Archive for the ‘Religião’ category

NATAL OCULTO

Dezembro 19, 2014

Por Beatriz Alcântara

 A noite venceu o dia e

a madrugada anunciou

que sobre as trevas

um raiou de sol nascia,

a esperança gerada pela fé.

O tempo venceu os séculos

e a tecnologia anunciou

a felicidade pelo consumo.

O desperdício quase seca a água e

a humanidade não achou serenidade.

O Natal Feliz está oculto

nas luzes do universo,

nas fitas de um DNA incerto.

Somos pequenos demais

para desvendarmos a paz

e frágeis, não reconhecemos

na crença em Deus,

a esperança gerada na fé.

CEIA DE NATAL

Dezembro 18, 2014

Por Raquel Naveira

Lembrei-me de tudo. O momento quando soube que estava grávida. Um anjo anunciou a notícia em meu ouvido. Foi um presságio, uma revelação, uma certeza que encheu o quarto e a minha vida. Ele me disse que eu geraria um filho e me falou o augusto nome que eu lhe deveria dar.

Jovem e insegura, fui para a casa de uma prima, que me recebeu com carinho. Ali passei três meses e tecemos os fios, os grãos, os dias e as noites daquele tempo de espera.

O parto foi natural. Meu corpo era uma gruta e você foi saindo devagar como um sol nascendo entre minhas coxas. Limpei a placenta e o envolvi com faixas.  Seu pai ficou ao meu lado, silencioso, atônito diante do mistério.

Recuperei-me logo. Você estava forte, alimentado do leite de meu seio. Vestimos você com uma camisola branca de linho. Subimos a escada do templo e o apresentamos no altar. Não sei porque, mas uma espada atravessou minha alma naquela hora. Uma opressão. Você cresceu entre parentes e amigos. Tornou-se adolescente. Um adolescente causa aflições. Um dia você sumiu. Eu e seu pai o procuramos por toda parte. Você disse depois que já queria ser independente, andar sozinho, cuidar de suas próprias coisas. Doeu. Os filhos não nos pertencem. Sabia que você tinha uma missão, um ideal, uma estrela.

Você sofreu muito pelas ruas, pelas esquinas, pelo mundo. Viu cenas que o fizeram amadurecer. Quase foi esfolado como um cordeiro. Dentro de você havia um vulcão de angústia, de rebeldia, de carne comprimida, de fervor escaldante. Lavas de suor e sangue correram por sua face. Você se entregou totalmente a algo maior. É bom vê-lo criando. Criar é preciso. “Navegar é preciso, viver não é preciso”, é a máxima dos antigos navegantes fenícios e dos verdadeiros artistas.

Acostume-se. Há os que lavam as mãos. Os que vão chamá-lo de subversivo. Prisões, látegos, correias, cercas, vento açoitando, mar espumando ira nos cascos dos navios. Pancadas nas costas abertas como fruta esponjosa.

Não pense em glória, em ânsia de imortalidade, não foque nisso. Não ache que você é um rei. Aguarde críticas, ferrões, espigões, agulhas de cacto. Prepare-se para que enterrem em seu couro os espinhos das maldades. A trave pousada sobre seu ombro. O pulmão engaiolado entre os ossos. Ainda bem que sempre há um irmão e nos ajuda e consola nos momentos de martírio.

Você foi elegante nas dificuldades. Soube perdoar e suportar a ignorância alheia. Isso me alegrou, embora meu coração tenha se rasgado em duas partes como um véu roxo.

Disseram-me que você está longe, distante de mim. Escondido em algum canto, como seu eu o tivesse concebido ao contrário. Não canso de buscá-lo, de chamá-lo. Estou revestida de uma grande força, um fogo que me lambe.

