Archive for the ‘Poemas & Poesias’ category

NATAL OCULTO

Dezembro 19, 2014

Por Beatriz Alcântara

 A noite venceu o dia e

a madrugada anunciou

que sobre as trevas

um raiou de sol nascia,

a esperança gerada pela fé.

O tempo venceu os séculos

e a tecnologia anunciou

a felicidade pelo consumo.

O desperdício quase seca a água e

a humanidade não achou serenidade.

O Natal Feliz está oculto

nas luzes do universo,

nas fitas de um DNA incerto.

Somos pequenos demais

para desvendarmos a paz

e frágeis, não reconhecemos

na crença em Deus,

a esperança gerada na fé.

Eu Creio Nessa Canção

Dezembro 17, 2014

por Cyro de Mattos

Por que os homens

Amam a droga

E não da abelha

Os favos de mel?

 

Por que os homens

Amam as balas

E não a paz

Sem nenhum fuzil?

 

Por que os homens

Só enxergam o chão

E não a estrela

Em seus caminhos?

 

Por que os homens

Perfuram a rosa

Com a ponta aguda

E mais dura do espinho?

 

Viver amargos,

Viver sozinhos,

Viver nos escombros,

Viver na vida desigual,

Viver dos horrores

Repetidos no holocausto

É do que os homens gostam?

 

Mas eu creio nessa manhã

Anunciada agora nas espumas

Dessas águas que passam.

Nos balões sobe e em flores

Puxa o dia pela cauda.

Quando chega a noite,

Espalha o amor no céu.

 

Eu gosto de ouvir nesta hora

Essa canção que me afaga

Falando duma união geral,

Que viver vale a pena

Quando a vida é uma dança

Com os homens como irmãos

No doce fruto da ternura,

No doce fruto da alegria

Sorrindo como criança.

SONHO DE PIÁ

Dezembro 16, 2014

Por Marilene Machado

Três guapos, rei magos da pampa,
um Iíndio velho, um Negro e um quase Branco,
campereavam pé no estribo em upa/upa,
perseguindo uma estrelita bem gaudéria,
que tinha um facho, iluminado, na garupa,

Venceram terras, invernadas, freguesias,
campos e sesmarias, léguas de caiboaté,
prá espiarem a estrela apear sua alegria,
nas frinchas de um galpão de santa-fé.

Achegam-se de carona, estes queras ,tão sem medo,
a-lá-putcha, (gritam eles), descobrimos um segredo,
é deus menino, anunciado, despilchado em um pelego.

Campechanos e caudilhos, cristãos por gosto e de Fé,
chimarreando contam causos , prá mãe Maria e José,
proseiam com Deus menino,afinam viola e palheiro,
chamando de Piá gaucho, o patrão deste pampa inteiro.

E foram índios e tropeiros,
que apadrinharam o Piá,
que nasceu nesta querência,
que foi chamado Jesus,
mas que no céu, foi morar.

Lançamento: “Mulher Oblíqua”

Dezembro 12, 2014

 

 

 

Por Beatriz Alcântara

Mulher Oblíqua Convite 2014 12 09

Abraça-me

Dezembro 3, 2014

por Saulo Krichanã Rodrigues

Abraça-me,
Como da primeira vez em que nos abraçamos;
Preciso sentir mais do que o seu corpo,
Preciso saber se ainda estás comigo,
Se ainda somos um do outro, como sempre fomos.

Abraça-me,
Como da primeira vez que senti o perfume do desejo,
Necessito morrer e reviver mil vezes se preciso,
Eis que o seu abraço é ao mesmo tempo o porto e a despedida,
A chegada e o riso, o choro e a saudade.

Abraça-me,
Como se fosse a última vez e como a vez primeira,
Mas abrace a minha alma de verdade,
Como se juntássemos em nós uma só criatura,
Pois preciso saber se ainda nos pertencemos.

