Tudo vai para o lixo

Por Nilto Maciel

ImagemAs pessoas de poucos rabiscos (ou nenhum) costumam agredir as mais fecundas e dedicadas ao exercício de alinhar palavras (chamam-nas corretamente de prolíficas, mas querem mesmo é achincalhá-las) com frases assim: “O que vale é a qualidade; quem redige muito, o faz porque ainda não encontrou o próprio caminho”. Não vejo assim. A maioria dos bons escritores criou para lá de uma dezena de obras. E mais teria feito, se mais longa vida tivesse tido. Citemos apenas uma dúzia (só brasileiros do final do século XIX até o XX): José de Alencar, Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Graciliano Ramos, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Lygia Fagundes Telles. Poderia mencionar dezenas de dúzias, mas diriam os incansáveis intrigueiros: “Ah, esses não são titulares, são do time reserva”. Enquanto isso, contam-se nos dedos os escritores de obra escassa (um ou dois livros pequenos): Augusto dos Anjos é o mais famoso deles.  Bem conhecido também é Raul de Leoni. Se se quiser ampliar o número, é preciso dizer que quase todos morreram jovens, razão pela qual (talvez) conceberam pouco. Cruz e Sousa seria um deles.

Como pertenço ao time da maioria (embora não seja torcedor de Flamengo, Corinthians e Ceará), também componho com certa assiduidade. Não tanto quanto gostaria de ter fiado e de rascunhar. Meus amigos reclamam: “Você escreve demais, Nilto. Pare um pouco e vá rever suas publicações. Ou vá ler”.

Não parei nem pretendo parar tão cedo. Quero engendrar mais crônicas (sobre livros e escritores), resenhas dos livros que me doam, contos para formar mais um conjunto e outro romance. Ontem fiz uma averiguação e fiquei surpreso: de outubro do ano passado até agora contei 24 crônicas ou resenhas; de dezembro de 2011 a hoje foram 17 contos; de janeiro deste até agora, cinco capítulos (cerca de 100 linhas cada) de um romance planejado para ter cerca de 3.000 linhas.

Os mais azedos completam a arenga: “Para que sujar tanto papel, se irá tudo para o lixo?” Ora, tudo vai para o lixo (o esquecimento). Nossos pais foram ou irão. Depois seremos nós. Mais adiante (ou logo), nossos filhos e netos. E, como se nos acreditássemos eternos, não deixamos (os humanos) de fazê-los e amá-los.


Para desespero deles (dos maldizentes), preparo-me este ano para mais três publicações: os contos de A fina areia das dunas(vencedor de edital da Secretaria da Cultura do Ceará), as crônicas de Como me tornei imortal (pelo Armazém da Cultura, que recentemente reeditou meu romance Os guerreiros de Monte-mor) e os artigos de Gregotins de desaprendiz (pela Editora Bestiário, que editou meus contos reunidos em dois volumes — faltam mais dois ou três —, o romance Carnavalha e as narrativas de A leste da morte).

Enquanto isso, dou retoques num romance escrito entre 2010/2012, organizo meus poemas inéditos (talvez os reúna aos deNavegador); um tomo de pequenos artigos (Pedrinhas de brilhante); umas crônicas-resenhas (Fogo e magma); minhas memórias (Como surgiram Palma e seus habitantes); e a segunda parte dos artigos (Segundos exercícios). Em andamento, o que chamo provisoriamente de Novas prosas (artigos, resenhas e crônicas), além dos contos novos e de um romance (ambos ainda sem título).

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20 comentários em “Tudo vai para o lixo”


  1. Meu comentário não varia: Você, Nilto, é um excelente escritor. Parar? Nem pensar!!!!!
    Um beijão
    Maria Lindgren

  2. Waldemar José Solha ( W. J. Solha) Says:

    Fico feliz por vê-lo expandindo sua mídia, Nilto. Mais ainda ao vê-lo produzindo como louco, sempre com seu padrão altíssimo de qualidade.

    W. J. Solha.

  3. Oleg Almeida Says:

    Escreva mais, amigo, não desista nem por um minuto! A quantidade jamais exclui a qualidade, sobretudo quando se escreve por vocação e prazer e não por dinheiro. Mesmo que algo desapareça ao longo do tempo, muita coisa fica: esta é uma das considerações que consolam o escritor do fato de ser mortal. E quanto à produção literária intensa, lembremos mais dois nomes da mesma época, mas de origem europeia: Tolstoi e Dickens. Acho que neste quesito os comentários são prescindíveis.