Quem pode recompensar as obras, sofrimentos, penitências, lágrimas e virtudes de uma mãe? De alguém que errou só tentando proteger, livrar, poupar o filho e não conseguiu? Não queria anulá-lo com esse meu papel de mulher universal, de rainha, de medianeira que se intromete em seus assuntos. Que intercede por tudo e por todos. Queria apenas enobrecer minha natureza. Cabe-me agora, com humildade, dizer: _ Sou apenas mãe dele.

Tanto tempo que não o vejo. Que não ceamos juntos numa noite de Natal. Arrumarei a mesa com pães, peixes, flores, feixes de trigo, fitas verdes e vermelhas. Sei que desta vez, este ano, você virá.

Eu Creio Nessa Canção

Dezembro 17, 2014

por Cyro de Mattos

Por que os homens

Amam a droga

E não da abelha

Os favos de mel?

 

Por que os homens

Amam as balas

E não a paz

Sem nenhum fuzil?

 

Por que os homens

Só enxergam o chão

E não a estrela

Em seus caminhos?

 

Por que os homens

Perfuram a rosa

Com a ponta aguda

E mais dura do espinho?

 

Viver amargos,

Viver sozinhos,

Viver nos escombros,

Viver na vida desigual,

Viver dos horrores

Repetidos no holocausto

É do que os homens gostam?

 

Mas eu creio nessa manhã

Anunciada agora nas espumas

Dessas águas que passam.

Nos balões sobe e em flores

Puxa o dia pela cauda.

Quando chega a noite,

Espalha o amor no céu.

 

Eu gosto de ouvir nesta hora

Essa canção que me afaga

Falando duma união geral,

Que viver vale a pena

Quando a vida é uma dança

Com os homens como irmãos

No doce fruto da ternura,

No doce fruto da alegria

Sorrindo como criança.

SONHO DE PIÁ

Dezembro 16, 2014

Por Marilene Machado

Três guapos, rei magos da pampa,
um Iíndio velho, um Negro e um quase Branco,
campereavam pé no estribo em upa/upa,
perseguindo uma estrelita bem gaudéria,
que tinha um facho, iluminado, na garupa,

Venceram terras, invernadas, freguesias,
campos e sesmarias, léguas de caiboaté,
prá espiarem a estrela apear sua alegria,
nas frinchas de um galpão de santa-fé.

Achegam-se de carona, estes queras ,tão sem medo,
a-lá-putcha, (gritam eles), descobrimos um segredo,
é deus menino, anunciado, despilchado em um pelego.

Campechanos e caudilhos, cristãos por gosto e de Fé,
chimarreando contam causos , prá mãe Maria e José,
proseiam com Deus menino,afinam viola e palheiro,
chamando de Piá gaucho, o patrão deste pampa inteiro.

E foram índios e tropeiros,
que apadrinharam o Piá,
que nasceu nesta querência,
que foi chamado Jesus,
mas que no céu, foi morar.

Exposição “Natal em Portugal”

Dezembro 8, 2014

convite Natal em Portugal

FESTA DO ESPÍRITO SANTO na ARRÁBIDA

Junho 4, 2014

Evento Fundação Antonio Quadros

Data: DOMINGO DE PENTECOSTES, dia 8 de Junho de 2014

Participação: Associação Agostinho da Silva, Fundação António Quadros e representantes de diversos grupos culturais e religiosos.

CELEBRAÇÃO

– O Culto do Divino Espírito Santo;

– Agostinho da Silva, 20 anos após a partida, sempre mais presente (In Memoriam, no 24.º Pentecostes da Arrábida).

– Leitura de textos de Agostinho da Silva, António Quadros e Dalila Pereira da Costa.

10.45h

Encontro junto ao Convento da Arrábida (Fundação Oriente). Subida ao Convento Velho.

Saudação na Capela da Memória de Nossa Senhora da Arrábida.

Meditação pela Paz.

Coroação das crianças.

Evocação / Música | Cânticos:

Trovas para o Menino Imperador, de António Quadros;

Quadras ao Divino Espírito Santo, de Agostinho da Silva.

BODO

14.00h

Será oferecido o bodo, junto ao caminho de Alpertuche.

