Arquivo de Dezembro 2013

Mais uma homenagem ! Esperamos vcs em 2014!!

Dezembro 22, 2013

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BANANEIRA

Dezembro 18, 2013

por Raquel Naveira

bananeiraBananeira não é árvore,
Não tem tronco,
Somente folhas,
Fileiras de hastes,
Palmeiras,
Bandeiras verdes
Que acenam
E logo fenecem.

Na primeira estação,
O cacho,
Coração pendido,
Roxo e pisado
Como olheira,
Será cortado,
Colocado na fruteira;
Sem merecer mais interesse,
Secará a bananeira.

As ilusões se constroem na mente
E, à sua maneira,
Dão frutos impermanentes
Como a bananeira.

A DOR DO JOÃO

Dezembro 17, 2013

por Rita de Cássia Alves

Dói em mim a dor do João
Não dói não
Quem não viveu o que vive
Não sabe da dor do João

Abrindo as janelas da vida
Vive-se de circo e pão
Mas não se alimenta a alma
De perda e de solidão

Só quem viveu o que vive
Sabe da dor do João

Abre-se a janela da casa
Há na luz escuridão
Nenhuma flor tem perfume
O sim transformado em não

Se não sentiu o que sente
Não sente a dor do João

Estendo parcas palavras
Como quem oferece a mão
Abraço conforto ou naufrágio
Como se fosse presságio
Ou alucinação

Quem não viu o que viu
Não chora a dor do João

Cartas, mensagens, poemas
Carinhos em procissão
Ainda que tenha Maria
Amigos em romaria

Quem não perdeu o que perde
Não sente a dor do João

 

Poema que fiz para o querido João Candido Portinari.

O ESTADO DELINQUENTE

Dezembro 16, 2013

por Ives Gandra da Silva Martins

Todo criminoso deve ser punido. Cabe ao Poder Judiciário condená-lo, após o devido processo legal e respeitada a ampla defesa. É o que determina a Lei Suprema (artigo 5º, incisos LIV e LV).

Ives

Nas democracias, o processo penal objetiva defender o acusado e não a sociedade, que, do contrário, faria a justiça com as próprias mãos.

O condenado deve cumprir sua pena nos estabelecimentos penais instituídos pelo Estado, em que o respeito à dignidade humana necessita ser assegurado. Quando isso não ocorre, o Estado nivela-se ao criminoso. Age como tal, equiparando-se ao delinqüente, da mesma forma que este agiu contra sua vítima.

A função dos estabelecimentos penais é a reeducação do condenado para que, tendo pago sua pena perante a comunidade, retorne à sociedade preparado para ser-lhe útil.

Os cárceres privados constituem crime. Quem encarcera pessoas, tirando-lhes a liberdade, deve ser punido e sofrer pena que o levará a sofrer o mesmo mal que impôs a outrem.

E o cárcere público? Quando um criminoso já cumpriu o prazo de sua pena e tem direito à liberdade, mas o Estado o mantém encarcerado, torna-se o ente estatal um delinqüente como qualquer facínora.

Todo condenado deve cumprir sua pena, mas nunca além daquela para a qual foi condenado. Se o Estado o mantém no cárcere além do prazo, torna-se responsável e deve ser punido por seu ato. Como não se pode encarcerar o Estado, deve, pelo menos, pagar indenizações à vítima pelos danos morais causados.

A tese vale também para aqueles que forem condenados a regimes abertos ou semi-abertos e acabarem por cumprir a pena em regimes fechados, por falta de estrutura estatal, pois estarão pagando à sociedade algo que lhes não foi exigido, com violência a seu direito de não permanecerem atrás das grades. Nestes casos, devem também receber indenização por danos morais.

A tese de que todos são iguais e não deve haver privilégio seria correta, se o Estado mantivesse estabelecimentos que permitissem um tratamento pelo menos com um mínimo de respeito à dignidade humana. Como isso não ocorre, a tese de que todos devem ser iguais e, portanto, devem “gozar” das péssimas condições que o Estado oferece, é simplesmente aética, para não dizer algo pior.

Em vez de o Estado dar exemplo de reeducação dos detentos, a tese da igualdade passa a ser garantir a todos tratamento com  “igual indignidade”.

Enquanto a Anistia Internacional esteve Brasil, pertenci à entidade. Lutávamos, então, não só contra tortura, mas contra todo o tratamento indigno aos encarcerados, pois não cabe à sociedade nivelar-se a eles, mas dar-lhes o exemplo e tentar recuperá-los.