Abraça-me,
Nem que seja um abraço de adeus para eu lembra-me sempre,
Capaz de reter por anos o calor quando a sua ausência se fizer mais que doída,
Abraça-me e nada fale, apenas me arrebate,
Para que em mim permaneças, quente, como o sol da tarde…

LÁGRIMAS OCULTAS

Novembro 11, 2014

Por Clariesse Barata Sanches

“Se me ponho a cismar em outras eras”

Em que ri e cantei, em que era querida,

Parece-me-que foi noutras esferas,

Parece-me que foi numa outra vida…

FLOBELA ESPANCA

Texto Clarise

 GLOSA

“Se me ponho a pensar em outras eras”,

Medito nessa vida, com Saudades

De sonhos encantados e quimeras,

Aonde eu via só felicidades!

  

Hoje choro de penas e de amor

“Em que ri e cantei, em que era querida”,

E via o meu Jesus em cada flor

A decorar no campo, a linda Ermida!

 Agora, sinto penas e, deveras,

Meu cérebro já cheio de memórias,

” Perece-me que foi noutras esferas”

E que tudo o que digo são histórias!

Mas não. Eu via amigos e abraços

A dizerem-me adeus na despedida

A com flores, até, no meu regaço,

” Parece-me que foi numa outra Vida.”

Poeta de Verdade

Outubro 2, 2014

Por Cyro de Mattos

Ao  fazer  o mapeamento da poesia brasileira no século XX, o crítico e romancista Assis Brasil solicitou-me nomes da região cacaueira  para figurar na antologia que estava organizando dedicada à Bahia. Indiquei Valdelice Soares Pinheiro, Walker Luna, Carlos Roberto Santos Araújo e Firmino Rocha. Na antologia  A Poesia Baiana no Século XX (1999),  Assis Brasil transcreveu trecho do comentário que lhe enviei sobre a poesia de Valdelice Soares Pinheiro. “Trata-se de um poeta que elabora sua poesia com uma linguagem  despojada”, eu disse, “projetando no texto contido uma visão de mundo preocupada com a condição humana. Poesia que só um poeta questionador, dotado de instrumental filosófico plasmado numa alma sensível, poderia compor”.

Em Itabuna, chão de minhas raízes (1996), antologia por mim organizada, reuni  poetas e prosadores itabunenses e, na breve nota biobibliográfica de Valdelice Soares Pinheiro, chamei a atenção para esse poeta. Anos depois a poeta de Itabuna seria inserida como verbete no monumental Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras (Editora Escrituras, São Paulo, 2001), de Nelly Novaes Coelho, por recomendação nossa.

A poesia de Valdelice Soares Pinheiro não precisa de abonos para ser reconhecida, tem em si mesma seu valor, no qual ela se mostra com equilíbrio e expressividade. O motivo que me levou a aboná-la nas situações mencionadas é porque tive a oportunidade de fazê-lo, levando-se principalmente em conta o fato  de que a poeta publicou em vida apenas dois pequenos livros, em edição particular e limitada, e por isso  estava fadada a ser  mais um dos inúmeros poetas da província cuja tendência  poderia ser a de continuar no anonimato.

No começo da década de 1990,  em texto divulgado no jornal A Tarde, lembrei-me de reverenciar a memória de Valdelice Soares Pinheiro e de outros poetas nascidos na região cacaueira baiana, como Telmo Padilha, Florisvaldo Mattos e Firmino Rocha, apresentando-os naquela antologia de Itabuna, editada em 1996.

Filha de Vital Alves Pinheiro e Mariana Soares Pinheiro, desbravadores da região cacaueira baiana, Valdelice Soares Pinheiro nasceu em Itabuna, Bahia, no dia 24 de janeiro de 1929, e desde pequena teve educação esmerada. O curso primário fez nos colégios  Ateneu e Saraiva, em Itabuna. Mudando-se para Ilhéus, vai cursar o ginasial e o magistério no Colégio Nossa Senhora da Piedade e Colégio Municipal, respectivamente. O licenciamento em Filosofia obtém na Universidade Católica do Rio Grande do Sul. De volta à Bahia,  começa a lecionar Estética e Ontologia na Universidade  de Santa Cruz, no sul do Estado.