CONFRATERNIZAÇÃO

Convite à participação das pessoas presentes; outras surpresas.

Durante a tarde.

“Reservemos para nós a tarefa de compreender e unir; busquemos em cada homem e em cada povo e em cada crença não o que nela existe de adverso, para que se levantem as barreiras, mas o que existe de comum e de abordável, para que se lancem as estradas da paz”.

Agostinho da Silva (Considerações e outros Textos, 1988)

“Esta sobrevivência das Festas do Espírito Santo em Portugal, apesar das dificuldades que teve através dos séculos, é um sinal para que no dia de amanhã os nossos filhos, os nossos netos, os nossos bisnetos, venham a constituir-se como fontes humanas entre os povos deste mundo, entre as culturas deste mundo”.

António Quadros  (excerto da mensagem proferida na Arrábida a 19 de Maio de 1991)

Bairro de Judeus – As mulheres de saias abaixo dos joelhos, mangas compridas, golas altas

Maio 26, 2014

Por Raquel Naveira

Vim morar em São Paulo num bairro de judeus. Gosto de vê-los na rua, os homens com suas barbas longas, capotes pretos, faça frio ou calor, sol ou chuva. As mulheres de saias abaixo dos joelhos, mangas compridas, golas altas, meias, de mãos dadas com os filhos. Os homens usam chapéus de feltro ou kipás, pequenas toucas em forma de circunferência, que representam respeito no momento das orações e a certeza de que há alguém acima de nós. As mulheres protegem a cabeça com lenços de seda ou perucas, pois só os maridos podem ver seus cabelos soltos na intimidade. Parecem saídos de um livro de história ou terem chegado recentemente do Leste Europeu. Há uma aura de dignidade e temor de Deus ao redor deles, carregando no rosto e nas vestes as marcas de sua fé, de sua disciplinada devoção.

A cada esquina, uma sinagoga. Colunas altas, soleiras de mármore negro. Tudo muito fechado, mas consigo imaginar a arca sagrada, a luz entrando pelos vitrais, projetando-se sobre o altar iluminado pelo candelabro de sete velas, o menorá. Posso ver o rabino desdobrando os rolos do Torá, espalhando as bênçãos divinas e os clamores ressoando desde o Muro das Lamentações até esta terra de uma América distante. Posso sentir a energia que se potencializa na hora em que o sol se põe e salpicam no horizonte as primeiras estrelas, tímidas no céu desta cidade cinzenta.

Nos supermercados e sacolões da região, vendem-se produtos kosher, como carne salgada sem sangue, selecionada, abatida e preparada de acordo com regras específicas. Os animais, por exemplo, não devem sentir dor na hora do sacrifício. Os comerciantes colocam faixas, enfeites e frases saudando as festas judaicas como o Yom Kippur, dia do Perdão; o Chanucá, Festival das Luzes e o Purim, Festival das Sortes. São celebrações de uma tradição de mais de cinco mil anos. As compras irão para a mesa judaica que é rica e de reforçados alicerces. Sobre ela as couves, as frutas, os vinhos, as hortaliças, as especiarias, as castanhas, os molhos, os peixes com escamas e o pão, sem fermento e do trigo mais fino e branco. Ao redor da mesa contam-se fatos notáveis ocorridos na vida do povo judeu; transmitem-se conhecimentos; dividem-se alegrias, tristezas, crenças e utopias. É o momento também dos questionamentos, das perguntas feitas para se renovar sempre o pacto de um laço que é ao mesmo tempo família, religião, filosofia, cultura e estado.

Como é lindo ser judeu. É ato de resistência, busca de identidade, visão de uma obra, sede de imortalidade da alma. Quando Davi feriu Golias, o fraco se impôs ao mais forte. Deus ao lado dos fracos: que grande novidade para um mundo acostumado com a força bruta, a violência ou com a esperteza sagaz dos lobos e das raposas.