Por isto, ocorreu-me uma idéia que sugiro aos advogados penalistas e civilistas –não atuo em nenhuma das duas áreas— qual seja, a criação de uma Associação, semelhante àquela que Marilena Lazarini criou em defesa dos consumidores, para apresentar ações de indenização por danos morais em nome das pessoas que: a) cumpram penas superiores àquelas para as quais foram condenadas; b) cumpram penas em regimes fechados, quando deveriam cumpri-las em regime aberto ou semi-aberto; c) cumpram penas em condições inadequadas.

Talvez assim o Estado aprendesse a não nivelar-se aos delinqüentes. Sofrendo o impacto de tais ações, quem sabe poderia esforçar-se por melhorar as condições dos estabelecimentos penais, respeitar prazos e ofertar dignidade no cumprimento das penas.

Todo criminoso deve cumprir sua pena, mas nos estritos limites da condenação e em condições que não se assemelhem àquelas dos campos de concentração do nacional-socialismo.

Apresentação da revista Arganilia nº 26

Dezembro 13, 2013

convite_arganilia_26Homenagem à João Alves das Neves

TROVANDO MEU IPÊ

Dezembro 13, 2013

Por Francisco Miguel de Moura

Eu tinha um jardim florido,
Troquei por um pé de ipê.
E este ipê é tão querido,
Quando o olho, ele me vê.

Ano passado amarelo
Cor de ouro, jóia rara,
Foi aquele ano tão belo
E a vida me foi tão cara.

Mas este ano, ai meus Deus,
Fiquei ao pé da janela
Não sei quantos meses meus
Pra ver a floração… E ela

Não veio como esperada:
Minhas janelas abertas,
Vendo a folhagem parada
Cantei visagens desertas!

Mas, chegada a primavera,
Meu ipê, salve! que flora!
Se o verão demora é mora…
E mais fico a sua espera.

“És um verdadeiro amigo,
Paciente com o rei-astro.
Espera que estou contigo
Sem me sentir poeta-astro.

Paciência de chinês,
Moras no meu coração
Por tua fleuma de inglês…
Oh! quanta satisfação!

São poucas flores que vejo,
Mas, acredito, vêm mais.
Meu desejo é teu desejo,
Assim fiquemos em paz”.

“Um Grapiúna em Frankfurt”

Dezembro 13, 2013

 Novo Livro Publicado por Cyro de Mattos

Com capa do desenhista baiano Sante Scaldaferri, prefácio do poeta paulista Álvaro Alves de Faria, a Editora Dobra Literatura (SP) acaba de publicar o livro “Um Grapiúna em Frankfurt e Outras Crônicas”, de Cyro de Mattos. Este é  o oitavo livro publicado neste ano pelo autor grapiúna, dessa vez reunindo 50 crônicas, umas inéditas e outras publicadas semanalmente no “Diário Bahia”.  A edição contou com o apoio cultural da LIDI, Laboratório de Análises Clínicas de Itabuna.

Com este livro, o autor grapiúna amplia sua obra já numerosa, constituída de mais de 40 livros. Segundo o poeta Álvaro Alves de Faria, “o poeta deixou que passasse à sua frente esse tempo que ainda vive no que guarda da sua criação da Beleza, buscando lá atrás as cenas que ainda existem, porque fazem a história de cada dia. Por isso tudo, este livro é obra rara no vale de lágrimas destes tempos brasileiros que só invertem os  valores e isso inclui também a literatura, que deveria ser a identidade de um povo”.

Com 75 anos, idade em que muitos já se aposentaram no ofício de escrever, o escritor Cyro de Mattos continua em plena criação literária e, no próximo ano, publicará mais seis livros: os infantis  “Existe  Bicho  Bobo?” (Editora  Biruta, SP),  “Poesia de Calça Curta” (Editora Solisluna, Salvador)  “Olhe  Nós Aqui” (Editora Dimensão, BH), “Minha Feira Tudo Tem Como Onda Vai Vem” (Editora Ler, Brasília), o romance juvenil “Nada Era Melhor” (Biruta) e o romance para adultos “Os Ventos Gemedores” (Editora Letra Selvagem, SP). Além disso, a Editora da Universidade do Estado da Bahia  publicará a segunda edição de “Cancioneiro do Cacau”, de Cyro de Mattos,  na Coleção Nordestina, livro com que o autor obteve quatro expressivos prêmios literários, três no Brasil e um no exterior.

