Reabilitação rodriguiana

Por Renato Nalini

Quando eu era criança, Nelson Rodrigues era proibido. Quando adolescente, ele era considerado vulgar. De repente, foi resgatado como autor importante, um dos poucos escritores que o Brasil não esqueceu. Este ano se comemora seu centenário, pois nasceu no Recife em 23 de agosto de 1912, registrado Nelson Falcão Rodrigues e morreu amado e admirado em 21 de dezembro de 1980.

Ele sabia que estava a mexer em vespeiro quando escreveu “Vestido de Noiva”, em 1943. Por isso usou pseudônimo: Suzana Flag. Conhecia bem a alma brasileira. Suas frases o eternizaram. Quem não repetiu mais de uma vez “toda unanimidade é burra”? Há outras menos conhecidas: “a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakesperiana”.

Sua obra é permanente. Bárbara Heliodora, severa crítica teatral, diz que pelo menos 4 de suas peças tendem a se eternizar, como Shakespeare. São “Vestido de Noiva”, “Boca de Ouro”, “A Falecida” e “O Beijo no Asfalto”. Seu humor ácido não hesitou em colocar o nome de um amigo numa peça: “Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Resende”.

Suas provocações estão em seus aforismos: “A companhia de um paulista é a pior forma de solidão”, “Só os profetas enxergam o óbvio”, “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. “Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo”. “Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma”, “Nada nos humilha tanto como a coragem alheia”, “Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral”, “O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro.

Que Brasil formidável seria o Brasil se  brasileiro gostasse do brasileiro”, “Acho a liberdade mais importante que o pão”, “No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte”, “A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia”, “Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância”. “Não há ninguém mais vago, mais irrelevante, mais contínuo do que o ex-ministro”, “Jovens: envelheçam rapidamente!” e “Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista”. Salve Grande Nelson!

Fonte: http://renatonalini.wordpress.com/

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