Quando entrei naquela rua de prédios altos e árvores verdes que dão na sinagoga, que poderia ser o próprio Monte Sinai perto do espigão da Paulista, deparei-me com um judeu de camisa branca e kipá, que ia atrás do filho de uns três anos, loirinho, já também de kipá na cabeça, esforçando-se em pedalar um triciclo. No meio da quadra, o menino voltou-se e gritou: “- Aba, aba.” Fui colhida por aquele grito, “Aba”, “Papai” em hebraico. Que forma carinhosa de chamar o pai.

Marcos em seu evangelho registra que Jesus, ao orar a Deus, pouco antes de sua morte, disse: “- Aba, Pai, tudo te é possível, afasta de mim este cálice. Todavia não seja o que eu quero, mas o que tu queres.” Que fervoroso apelo, como Jesus foi obediente ao seu Pai, marchando para sua morte de cruz.

O menino repetiu: “- Aba, aba.” A emoção tomou conta de mim e me cobriu como um talit, aquele xale de franjas.

A Igreja é contra a teoria da evolução?

Abril 29, 2014

por Felipe Aquino

Evolução-Criação-300x128A Igreja não é contra a teoria da evolução, desde que seja entendido que esta evolução foi querida por Deus, programada e executada por Ele. A Igreja também não abre mão de que a alma humana, imortal e racional, é criada diretamente por Deus e colocada na pessoa no instante da sua concepção, quando o óvulo feminino é fecundado pelo sêmen masculino. Dentro dessa ótica, a Igreja aceita a teoria do início do mundo a partir do Big Bang, a grande explosão que teria dado inicio ao universo hoje conhecido. Mas o que é o Big Bang?

No início do século os astrônomos começaram a mapear o Universo, e descobriram que as galáxias pareciam estar se afastando da Terra com velocidades cada vez maiores, de modo que quanto mais longe estivessem tanto maior era a sua “velocidade de fuga”. Era como se os grupos de galáxias fossem partes de uma explosão acontecida a bilhões de anos. Daí nasceu a teoria do Big-Bang (grande explosão), segundo a qual o Universo começou a partir dos fragmentos desta gigantesca explosão.

A partir das velocidades relativas, observadas nas galáxias mais distantes, a época da explosão foi calculada em aproximadamente 15 bilhões de anos. Uma matéria ultra-comprimida teria explodido numa nuvem de energia e partículas elementares, aquecidas a uma temperatura inimaginável de bilhões de graus Celcius. Dentro desta esfera havia apenas fótons e nêutrons comprimidos de modo tal que um litro dessa matéria pesaria bilhões de toneladas e tinha a temperatura de 1015 (= 1 seguido de 15 zeros) graus C. Essa esfera teria explodido, jogando no vazio a matéria com a velocidade da luz.

Apenas um centésimo de segundo após essa grande explosão, a temperatura descera a 300 bilhões de graus C; os fótons e os nêutrons se condensaram em elétrons e núcleos, dando origem a uma massa de hidrogênio incandescente, que aos poucos foi se condensando em galáxias de estrelas. No interior das estrelas, a cerca de 20 milhões de graus, esse hidrogênio foi se transformando em hélio, num processo de combustão que liberava enormes quantidades de energia. Em seguida, num complexo processo de evolução química, esse hélio se converteu em outros elementos (oxigênio, carbono, nitrogênio, ferro…), que se encontram nas estrelas.

Alguns bilhões de anos após a explosão inicial, originaram-se as estrelas, os planetas, os asteróides e os satélites que constituem o nosso sistema solar e o universo inteiro. Sabe-se hoje que o espaço é perpassado por um campo de radiações, que têm a temperatura de 2,7 graus absolutos (270 graus centígrados abaixo de zero). Essas radiações são o resíduo da radiação muito mais intensa e quente que devia perpassar o universo nas suas fases iniciais de existência. Por efeito do processo de expansão devido ao big-bang inicial, a radiação eletro-magnética originária teve que diminuir a sua temperatura até chegar hoje, 15 bilhões de anos depois, a uma temperatura próxima do zero absoluto.

