar do Braz: Poemas & Anzóis (Goiânia: Kelps, 2012). Dediquei-me a manifestar admiração pela figura humana e pelo escritor Valdivino Braz. Conheço este poeta há quase meio século. Antes mesmo de me ir pra Brasília, já me correspondia com ele. Entretanto, só estivemos frente a frente em 1978, não sei se na capital do país, se na de Goiás. Foram abraços, cervejas, risadas, publicações. Janete me interrompeu algumas vezes: E continua essa amizade? Sim. Vez por outra, trocamos cartas, como antigamente. Os livros ainda circulam pelos ares.

Iniciei breve apresentação do Bazar. A moça quis saber minha opinião: Parece brincadeira? Sim, é galhofa pura. Valdivino é sujeito alegre, expansivo, como se dizia. Fala alto e grosso, irradia luz, embora seja pequenino e magro. Ultrapassei cinco minutos em elogio ardente ao poeta goiano, até ouvir reclamação: Não vai comentar o conteúdo? Sorri: O subtítulo dá início aos gracejos: ‘poemas & anzóis’. Pensei em pesca de pessoas. A sapeca opinou de novo: Quiçá não dê um passo além do humor. Não, ele nos leva a pensar e conversar. Não tem aquela seriedade ou sisudez de Iacyr. Também não se torna carnavalesco. Como em “Casa do Mané”, homenagem a Manoel Coutinho Carneiro, natural de Piripiri, Piauí, dono de casa de pasto (misto de bar e restaurante), no qual se oferecem, aos clientes, “típicos petiscos e pratos / de estilo caseiro, / tempero com esmero”. A menina é sabida: Lembra os repentistas. Corrigi-a: Não na medida do verso e na rima soante. A danada não se deixou abalar: Há nele textos em prosa muito debochados, na esteira do modernismo de 22, especialmente Oswald. Aproveitei a deixa: Tudo misturado, como convém ao modernista exemplar. A garota completou: Valdivino zomba dos tipos urbanos, em descrições minuciosas, caricaturas dignas de Gregório de Matos.

Deixei-a a resmungar e iniciei passeio pelos corredores. Sempre ajo assim, quando me sinto incomodado por visitas. De regresso à sala, vinha com a ideia de ler duas ou mais composições de meu amigo. Agora permaneça caladinha e ouça: “Um poliglota, o Hipólito. O hipopótamo. Cheio de línguas. Latim. Grego. Um esnobe. Uma íngua. Um chato de galocha. Etílicos, inchados, os olhos-bulbos. Um sábio com a boca cheia de vocábulos. Por mares nunca dantes navegados. Hipólito Sanchez, a pança. Ordenança de Quixote, citando Oscar Wilde: ‘Toda arte é absolutamente inútil’. Dose pra elefante”.

A estudante não me deixou ir adiante: Isso é poesia? E se for apenas inutilidade? Assustei-me. Tivesse cuidado com a língua. O senhor agora tem cara e modos de pastor evangélico.

Fado Patrimônio Imaterial da Humanidade

Fevereiro 11, 2014

O Clube Português de São Paulo convida a todos os amigos para participarem do projeto ‘Fado Patrimônio Imaterial da Humanidade’ – apresentação única com Ciça Marinho e Sérgio Borges.

A dupla de fadistas apresentará várias modalidades do fado.

 Entrada gratuita.

 Serviço:

Projeto ‘Fado Patrimônio Imaterial da Humanidade’

Data: 23/2/2014 (domingo)

Horário: 16 horas

Onde: Clube Português – Rua Turiassú, 59 – Perdizes

convite ciça e sérgio

 

CULTO AO FADO

Janeiro 16, 2014

por Euclides Cavaco

Imagem texto Euclides CavacoEsta fé que me domina
Em acreditar no fado
É como uma doutrina
Para mim algo sagrado.

Quem tem o fado na alma
Ao dar-lhe o amor seu
O seu coração acalma
E ganha um lugar no céu.

Quem canta está a rezar
O fado com devoção
Em qualquer lado a cantar
Faz do fado sua oração.

