Arquivo de Novembro 2010

Descobrimentos: O NAVEGADOR CRISTÓVÃO COLOMBO SERIA PORTUGUÊS

Novembro 30, 2010

João Alves das Neves (*)

Entre as várias hipóteses aventadas sobre a naturalidade de Cristóvão Colombo, destaca-se a de Génova, mas falta a documentação comprovante. E a de Barcelona é ainda mais fantasiosa. 

Se fosse indiscutível a primeira dedução, porque é que ele não sabia falar e muito menos escrever alguns dos dialectos genoveses, já que o idioma que ele usou mais vezes foi o português e, depois, o velho castelhano, pois foi ao serviço dos Reis Católicos que ele consumou as viagens à América – o Rei D. João II de Portugal recusara o projecto, por saber que o caminho marítimo para as Índias era pelo Atlântico Sul e depois através do Índico. E tinha razão conforme o demonstrou Vasco da Gama.

Entretanto, retomemos o começo e os portugueses dominavam as rotas atlânticas – e se não foram mais cedo à Índia e ao Brasil foi por respeitarem cronologicamente definidas as suas rotas de viagens. E se estas exigiam coragem, o resto tinha sido previamente traçado, porquanto os castelhanos seguiam na babugem lusitana e os outros europeus (da França,  Inglaterra,  Holanda,   Itália e  Inglaterra, todos à volta com convulsões independentistas), limitavam-se a espionar em Lisboa (leia-se Jaime Cortesão) os projectos, os mapas e as inconfidências de alguns traidores, porque, como disse Camões, entre os portugueses,  traidores houve algumas vezes…

Em relação a Colombo (nome talvez suposto), pode admitir-se que ele seria plebeu (como insinuam os genoveses), na falta de comprovação documentada, nem tão pouco o judeu de documentação, nem Lisboa (Fevereiro de 1479) e, como está provado – o grande navegador apesar de não ter chegado à Índia – casou com D. Filipa Moniz Perestrelo, que foi Donatária da Ilha de Porto Santo, de quem teve o primogênito D. Diogo. Colombo (ou Colom) teve mais tarde outros dois filhos da espanhola Beatriz Torquemada, mas não chegou a casar-se com ela).

Entre mais de uma dezena de livros que pudemos compulsar em Lisboa, nos últimos meses – Cristóvão Colom, o Almirante de Nobre Estirpe, de autoria da historiadora Julieta Marques, e Colombo Português de Manuel Rosa, os dois autores juntam-se aos especialistas que defendem a tese de que Cristão Colombo nasceu em Cuba, no Alentejo de Portugal.  (Voltaremos ao assunto).

(*) O articulista é escritor português e vive em São Paulo, agradecendo novos subsídios;

Posfácio do Livro “O jardim foi-se” de Beatriz Alcântara

Novembro 30, 2010

Por Beatriz Alcântara

Um, mais outro e outro, acabei no Twitter.

VALEU. Na Medina de Fez, um olho grafitando avisa o espaço recolhido. Escapo de trombar com uma mula em disparada e sua carga. Apanho o close, penso, não é apenas uma pichação, interessante!

Em Portugal, a caminho da aldeia dos meus avós na Beira, apeio-me em Côja para comprar pão e broa, quando reparo numa câmara de vigilância, spray rosa-shocking junto à fonte e, mais adiante, o mesmo desenho, num laranja forte, encimando os contentores de lixo reciclável.

PRONTO, passo a ficar cativa das intervenções urbanas. Em Fortaleza todas as caixas telefônicas coloridas pelos jatos de tinta eu as fotografo. No Rio de Janeiro encanto-me com a traça ardilosa das cabeças de frade a impedirem o estacionamento nas calçadas do Leblon.

Na Bahia apercebo-me que simultâneo à arte marginal, o grafismo pode tornar-se aliado de empresas em mural de obra. Contudo, essa arte neófita, ao registrar o momento em sua efemeridade converte-se numa real intervenção urbana, sem importar onde venha a revelar-se, desde o momento desafiante junto ao Muro de Berlim à mais prosaica parede metropolitana nesta primeira década do século XXI.