  4. um abraço, nilto!

    ronald augusto


  5. Bravo Nilto Maciel,
    gostei demais de sua mensagem nesta crônica certeira.Manda brasa para os farofeiros e preguiçosos.
    Abraços
    Francisco Miguel de Moura

  6. jorge pieiro Says:

    eu guardo tudo, por enquanto, pois não gosto de lixo (seus, de seus, meus e de outrem)… Um dia, certamente, tudo será pó, inclusive nós Isto basta!

  7. Alberto Bresciani Says:

    Os seus escritos nunca são demais! Por favor, continue!

  8. carlos galeno Says:

    quem disse que vai para o lixo os seus escritos ? o lixo é deposito natural das coisas descartaveis, o que é bom é perecivel e guardado na memória. e seus escritos o são.

    abç do Galeno


  9. Querido Nilto, tudo vai para o lixo, águas, detritos, vida –. menos a palavra que encontra certeiro o leitor. E a sua tem encontrado, não é mesmo?
    Aquele grande abraço,
    do amigo e admirador Marco.

  10. João Carlos Taveira Says:

    Meu amigo Nilto Maciel, não há por que parar de escrever, se a vida pulsa e a imaginação fustiga. Nenhum criador descansa, nem mesmo Deus, pois o universo continua em processo de expansão. Sem falar na vida, esse sopro de luz a caminho do infinito. Continue firme em sua fiação, em sua tecelagem, pois, nós, seus leitores, sabemos o quanto isto significa. E lembre-se sempre de Santa Teresa de Ávila: “muero porque no muero”. O que vai para o lixo é da natureza da matéria, que é pó e ao pó voltará. Bem, acho que é só. Grande e fraterno abraço. J. C. Taveira (28.2.2013)

  11. Clauder Arcanjo Says:

    Não pare, Nilto! Se você parar, prometo, vou me inscrever no Big Brother. Não me faça passar por essa vergonha, viu?!

  12. Vadim Kopyl Says:

    Sorte!
    Siga escrevendo!
    V.A.Kopyl


  13. Nilto,há muitas pessoas que há muito deveriam parar de escrever e não fariam falta nenhuma Você,pelo contrário, sabe fazê-lo e o faz com paixão. Tudo se transforma em lixo, é fato,mas alguns merecem reciclagem constante.Continue com sua boa produção!

    Assis Coelho.

  14. Araceli Says:

    Oi, Nilto, nós, leitores, ficaríamos no prejuízo se você ouvisse o que esses “alucinados” dizem…assim, digo como os colegas dos comentários acima: não pare nunca mesmo…a palavra é o grande tesouro da humanidade e você está deixando sua herança! Abraço e muuuuuiiiito sucesso nessa vida!


  15. Nilto, Que prazer saber de sua produtividade e lançamentos próximos…PARABÉNS!
    Eu também vejo-me criticada pelo excesso de acrósticos, já ultrapassei o total de seis mil e mais de 500 sonetos clássicos sáficos-heróicos, em 42 livros publicados (rsrssr) Família, Amigos criticam-me pelo excesso…NÃO NOS IMPORTEMOS,,, Sigamos nossas inspirações…Boa Sorte! Saúde e Paz! Se puder confira minhas obras em SILVIA ARAUJO MOTTA-TEXTOS -perfil -NO RECANTO DAS LETRAS.Um grande abraço, Silvia/Belo Horizonte/Minas Gerais/Brasil

  16. Carenina Says:

    Sem comentários, este escritor perfeito até na simplicidade do ser!!!

  17. Belvedere Bruno Says:

    Nilto Maciel, você é o Cara! Aguardo ansiosa seus lançamentos. Não pare. Nunca. Que gente invejosa, Vixe Santa!


  18. Nilto Maciel-Companheiro Recantista,Compreendo perfeitamente seu desabafo, pois na simplicidade dos meus [seis mil acrósticos e 400 sonetos sáficos-heróicos] já ouvi de [amigos…e de acadêmicos que pouco escrevem]:[ _O que vale é a qualidade e não a quantidade!] Ainda bem aprendi com meus pais que devo fazer só o que gosto, portanto não dou ouvidos aos que me apresentam críticas destrutivas…Você é um grande escritor e não se deixe picar e arrepiar por idéias de insetos invejosos ou de críticos sem competência. Vá em frente e desejo-lhe que continue sua obra imortal! Um grande abraço, Silvia Araújo Motta.Parabéns!
    clubedalinguaport@gmail.com


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