Quero soltar as amarras
E confessar um pecado
Só bem junto das guitarras
Verás presto culto ao fado.

Homenagem a Forbela Espança

Dezembro 12, 2013

downloadA poeta portuguesa Florbela Espanca será homenageada durante toda a semana do dia 8 a 14 de dezembro, com saraus diários, das 19hás 21h30/22h00, na Casa de Portugal.

Na abertura do evento, no domingo, houve a apresentação do monólogo Florbela Espanca – A hora que passa, com direção de Fabio Brandi Torres, pesquisa e atuação de Lorenna Mesquita e dramaturgia de ambos. Ainda no mesmo dia, a atriz apresentou ao público presente o poema inédito “Riso Amargo”, um dos seis poemas descobertos recentemente e divulgados, no último dia 6, em Lisboa. A apresentação foi acompanhada de fados tocados ao vivo pelo violonista Thomaz Marra.

A programação da Semana Florbela Espanca segue diariamente, até sábado, com Saraus de poemas e cartas, sempre acompanhados por música ao vivo. Todo dia uma nova programação. 

Serviço:

Data: 14 de dezembro 2013

Horário: 19 horas

Local: Casa de Portugal – Av. Liberdade, 602

Entrada franca.

Gabriel Gonzaga apresenta “Acaso” no IHGSP e na Casa de Portugal

Dezembro 5, 2013

convite_spO jovem músico e pesquisador musical, Gabriel Gonzaga, estará em São Paulo no próximo dia 8 de dezembro para apresentar ao público paulista seu novo CD “Acaso”.

Confirmaram presença e farão participações especiais a cantora Denise Duran, irmã da saudosa Dolores Duran e o maestro Mário Albanese.

Gabriel Gonzaga é paulistano. Teve seu interesse despertado pela música aos 12 anos, época em que começou seus estudos de violão. Suas principais influências foram os grandes músicos e arranjadores brasileiros que conheceu através dos LP’s que passou a colecionar.

O CD “Acaso” conta com arranjos instrumentais para violão solo, que propõem um passeio por várias fases da canção brasileira, de 1930 até hoje, explorando o instrumento em seus vários recursos numa seleção de sambas, choros e outros temas populares, o álbum resgata composições menos conhecidos de autores de ontem e da atualidade, mas já elevados à categoria de clássicos da nossa música, e também canções inéditas.

 Serviço

Lançamento CD “Acaso”

Data: 8 de dezembro – domingo

Horário: 17 horas

Local: Auditório da Casa de Portugal

           Avenida Liberdade, 602 – 3º andar

           Informações: 3663-5953

            Entrada gratuita

Eu sou som, sou sons

Outubro 4, 2013

por Nilto Maciel

livrosNarrou-me Cleto Milani, por telefone, uma historinha nada linear. Contém alguns flashbacks. (Pelo visto, o homem deseja me imitar ou substituir). Anunciou ter conhecido “garota inteligente”, a passear (vagar) pelas ruas da Internet. De início, desconfiou de brincadeira de homem. Isto é, a pessoa com quem conversava não seria Cecília Sousa e, sim, algum membro da sociedade secreta dos cultores de letras. Pensou em alguns nomes: Carlos, Dimas, Felipe, Pedro, Raymundo. Terminou em Nilto. Sim, a “moça” das mensagens bem redigidas seria eu, a inquiri-lo. Se compreendia mesmo literatura, se “sabia das coisas”, se lia e escrevia, se isso, se aquilo. Cogitou ser grosseiro e “me” mandar p’ra baixa da égua. Antes de cometer semelhante loucura, jogou-se à cama e, enquanto dormia, ouviu sussurros vindos do nada: “eu sou som, sou sons, sou sa se si so su, sousa, sesi, só sua”. No dia seguinte, se deparou com isto, na tela: “Sonhei com o senhor. Nunca participei de oficina literária. Se não custa nada – como pude ler – quero ser sua aluna. Beijos. Ceci”.