Deixou um rico legado poético, e uma parte dele, constituída de  anotações e sessenta e três poemas,  teve publicação crítica pela Universidade Estadual de Santa Cruz, no livro A expressão poética de Valdelice Soares Pinheiro, em 2002, reunindo estudos de alunos, sob a  coordenação da Professora Doutora Maria de Lourdes Netto Simões.

Este livro motivou  o artigo  A Expressão Poética de Valdelice Pinheiro em Resgate – Simplicidade: Liberdade de Ser, da professora universitária  Mari Guimarães Sousa, apresentado no VIII Seminário Nacional: Mulher e Literatura, Anais, Instituto de Letras e Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher, na Universidade Federal da Bahia – Salvador, BA, 2000, e a dissertação de mestrado O Canto da Cigarra: A Poesia Cósmica e Existencialista de Valdelice Pinheiro, de Nayanara Tavares Moreira, apresentada na Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, em 2007.

Com O Canto Contido, volume sob minha coordenação,  que reúne os dois livros De dentro de mim e Pacto, e poemas esparsos inseridos em antologias, de Valdelice Soares Pinheiro,  procuro contribuir  para a  circulação da  poesia publicada em vida por um dos poetas expressivos da Bahia. E, assim, fazer com que seja mais estudado e conhecido por um número maior de leitores, pois se trata de um poeta de verdade.

 Vadelice Soares Pinheiro  faleceu em Itabuna, no dia  29 de agosto de 1993.

Nossos pais

Agosto 11, 2014

por Saulo Krichanã Rodrigues

Porque eles nunca nos deixaram de amar, apesar de nossas zangas;
Porque eles nunca nos deixaram de afagar, ainda que com eles brigássemos;
Porque eles nunca nos deixaram de animar, quando já tínhamos cansado;
Porque eles nunca nos deixaram de querer, nem quando os deixamos sós.

Porque eles nunca quiseram o nosso mal, nem nos deixaram chorar sem um consolo;
Porque eles nunca nos deixaram partir, sem que nos dessem um beijo;
Porque eles nunca nos deixaram de falar, nem quando não quiséssemos ouvi-los;
Porque eles nunca nos deixaram sair das suas vidas,

No entanto, de alguma forma (que eu não sei bem) como,
Eles parecem estar aqui, em todo o canto e gesto: são sempre onipresentes;
Nem que seja neste perfume de vida que, nos domingos, exala.

Devem estar ao lado dos anjos da guarda que nos ensinaram a crer;
Ou na brisa que, de repente, o nosso nome parece ter chamado;
Bendito sejam eles: nos dias que só existem, porque por suas lembranças, jamais ficarão vazias, as nossas vidas.

NOVAS TROVAS

Agosto 6, 2014

Por Francisco Miguel de Moura

 Qual o segredo da trova?

Não sei, ninguém saberá,

Visto que ela se renova

No “dois pra lá, dois pra cá”.

Saudade é coisinha boa

Se o amor não se demora,

Pois logo a saudade voa

E acaba o peso na hora.

Minhas mãos são vagarosas,

Meu pensamento é viageiro,

Pensando agarrar as rosas,

Pego os espinhos primeiro.

Não fico triste por isto,

Pois há tempo não escrevo.

Faço, risco e me despisto:

Um castigo que não devo.

Beber nunca foi preciso,

Senão amor e poesia,

Na mulher e seu sorriso,

Toda a noite e todo o dia.

Não sei o que há comigo,

Às vezes me dá horror,

Se amo, penso em castigo,

Se odeio, penso em amor.

Quem abraça com carinho,

Bem apertando nos braços,

Bebe uma taça de vinho,

Do mal espanta seus laços.

Não percamos nossa fé

Por qualquer coisa que venha,

A virtude não dá ré,

Quando o fogo acende a lenha.

Acostumado ao soneto,

Sinto-me um pouco amarrado,

Não ponho os olhos no teto:

Medo de ser apanhado.

São bem fracas minhas trovas,

Poderiam ser melhores,

Com filosofias novas

E o arco-íres nas cores.

 

SALAZAR

Julho 23, 2014

Por Fernando Pessoa

António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular…
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
……
Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Pica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu…
……
Coitadinho
do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho…
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.
Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.