VIAJEI, quando a curiosidade levou-me à interação com o Twitter, eu, uma devota proustiana, em êxtase com a escrita instantânea, abreviada! Desafiei-me a uma realização literária a partir da linguagem curto limite. Revistas de grande circulação provocavam escritores em concursos de minicontos com até 1.500 caracteres. A Academia Brasileira de Letras incitou ficcionistas a escreverem microcontos de até 140 caracteres para Concurso entre aderentes do diário social abreviado.

De janeiro a junho de 2010 escrevi e reescrevi todos os contos desse livro que intitulei O Jardim Foi-se. Ao leitor o enigma, comigo Combroy. Um círculo da compreensão melhor poderá dizer da proposta em unir estas duas realidades do momento que vivemos,

CELEBRAÇÃO inusitada do instante: intervenções urbanas e acolhimento pela escrita instantânea, curta – minicontos e microcontos.

O Jardim Foi-se, minha ficção minimalista, vigor que me renovou, apesar do pessimismo que o viver em nossos dias impõe.

A Magia Bomfiniana

Novembro 30, 2010

Por Renato Nalini
Presidente Academia Paulista de Letras

Se a humanidade nem sempre está atenta às primícias que de quando em quando ela produz, há exceções que propiciam retomada do credo nas criaturas.

Uma delas é o amor que envolvem pessoa e obra do poeta Paulo Bomfim.

Ele merece em vida a reverência carinhosa de uma legião de devotos. Reconhecem eles a qualidade de sua obra e a suprema excelência da matéria-prima de que o seu ser foi composto.

A genialidade não se caracteriza, inevitavelmente, pela beleza de caráter. Quanta vez o talento compartilha a miséria da condição humana.

Em PAULO BOMFIM, o casamento é perfeito. Poeta arrebatador em espírito sedutor. Erudição e singeleza. Beleza e generosidade em doses olímpicas.

Sobre sua obra e personalidade, se pode invocar Schiller, quando observa:

Um homem pode nos agradar por sua prontidão para servir; ele pode, por meio de seu discurso, nos dar assunto sobre o qual pensar; ele pode, por meio de sua personalidade, encher-nos de respeito; mas, por fim, ele também pode, independentemente de tudo isso, e sem levarmos em consideração, ao julgá-lo, qualquer lei ou propósito, simplesmente nos agradar quando o contemplamos e pela simples maneira de seu ser. Sob esta qualidade nomeada por último, nos o estamos julgando esteticamente.

Felizes somos nós que podemos partilhar da vida e obra de PAULO BOMFIM, no convívio fraterno que é um dos maiores dons que a Providência pode reservar aos viventes.

Sorvamos e nos deliciemos com a poética magia Bomfiniana.

A Presidente Dilma

Novembro 30, 2010

Por Ives Gandra Martins 

Não votei em Dilma. Votei em Serra. Não gostei de sua postura – nem da do Presidente Lula – durante a campanha, parecendo mais uma marionete produzida pelos marqueteiros do Presidente. Não a via como pessoa ou como líder, mas como um boneco que reagia puxada pelos cordéis de seu manipulador.

Foi, portanto, com todas as restrições possíveis, que me preparei para ouvir o seu primeiro pronunciamento como presidente eleita.

Fui surpreendido pela sua tranquilidade, coerência e propostas para seu futuro governo. De rigor, não discordei de nenhuma delas.

De início, impressionou-me a segurança com que falou sobre a guerra cambial, a necessidade de manter o câmbio flutuante, de fortalecer o empreendorismo – sempre falou em “empreendedor” antes de “trabalhador”, em clara sinalização de que não tem vocação para o que Chávez está fazendo na Venezuela -, de manter o crescimento do PIB, de tornar eficiente a esclerosada máquina pública – o termo esclerosada não foi por ela utilizado – de prestigiar relações internacionais, principalmente com os parceiros mais importantes, com altivez, abrindo espaços para o desenvolvimento nacional. Não deixou de manifestar-se sobre a questão social, erradicação da miséria, sem, todavia, referir-se às preconceituosas teses das 521 proposições do PNDH3. Ao contrário, reiterou que a liberdade de imprensa é sagrada, em oposição ao referido plano.