A presença dessa radiação, que perpassa o universo e que é prevista pela teoria do big-bang, poderia ser a prova mais convincente desta teoria, que ainda não é aceita por todos os astrônomos e físicos. Um pequeno grupo acredita que o Universo é eterno, isto é, não teve começo e nem terá fim. É a teoria do estado constante. A fé não aceita esta teoria, pois a eternidade do Universo faria dele um Absoluto, um Deus. Só Deus é eterno; só Deus não teve começo e não terá fim. O eterno é perfeito; não evolui, como o Universo evolui, teve início e terá fim.

Para os físicos modernos, a melhor explicação da origem do universo está na teoria do Big Bang, que tem sido estudada exaustivamente; e a Igreja não a desaprova, desde que se considere o que foi dito acima.

A cruz é inextinguível

Março 31, 2014

por Renato Nalini

A tentativa de eliminar símbolos do Cristianismo das repartições públicas é utopia. O Brasil se chamou Terra de Santa Cruz, a religião católica foi a oficial desde 1500 até 1890. A laicidade da República não significa ateísmo. Apenas não há uma religião oficial. Todas são permitidas. Até incentivadas, porque é lícito celebrar acordos, convênios e tratados com organizações religiosas quando se cuida de implementar políticas públicas.

A se levar a sério a eliminação de qualquer sinal da cristandade, cultura entranhada em nossas tradições, teríamos de reescrever a história. E isso é impossível. Veja-se o ridículo da revisão do passado, de maneira a excluir o que é inexcluível, tema que George Orwell já enfrentou no seu célebre “1984″. Ao proceder a leitura de “O Tempo das Ruas”, da antropóloga Fraya Frehse, mais me certifiquei disso. Ela fala de São Paulo, cidade fundada sob a invocação do Apóstolo dos Gentios, por padres jesuítas que aqui estavam a catequizar os indígenas.

A reescrita obrigaria São Paulo a não se chamar assim. Seria apenas “Paulo”? Não estaria implícito e subjacente a santidade do patronímico? Onde se chegaria se tivéssemos de dizer que a população recenseada pelo poder público paulistano em 1872 e 1890 obedecia a uma divisão administrativa que se chamava, simplesmente, Nossa Senhora da Assunção da Sé, Nossa Senhora da Conceição de Santa Ifigênia, Nossa Senhora da Consolação e São João Batista, Senhor Bom Jesus do Mattosinhos do Braz, Nossa Senhora da Expectação do Ó, Nossa Senhora da Penha de França, Nossa Senhora da Conceição de São Bernardo, Nossa Senhora do Desterro do Juqueri e Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos?

As cidades todas têm padroeiro, os Estados membros também, a Nação idem. Que cidade não tem a sua “rua do Rosário”, invocação mariana entranhada na consciência das pessoas e que nenhum decreto humano conseguirá apagar. Vide a URSS, que ao ser dissolvida, viu voltar, em plenitude e exuberância, a fé e a crença na transcendência, vocação natural dos míseros humanos. Conformem-se, ateus, e tentem ganhar a adesão dos descrentes, sem modificar o passado. Este já foi e é a única dimensão do tempo com que se pode efetivamente contar.

Por que a Cruz é sinal do cristão?

Março 17, 2014

por Felipe Aquino

Algumas pessoas não católicas dizem que a cruz é um símbolo pagão e que não deve ser usada. Mas esta afirmação não está de acordo com o que a Igreja Católica sempre viveu e ensinou desde os seus primórdios e também não concorda com os textos bíblicos, que louvam e exaltam a Cruz de Cristo. Senão vejamos:

texto Felipe AquinoMt 10, 38 – Jesus disse: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”.

Mt 16, 24 – “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”.

Lc 14, 27 –“E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo”.

Gl 2, 19 – “Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo”.