Regularização Fundiária

Dezembro 12, 2013

Por Renato Nalini

O problema de terras no Brasil é uma das políticas públicas mais graves e mais urgentes. É um dos entraves ao incremento da economia local e, mais importante do que isso, dificulta a fruição do direito à moradia, esteriliza a função social da propriedade, acelera o êxodo rural e contribui para a sensível redução da qualidade de vida. 

Um quarto da população brasileira sente os problemas da ausência de higidez registraria, ou seja, os ocupantes ou possuidores de inúmeras áreas não são, juridicamente, seus proprietários. A gravidade da situação não distingue entre áreas rurais e urbanas. Em relação às cidades, a vontade constituinte sinalizou que o tema está a merecer tratamento sério. Além da fundamentalização do direito à moradia, antes mesmo disso os artigos 182 e 183 do pacto mostravam a importância do acesso à pacificação registaria. Depois veio o Estatuto das Cidades, o Programa “Minha Casa, Minha Vida” e o Poder Judiciário de São Paulo não poderia permanecer alheio.

A Corregedoria Geral da Justiça, como órgão de orientação técnica, fiscalizador e controlador do funcionamento das delegações extrajudiciais, os antigos “cartórios”, editou dois Provimentos que facilitaram a tutela dos direitos reais impedidos de se abrigar na segurança do fólio.

A regularização fundiária rural não foi esquecida pela Corregedoria. O tema será exposto de forma autônoma. Todavia, o caminho a percorrer é longo e necessita do protagonismo de todos os atores. Para o enfrentamento consistente de uma questão antiga, complexa e sensível, é preciso que todos se empenhem na edificação de um consenso despreconceituoso e desapegado de superados paradigmas.

Já passou da hora em que União, Estado e Municípios, Ministério Público e Defensoria, OAB, Registradores de Imóveis, líderes comunitários, moradores, ONGs e mídia venham a se sentar e a adotar estratégias mais ousadas, criativas e eficientes para avançar nessa política pública.

O resultado será um forte incremento na economia interna e, o que é muito mais importante, uma inclusão cidadã de milhões de patrícios desprotegidos e órfãos da proteção jurídica em área de nevralgia extrema.

Homenagem a Forbela Espança

Dezembro 12, 2013

downloadA poeta portuguesa Florbela Espanca será homenageada durante toda a semana do dia 8 a 14 de dezembro, com saraus diários, das 19hás 21h30/22h00, na Casa de Portugal.

Na abertura do evento, no domingo, houve a apresentação do monólogo Florbela Espanca – A hora que passa, com direção de Fabio Brandi Torres, pesquisa e atuação de Lorenna Mesquita e dramaturgia de ambos. Ainda no mesmo dia, a atriz apresentou ao público presente o poema inédito “Riso Amargo”, um dos seis poemas descobertos recentemente e divulgados, no último dia 6, em Lisboa. A apresentação foi acompanhada de fados tocados ao vivo pelo violonista Thomaz Marra.

A programação da Semana Florbela Espanca segue diariamente, até sábado, com Saraus de poemas e cartas, sempre acompanhados por música ao vivo. Todo dia uma nova programação. 

Serviço:

Data: 14 de dezembro 2013

Horário: 19 horas

Local: Casa de Portugal – Av. Liberdade, 602

Entrada franca.

O mundinho das palavras

Dezembro 11, 2013

Por Nilto MacielImagem Texto nilton maciel

Dos objetos de arte recebidos no final de novembro de 2013, uns deixei a dormir na estante; com outros fiquei horas. Se os carteiros não entrarem em greve e se eu ainda fizer parte do clube dos leitores abençoados por Deus, espero ganhar muitos outros, até o último minuto deste ano. E preencher mais algumas linhas de meu caderno de inutilidades.

Hoje devotarei duas folhas a dois deles: No osso: crônicas selecionadas (Rio de Janeiro: Cais Pharoux, 2012), de Alexandre Brandão; e Metacrônica (Fortaleza: Armazém da Cultura, 2013), de Simone Pessoa. Entreguei-me a eles por duas noites. Na terceira, dirigi-me à casa de Cleto Milani: “Venho trazer-lhe um presente, meu velho sátiro”. Ele só faltou se ajoelhar aos meus pés. “Leia tudo. Quando se der por satisfeito, vá à minha vivenda. Para longa conversa, assuntos não faltarão”. No quarto dia, rabisquei alguns pareceres a respeito desse gênero cada vez mais polimorfo. No quinto, ele me telefonou: “Estou boquiaberto”. No sexto dia, se disse extasiado. Ou terá sido extenuado? No sétimo, deu-se a visita dele ao meu refúgio. Varamos a tarde em conversa fiada. À noite, garatujei este relato e dei por acabada (pronta) a nossa obra. Iniciava-se mais um sábado.

