Posfácio do Livro “O jardim foi-se” de Beatriz Alcântara

Por Beatriz Alcântara

Um, mais outro e outro, acabei no Twitter.

VALEU. Na Medina de Fez, um olho grafitando avisa o espaço recolhido. Escapo de trombar com uma mula em disparada e sua carga. Apanho o close, penso, não é apenas uma pichação, interessante!

Em Portugal, a caminho da aldeia dos meus avós na Beira, apeio-me em Côja para comprar pão e broa, quando reparo numa câmara de vigilância, spray rosa-shocking junto à fonte e, mais adiante, o mesmo desenho, num laranja forte, encimando os contentores de lixo reciclável.

PRONTO, passo a ficar cativa das intervenções urbanas. Em Fortaleza todas as caixas telefônicas coloridas pelos jatos de tinta eu as fotografo. No Rio de Janeiro encanto-me com a traça ardilosa das cabeças de frade a impedirem o estacionamento nas calçadas do Leblon.

Na Bahia apercebo-me que simultâneo à arte marginal, o grafismo pode tornar-se aliado de empresas em mural de obra. Contudo, essa arte neófita, ao registrar o momento em sua efemeridade converte-se numa real intervenção urbana, sem importar onde venha a revelar-se, desde o momento desafiante junto ao Muro de Berlim à mais prosaica parede metropolitana nesta primeira década do século XXI.

VIAJEI, quando a curiosidade levou-me à interação com o Twitter, eu, uma devota proustiana, em êxtase com a escrita instantânea, abreviada! Desafiei-me a uma realização literária a partir da linguagem curto limite. Revistas de grande circulação provocavam escritores em concursos de minicontos com até 1.500 caracteres. A Academia Brasileira de Letras incitou ficcionistas a escreverem microcontos de até 140 caracteres para Concurso entre aderentes do diário social abreviado.

De janeiro a junho de 2010 escrevi e reescrevi todos os contos desse livro que intitulei O Jardim Foi-se. Ao leitor o enigma, comigo Combroy. Um círculo da compreensão melhor poderá dizer da proposta em unir estas duas realidades do momento que vivemos,

CELEBRAÇÃO inusitada do instante: intervenções urbanas e acolhimento pela escrita instantânea, curta – minicontos e microcontos.

O Jardim Foi-se, minha ficção minimalista, vigor que me renovou, apesar do pessimismo que o viver em nossos dias impõe.

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