Mostrou, por outro lado, sensibilidade. Comoveu-se, como qualquer pessoa sinceramente grata, ao falar do Presidente Lula, demonstrando que já não era um produto de marqueteiros, mas um ser humano consciente de suas responsabilidades, em face do apoio recebido de pouco mais de metade dos eleitores brasileiros (teve 55 milhões de votos contra 43 milhões de seu opositor).

Em duas entrevistas, no dia seguinte, reiterou o mesmo tom calmo e humano e as mesmas idéias, em duas entrevistas para a TV Globo e TV Record.

À evidência, causou-me – e a muitos dos que não votaram nela – excelente impressão, uma sensação de alívio e fundadas esperanças de que faça um governo competente, severo com a corrupção e com o fisiologismo, abrindo perspectivas de crescimento para o povo brasileiro.

Não se referiu aos fracassos econômicos dos aliados bolivarianos, até porque seu discurso não seria encampado pelo histriônico Presidente Chávez, especialista em destruir a economia venezuelana, ao eliminar empreendedores, gerar inflação, queda do PIB, descumprir contratos, promover desapropriações e um início de caos social no país. A omissão pode ter sido sinalização de que o Brasil, para ela, é mais importante do que acariciar o ego de aprendizes de ditadores.

Falou em redução de tributos e de juros, em simplificação do sistema, razão pela qual tenho eu a esperança de que não ceda ao retorno da CPMF – principalmente levando-se em consideração que, apesar de a arrecadação ter subido duas CPMFs, desde a extinção desse tributo, não houve qualquer implemento para a saúde, mas sim dos benefícios destinados aos detentores do poder (burocratas e políticos) , em nível de subsídios e aposentadorias. O déficit da aposentadoria oficial federal (mais ou menos950.000 servidores) é de 47 bilhões de reais , contra 43 bilhões dos 23 milhões de aposentadorias do setor não governamental!!!

Por outro lado, o inchaço da máquina foi uma das maiores características dos últimos tempos, não através da porta constitucional dos concursos públicos, mas dos cargos em comissão para acomodar políticos e amigos.

Neste ponto, foi muito clara a mensagem: nada de compadrio ou ineficiência no serviço público, seja de aliados ou opositores. Aliás, a queda dos juros só será possível , se houver uma redução sensível do custo da máquina administrativa, pois uma das maiores causas da inflação é o “déficit público”.

Aos 75 anos de idade, 53 de advocacia e magistério –sou apenas advogado e professor, nunca aceitei qualquer cargo público, nem quando convidado para cargos de relevo – confesso que fiquei bem impressionado com as primeiras manifestações, apesar de ser um cético em relação aos efeitos que produz o exercício do poder, como escrevi no meu livro “Uma breve Teoria do Poder”. E entendo que todos os brasileiros “não governamentais” devem dar um voto de confiança à nova presidente, sem abdicar do direito, sagrado em uma democracia, de criticar tudo aquilo que entendam não dizer respeito aos interesses do País.

Turistas em Sampa

Novembro 30, 2010

Por Dalila Telles Veras

Voltamos há pouco de uma curta/longa viagem. Uma vez mais, turistas na própria terra. Hotel nos arredores da Paulista, caixa impessoal de vidro e concreto. Só há vida no Lobby, onde seres se cruzam, incomunicáveis, nas suas línguas diversas. Babel fonética e incompreensível. A cidade vista do 18º andar é cinza e calada.

No rés do chão, o burburinho da vida verdadeira.

Andar a pé – anonimato. Olhar. Sentir a cidade pulsante e seus seres solitários. Escondem-se uns, enfeitam-se outros, exposição em busca de alguns trocados para o sobreviver:

O MASP, pela ousadia das artes da arte, bordado de nuvens, em ponto-cruz:

Surpreender-se com o Natal (ou a representação consumista do Natal) já à porta, embrulhado para presente:

 Vidas na corda bamba empoleiradas, formigas laboriosas, estruturas provisórias, nas quais a cidade sequer repara

 Ao mundo pós-moderno só a monumentalidade e o espetáculo despertam o olhar. (dtv)

 As pequenas coisas, são pequenas coisas e não foram incorporadas pelo sistema (dtv)