Emprestei alguns opúsculos novos ao ancião. E ele os transferiu à sua primeira vítima. E disso tudo resultou esta história. As coletâneas são Iguais(Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2013), de Pedro Du Bois, e Exília (São Paulo: Dobra Editorial, 2013), de Alexandre Marino – poemas; Amantes nas entrelinhas (Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2013), de Tânia Du Bois – crônicas; e As coisas incompletas (João Pessoa: Ideia, 2013), de Hildeberto Barbosa Filho – jornal literário.

Outro flashback: O libertino contava com meia dúzia de “pulcras donzelas” no primeiro dia da oficina. E dedicou cerca de uma hora a este assunto. Promovera ampla divulgação. Morreria de vergonha e decepção, se ninguém se apresentasse à sua porta. Não morreu: Cecília o salvou. E levou quatro brochuras novas. Lesse, com muita atenção. Na próxima sessão, examinariam (ela e ele) os papiros.

Segundo ele, a nova poesia brasileira, publicada em livro e na Internet, vai bem e vai mal. Os melhores estão, dia após dia, em menor número; os do lado da imensa maioria se propagam feito moscas. Pedro Du Bois e Alexandre Marino estão entre os raros exemplares de uma espécie em extinção. Aquele no Sul, este em Brasília (nascido em Minas Gerais). A moça se declarou leitora assídua de Pessoa, Drummond, Cecília Meireles etc.

O mestre do Benfica reparou na obra de Pedro a importância dada ao “formato” das peças. Constituem-se de poucos versos, entre seis e quinze. O ritmo do fôlego (do respirar) regularia tais medidas. Nota-se também a subdivisão em estrofes: duas, três, quatro. Um ou outro cântico se mostra inteiro, sem quebras. A mocinha se impacientou: Isto tem alguma importância? Sim, tem. Se não tivesse, não seria assim. Mudou de assunto: E quanto ao discurso? Ele não me parece narrativo, devotado a situações reais ou ao cotidiano dele ou das pessoas. O professor se empolgou: “Não é poeta lírico, afeito ao subjetivismo intrincado, filosófico, de difícil percepção pelo leitor médio”. Visse este exemplo: Nada me vale a janela / se não posso / ver as construções / de igualados prédios / em vistas circunscritas / aos arredores: a janela // do novo prédio / me contempla. “O leitor menos atento vê aqui apenas narração ou descrição. No entanto, a ode vai muito além disso”.

Passaram à seleção de Alexandre Marino, bem mais encorpada do que a de Pedro. Não só no número de páginas. “Náufragos” se situa entre os menores poemas: tem oito linhas. Muitos estão divididos em estrofes. A estudante se entusiasmou, feito criança quando revela astúcia: Encontrei uns sonetos. O docente reforçou a observação dela: Pelo menos, quatro. E muito bem elaborados.

A menina não concedia sossego ao velho: E quanto à linguagem? O devasso quis se exibir com jeito de catedrático: “Alexandre é afeito à frase esmerada ou sem desleixo, ainda quando brinca de neologismar. No entanto, prefere percorrer o caminho sem se meter em atalhos: ‘a coragem dos grilos nas noites das florestas’; ‘os gestos delicados dos símios quando se coçam’; ‘vento e chuva dançando uma valsa’. Isto é, ele é atento a tudo, não abdica de captar o menor gesto dos seres”. A jovem estranhou a constante referência a outros poetas, alusão a poemas, pinturas, músicas. Como em “Giverny”, em sua quase descrição: ‘Claude Monet e sua pintura – / abrigo de um lago sem fim, / refúgio de enlevos – / luzem glicínias e nenúfares, / um caminho entre nuvens’.