Mal nos acomodamos no sofá, escorri a mão pelo queixo (a barba, por fazer, me deixava nervoso): “Esse Alexandre Brandão domina a arte de escrever. E não me refiro apenas à correção gramatical, que isso se aprende cedo na escola. Ou se aprendia. Sem receio ou preconceito, ele aborda todos os temas. Vai de brincadeira gostosa com as palavras (em ‘O mundinho das palavras’ – quanta criatividade!) até visitas aos dias antigos, às casas da infância, às pessoas de seu convívio. Passeia, despreocupadamente, pelos vastos salões das palavras, das ideias, dos fatos, das gentes: ‘Nesse instante, chegamos ao subúrbio de nós mesmos, onde reciclamos o que somos’ (p. 23). Porta-se como o flâneursereno e, ao mesmo tempo, alerta aos movimentos do mundo”.

O ancião se coçou todo. Ansiava por soltar o verbo: “O bom desses textos é a leveza; se pesados, se tornam muito sérios, viram contos, poemas ou descambam na direção de outro gênero”. Completei o pensamento dele: “Só não gosto da facilidade com que alguns buscam o caminho da piada. Na presunção de alguns cronistas, o leitor está sempre disposto a rir de tudo. E então cometem os mais graves pecados inerentes aos redatores: tornam-se ridículos. Veja a leveza da pena de Brandão: ‘Tive, em menino, um cachorro independente, vagabundo da melhor estirpe. Esteve em minha casa por uns bons dez anos e nunca tomou banho. Se ouvia a palavra água, fugia’ (p. 95). Isso, sim, é arte”. E ainda me fiz de professor: “A crônica é como prostituta de calçada. Oferece-se ao mundo inteiro. Quem tiver dinheiro, aceitará o convite. Mais um passo, e cairá aos pés da vulgaridade”.

Desconfio de mim, quando evoco o nome de Simone Pessoa. O resenhista sorriu, malicioso: “Por que, seu Nilto?” Além de sermos amigos, a editora de sua seleta é a mesma dos meus aranzéis. Pois há outro catatau de minha autoria em fase de acabamento no Armazém da Cultura. O vovô se alegrou: “Então deixe comigo”. Deixei e ele se entusiasmou: “Metacrônica está aparentemente bonito…” Repliquei: “Está porque é. E não é só ele. Todos os impressos do Armazém têm boa aparência e acabamento gráfico de primeira”. Cleto se mostrou zangado, como se eu o tivesse advertido. Não tive pena dele e libertei todos os elogios guardados na gaveta.

Nas abas, ‘A Editora’ (será Albanisa Dummar?) fez observações capitais: referiu-se à linguagem de Simone (‘fluente, ágil, dotada da força da eletricidade e de uma mansidão rara’…) e dos assuntos por ela tratados: ‘tão variados e, paradoxalmente, tão semelhantes’. E fez outras ponderações: Simone é aquele ‘tipo raro de escritor – aquele capaz de ir em todas as direções possíveis sem jamais perder seu próprio rumo, sua própria voz’. Quem tem editora assim não precisa de editor, nem de prefaciador ou apresentador. Ousei completar o palpite: “A crônica não precisa ser leve à maneira de poeminha de menina nem se aproximar demasiadamente da anedota. E Simone consegue fugir dessa tentação. Lida com matérias diversas, atenta ao significado das palavras: ‘Sempre me encantei com o poder da palavra, sobretudo o da palavra escrita’”.

Ainda nos faltava reler o prefácio, minúsculo texto do gaúcho Paulo Bentancur. Então me atrevi a encerrar a tarde assim: “A linguagem de Simone é usual, de todos nós (exceto dos narcisistas radicais), sem afetação de literato metido a inovador ou revolucionário. Existem uns malucos preocupados com dedicar todo o tempo possível a arquitetar tramas verbais tão enigmáticas quanto a formação do Universo. Na opinião de Simone, o artista maior é a Natureza”.

O visitante arrumava papéis, canetas, óculos: “Acabou?” Quis vê-lo afobado: “Não, não acabei; ainda tenciono consagrar dez minutos ao…” Saltei do sofá, no afã de assustar o velhinho. Ou de me acordar. Pois, salvo engano, essas horas de leituras e discussões não passaram de sonho. Ou teremos sonhado ambos, eu e o escrevinhador, com Simone, suas peripécias verbais, seus modos peripatéticos de abordar os tópicos de abelha a zebra? Sei lá.