Gl 6, 12.14 – “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.

1Cor 1,18: “A linguagem da Cruz… para aqueles que se salvam, para nós, é poder  de Deus”.

 1Cor 1, 17: “… anunciar o  Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a Cruz de Cristo”.

 Quando o imperador Constantino o Grande, enfrentou seu rival Maxêncio sobre a ponte Milvia, próximo do ano 300,  viu nos céus uma cruz luminosa acompanhada dos dizeres: “In hoc signo vinces!” (Por este sinal vencerás). Constantino, então, colocou a sua pessoa e o seu exército sob a proteção do sinal da cruz e venceu Maxêncio, tornando-se imperador supremo de Roma, proibindo em seguida a perseguição aos cristãos pelo Edito de Milão, em 313.

O símbolo resultante da sobreposição das letras gregas X e P, iniciais de Cristo em grego, lembrava Cristo e a Cruz e foi representado no estandarte de Constantino. No fim do século IV, tomou a forma que lembrava a Cruz.

Após a conversão de  Constantino († 337) a cruz deixou de ser usada para o suplício dos condenados e tornou-se  o símbolo da vitória de Cristo e o sinal dos cristãos, como mostra de muitas maneiras a arte, a Liturgia, a piedade particular e a literatura cristã. A cruz tornou-se, então, sinal da Paixão vitoriosa do Senhor. Conscientes deste seu valor, os cristãos ornamentavam a cruz com palmas e pedras preciosas.

Os Padres da Igreja como Tertuliano de Cartago e Hipólito de Roma, já nos séculos II e III, afirmavam que os cristãos se benziam com o sinal da Cruz. Os mártires tomavam a cruz antes de enfrentar a morte e os santos não se separavam da cruz. As Atas dos Mártires mostra isso.

No entanto, muito antes de Constantino, Tertuliano (†202) já escrevera: “Quando nos pomos a caminhar, quando saímos e entramos, quando nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeições, quando nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasiões e em todas  as nossas demais atividades, persignamo-nos a testa o sinal da Cruz” (De corona militis 3)*.

S. Hipólito de Roma († 235), descrevendo as práticas dos cristãos do século III, escreveu: “Marcai com respeito as vossas cabeças com o sinal da Cruz. Este sinal da Paixão opõe-se ao diabo e protege contra o diabo, se é feito com fé, não por ostentação, mas em virtude da convicção de que é um escudo protetor. É um sinal como outrora foi o Cordeiro verdadeiro; ao fazer o sinal da  Cruz na fronte e sobre os olhos, rechaçamos aquele que nos espreita para nos condenar” (Tradição dos Apóstolos 42)*.

No  Novo Testamento a Cruz é símbolo da virtude da penitência, domínio das paixões desregradas e do sofrer por amor de Cristo e da Igreja pelas salvação do mundo. Seria preciso apagar muitos versículos do Novo Testamento para dizer que a Cruz é um símbolo introduzido no século IV na vida dos cristãos. O sinal da Cruz é o sinal dos cristãos ou o sinal do Deus vivo, de que fala Ap 7, 2, fazendo eco a Ez 9,4: “Um anjo gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: “Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus”.

São Clemente de Alexandria, no século III, chamava a letra T (tau), símbolo da cruz, de “figura do sinal do Senhor” (Stromateis VI 11)*.

Por tudo isso, a vivência e a iconografia dos cristãos, desde o século I, deram à cruz sagrada um lugar especial entre as expressões da fé cristã. Daí podemos ver que é totalmente errônea a teoria de que a Cruz é um símbolo pagão introduzido por influência do paganismo na Igreja e destinado a ser eliminado do uso dos cristãos. Rejeitar a  Cruz de Cristo é o mesmo que rejeitar o símbolo da Redenção e da esperança dos cristãos.

* Este artigo foi baseado no de Dom Estevão Bettencourt, da revista “Pergunte e Responderemos”, Nº 351 – Ano 1991 – Pág. 364.