Debateram, durante boa parcela do dia, a arte poética. E eu cobrei de Cleto outros resultados dessa porfia. Cheguei a urdir recriminação: “Você não me disse nada, meu amigo. A ourivesaria de Pedro Du Bois e de Alexandre Marino faz jus a mil leituras e interpretações”. Não me deu ouvidos e se consagrou aos Amantes nas entrelinhas, de Tânia Du Bois. “A crônica também merece leitura e estudo, seu Nilto. Ou o senhor pretende ser esquecido até como cronista?” E se voltou para os acontecimentos em sua casa: A pupila tencionava, “de fina força”, analisar o impresso de Tânia. Manifestei “palpite infeliz”: “As mulheres se entendem”. Ele riu e parafraseou Manuel Bandeira. A visita se expressara assim (com pedantice e tudo): “Tânia certamente guarda manancial de citações, colhidas em livros. Pois suas joias se fundam em frases extraídas de obras do underground ou do cânon. Temos tudo para considerá-las fragmentos comentados”. O preceptor se aborreceu: Seria necessário perguntar à própria cronista como consegue incluir em tão breves partituras trechos de variados autores. Selecionou “Erotismo na Arte”, na qual são mencionados cinco escritores brasileiros: Carlos Higgie, Maria Teresa Horta, Nilto Maciel, Pedro Du Bois e Clauder Arcanjo, e o artista plástico Ruben Gerchman. “É impressionante isso, essa capacidade de arranjar excertos de poemas e contos e, desse modo, polir verdadeiras ametistas”.

A aprendiz não se sentiu repreendida e esboçou elogio à cronista: Suas peças têm sabor de bolo, torta e frapê. O lascivo ancião revelou, então, um dos mais extraordinários intentos de sua vida: “Você aceita ir ao shopping comigo? Sou afeito a sanduíche com coca-cola”. Cecília, no entanto, cortou-lhe logo as asinhas: Deixasse para outro dia o passeio. No afã de se vingar, o vovô propôs: Então esquadrinhasse, com mais agudeza, a arte de Tânia Du Bois. Não se intimidou Ceci: Chamara-lhe a atenção o uso de epígrafes, na maioria das pérolas, sem esquecer as citações no bojo dos textos. Apesar de zangado, o dono da casa proferiu outra vulgaridade: “Estas narrativas conduzirão os leitores aos edênicos bosques da poesia em prosa. Sua leitura se adapta perfeitamente a qualquer ambiente, seja nas madrugadas frias, nos dias de muito calor, nas noites de insônia”.

O encerramento da reunião ocorreu com As coisas incompletas, de Hildeberto Barbosa Filho. “Gosto sempre de começar pelo começo, isto é, pelo título”. Concordo com ele: O título é poético. E está de acordo com Hildeberto, o poeta, tido e havido como um dos melhores do Brasil.

A menina demonstrava amplo conhecimento dos quatro títulos: Trata-se de jornal literário, o de número três. Apontamentos feitos entre 2008 e 2012.  O macróbio quis ser mais exuberante do que a estudante e arrumou outro elogio insignificante: “O compêndio é de rara beleza, formado de considerações, reflexões e divagações relativas à literatura e à arte de tecer versos e prosas, e a diversos assuntos. Como em ‘Os amores platônicos são sempre patéticos!’” A mocinha o cutucou (estaria a testá-lo?): Seriam aforismos? Ele não perdeu a compostura: Sim, poderiam ser vistos assim. Há neles igualmente transcrição de opiniões críticas e até composições poéticas. À página 23, aparece soneto de Jorge Tufic. O comportamento da garota lembrava professora e não aluna. Anotara passagem do diário, já no final: “A crítica de um criador quase sempre me agrada mais que a crítica daquele que é tão somente crítico”. O mestraço sacou da algibeira outra avaliação nada singular: “Enfim, obra vigorosa, plena de sabedoria e, ao mesmo tempo, de agradável leitura”.

Eu precisava desligar o telefone: compromisso com hora marcada. Fiz meu amigo Cleto Milani dar por acabado o diálogo. “Noutro dia continuaremos esta palestra”. Como arremate, ofereci-lhe este conselho: “E cuide bem de nossas discípulas”. Vocês imaginam a frase por ele grunhida? Não direi. É imprópria em livro, jornal e na Internet.

145º Aniversário da Associação Filarmónica Progresso Pátria Nova de Coja

Outubro 3, 2013

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